Para os profissionais de saúde, as ligações sobrecarregam principalmente
o trabalho dos técnicos do atendimento telefônico.
Nos últimos cinco anos, o Samu
(Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) recebeu mais de 238 trotes por dia
apenas na região metropolitana de São Paulo. Neste período, 435.050 das
9.652.402 ligações atendidas eram trotes, ou seja, 4,5% do total. São mais de
87 mil por ano. O levantamento exclusivo do R7 contabilizou os
números das 39 prefeituras que compõem esta região. É importante ressaltar que
alguns municípios não possuem este serviço de emergência ou o sistema
informatizado para somar as ligações recebidas nos últimos anos, por isso os
números podem ser maiores. O trote pode parecer uma brincadeira descontraída
para crianças e adultos, mas pode colocar a vida de pacientes em risco e
prejudicar o trabalho dos atendentes. Para os profissionais de saúde ouvidos
pelo R7,
essas ligações falsas atrapalham, principalmente, o fluxo de trabalho nas
centrais de atendimento, além de sobrecarregar o trabalho dos operadores de
telefone. "Enquanto o funcionário está atendendo essas pessoas [que passam
trotes], pacientes em estado grave deixam de ser acolhidos", critica
Admilson Máximo dos Santos, coordenador médico da central de regulação do Samu
de São Paulo. Como funciona o Samu? Qualquer
pessoa pode acionar o Samu ligando para o 192. O serviço é gratuito e funciona
24 horas. O atendimento começa pelo telefone, quando os técnicos identificam o
tipo de emergência e coletam as primeiras informações da vítima. Em
seguida, as chamadas são direcionadas aos médicos e enfermeiros reguladores,
que prestam orientações de socorro. Caso julguem necessário, uma ambulância é
encaminhada para o endereço do paciente. Segundo o Ministério da Saúde, o
acionamento do resgate é apenas disponibilizado para vítimas em alguma situação
de urgência ou emergência que possa levar a sofrimento, a sequelas ou até mesmo
à morte. São consideradas urgências situações, por exemplo, de natureza
clínica, cirúrgica, obstétrica e pediátrica. Pandemia Analisando
os dados entre 2018 e 2022, é possível perceber uma queda drástica do número de
trotes no período da pandemia. Em 2019, foram contabilizadas mais de 117.992
ligações. Enquanto no ano seguinte, o número caiu para 60.738 (-48,5%). Para
o médico Caio Genovez Medina, diretor do Departamento de Atenção
Hospitalar, Urgências e Emergências de São Bernardo do Campo, durante a
pandemia, a imagem do sistema público de saúde,inclusive do Samu, ficou mais
simpática a população. "Os serviços ficaram muito sobrecarregados, o que
pode ter contribuído para essa sensibilização frente ao cenário da Covid",
afirma. A enfermeira Soraia Barros, responsável pelo núcleo de educação e
estatística do Samu de Taboão da Serra, também aponta que o perfil das ligações
mudou durante a pandemia. "Em 2020, as pessoas deixaram de acionar o Samu
para ocorrências simples como dor de barriga, dor de dente, quedas no interior
da casa".Em 2019, a cidade de Taboão da Serra, por exemplo, recebeu 5.782
trotes. Enquanto, em 2020 e 2021 (anos de pandemia), o número caiu para 3.738 e
3.165, respectivamente. Além do aumento da gravidade das solicitações, a
adoção de medidas sanitárias de combate à Covid, como a restrição de circulação
da população e o fechamento de comércio pelo governo estadual, influenciou na
queda de acidentes nas cidades e, consequentemente, o número de ligações para o
Samu, de acordo com Barros. Identificação de
ligações Segundo os profissionais de saúde, a maioria dos trotes são
identificados por meio das ligações telefônicas, na primeira etapa de
atendimento. São raras as ocasiões nas quais uma ambulância é despachada ao
endereço da falsa solicitação. Entretanto, provocam sobrecarga de trabalho nas
centrais de atendimento. Ao R7, a enfermeira do núcleo de
educação e estatística do Samu de Taboão da Serra explicou que os técnicos
conseguem identificar os trotes quando o solicitante não sabe transmitir informações
básicas como o endereço, dizem coisas aleatórias ou percebem a voz de
crianças. O médico Caio Genovez Medina também contou que o município
de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, recebe trotes de crianças, que
costumam fazer as ligações depois de voltar da escola, e até mesmo de maníacos
sexuais que assediam as funcionárias."Eles [os técnicos do atendimento
telefônico] são muito bons e bem treinados. Às vezes no primeiro ‘alô’, já
sabem que é um trote. Não há muito gasto com essas ligações, mas há um desgaste
grande dos funcionários", afirma Medina. Adultos
também passam trotes Diferente do cenário esperado, na capital paulista, os adultos
são os que mais passam trotes para o serviço de emergência. Em 2019, o
Samu recebeu 87.837 trotes, sendo 66.109 realizados por adultos e 21.728 por
crianças. No ano de 2020, foram 37.792 ligações falsas, sendo 25.603 e
12.189, respectivamente. Enquanto, em 2021, foram atendidos 72.368, sendo
39.507 e 32.861. De acordo com o coordenador médico da central de
regulação do Samu de São Paulo, a pandemia alterou os tipos de serviços e
chamados. "Todo mundo ficou mais confinado. As crianças eram mais vigiadas
e não tinham acesso tão livre ao telefone, enquanto o adulto pode
extravasar", aponta. Trote é crime Passar
trotes aos serviços de emergência é um crime previsto pelo artigo 266 do Código
Penal. O infrator pode pegar de um a seis meses de prisão. Crianças e
adolescentes também podem ser punidos. "O ato prejudica o atendimento às
ocorrências emergenciais verídicas. Esses episódios colocam vidas em risco ao
congestionar o sistema e direcionar equipes para locais sem ocorrências, o que
pode ser agravado pelas distâncias que precisam ser percorridas numa cidade com
as dimensões de capital paulista", complementa a Prefeitura de São Paulo. Quando chamar o Samu? - Na ocorrência de
problemas cardio-respiratórios;- Intoxicação exógena e envenenamento;-
Queimaduras graves;- Na ocorrência de maus tratos;- Trabalhos de parto em que
haja risco de morte da mãe ou do feto;- Em tentativas de suicídio;- Crises
hipertensivas e dores no peito de aparecimento súbito;- Quando houver
acidentes/traumas com vítimas;- Afogamentos;- Choque elétrico;- Acidentes com
produtos perigosos;- Suspeita de Infarto ou AVC (alteração súbita na fala,
perda de força em um lado do corpo e desvio da comissura labial são os sintomas
mais comuns);- Agressão por arma de fogo ou arma branca;- Soterramento,
Desabamento; - Crises Convulsivas;- Transferência inter-hospitalar de doentes
graves;- Outras situações consideradas de urgência ou emergência, com risco de
morte, sequela ou sofrimento intenso.( Fonte R 7 Noticias Brasil)
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