Ao perceber que
vivia uma relação abusiva, ela procurou ajuda médica e foi encaminhada à
assistência no Cepav Margarida.
Um ato de
violência pode acontecer em segundos ou durar anos. São consequências físicas e
psicológicas que podem afetar as vítimas pelo resto da vida. A decisão de
denunciar e procurar ajuda é um passo que pede, no mínimo, coragem. Por isso, a
caminhada entre identificar as agressões e buscar apoio demanda acompanhamento
e zelo de profissionais preparados. Atenta a essas sensibilidades, a Secretaria
de Saúde (SES) oferece serviços especializados e preparados para acolher e
amparar pessoas em situação de violência. Ao procurar os serviços das 17
unidades do Centro de Especialidade para Atenção às Pessoas em Situação de
Violência Sexual, Familiar e Doméstica (Cepav), a pessoa é acolhida e passa por
uma conversa inicial. Esse contato pode ocorrer por uma busca espontânea ou por
encaminhamento de outros órgãos, como hospitais e emergências, unidades básicas
de saúde (UBSs), delegacias de atendimento à mulher (Deam I e II) e conselhos
tutelares. A professora Rosana (nome fictídio), 55, lecionou por muito tempo,
mas conta que teve a carreira e a vida seriamente prejudicadas pela violência
doméstica. Ao perceber que vivia uma relação abusiva, ela procurou ajuda médica
e foi encaminhada à assistência no Cepav Margarida. “Quando você vive episódios
de violência, o seu organismo como um todo fica debilitado de diversas formas.
É um sofrimento tão intenso, que a gente não consegue nem organizar os próprios
pensamentos”, desabafa Rosana. Com a ajuda do centro, a professora pôde
alcançar a segurança e o apoio de que precisava. “No momento em que eu pisei
aqui e tive o primeiro contato, senti como se o governo tivesse me segurado no
colo e falado: ‘vamos resgatar a sua vida, nós estamos com você’”, descreve. Etapas do acolhimento No
contato inicial, a equipe realiza um trabalho de escuta para entender a
situação da paciente e identificar os tipos de cuidados físicos e psíquicos
necessários. A partir dessa avaliação, começa o que os profissionais chamam de
“primeira fase” do tratamento. Essa etapa consiste em atendimentos individuais
agendados, preferencialmente em sessões quinzenais, junto à equipe do Cepav,
composta por assistentes sociais, psicólogos, enfermeiros, clínicos gerais e
ginecologistas. “Muitas vezes é difícil de assimilar que você é vítima de
violência doméstica. A partir do momento em que você é acolhida aqui, as
pessoas te ouvem e você alcança o primeiro passo: o de reconhecer a situação em
que estava vivendo e ter seus sentimentos validados”, relata Rosana. Com a
evolução do tratamento, os profissionais do centro começam a próxima etapa:
reuniões em grupo para os pacientes em atendimento na unidade. Os bate-papos
são temáticos e acompanhados de atividades criativas. O objetivo é encorajar a
troca de histórias e reforçar o conhecimento sobre os tipos de violência, os
canais de denúncia, os direitos da mulher e do cidadão e os locais onde
procurar ajuda. A assistente social Guaia Monteiro Siqueira, que atende em dois
centros especializados, explica que os encontros grupais são o carro-chefe do
serviço. “Com discussões sobre o medo, a culpa, os limites, a autopercepção e a
autoestima, por exemplo, incentivamos os pacientes a trabalhar os verdadeiros
focos: a nomeação, a ressignificação, a interrupção e, por fim, a superação da
violência”, reforça. Frente às dificuldades que podem afligir as vítimas e as
marcas que a violência deixa como rastro, há preocupação da equipe em realizar
uma busca ativa e, assim, garantir que os pacientes compareçam às consultas,
participem dos encontros e não deixem o tratamento no meio do caminho. Nesse
último caso, são oferecidas alternativas, como remarcação de horários e
consultas virtuais. O tratamento dura, geralmente, de seis meses a um ano, a
depender das especificidades de cada paciente, com possibilidade de um período
maior, se os profissionais e a vítima acharem necessário. Com pouco menos de um
ano de tratamento no Cepav, após passar por todo o processo, Rosana recebeu
alta das sessões individuais e grupais. Atualmente, ela faz acompanhamento
apenas com o médico da equipe e afirma que a passagem pelo centro foi um
divisor de águas. “Hoje, eu me sinto mais fortalecida, mais segura e
esperançosa, sabendo que meu futuro pertence a mim e que ele vale a pena”,
comemora. O desejo dela é que as demais pessoas em situação de violência tenham
conhecimento do serviço gratuito oferecido gratuitamente pela saúde pública e
saibam onde buscar auxílio. “Procurar ajuda profissional é fundamental. Contar
com amigos e familiares é importante, mas não é o mesmo que o acompanhamento de
especialistas das áreas relacionadas, como a saúde e a segurança”, reforça. Cada flor, um amparo As
unidades do Cepav do DF são coordenadas pelo Núcleo de Prevenção e Assistência
a Situações de Violência (Nupav), que também se divide em unidades,e amparados
pela recém-estipulada Rede de Atenção às Pessoas em Situação de Violência do DF
(RAV). Com nomes de flores e plantas, as unidades oferecem acompanhamento a
todos que buscarem ou forem encaminhados ao serviço. Alguns, inclusive, atendem
a públicos específicos, como o Cepav Jasmim, que recebe crianças e adolescentes
ofensores. Já o Caliandra, situado no Adolescentro, fornece apoio aos
adolescentes vítimas de violência, e o Cepav Alecrim, por sua vez, recebe
adultos ofensores encaminhados pelo Judiciário. O cuidado, contudo, não termina
quando a vítima recebe alta do tratamento, esclarece a chefe do Nupav da Região
Central de Saúde, Sônia Inácio dos Santos Rodrigues. “A equipe tem o zelo de
encaminhar os pacientes para vinculação na UBS de referência ou no Caps e
ambulatórios de psiquiatria, se necessário”, explica. Para ela, é preciso entender que a violência traz inúmeras
consequências na vida. “Por isso, é fundamental continuar o trabalho em rede e
tratar a violência como uma questão de saúde pública, para garantir o
atendimento integral e humanizado à nossa população”, pontua. Confira
aqui os locais e horários de funcionamento das unidades do Cepav e saiba onde e
como buscar ajuda.( Fonte Jornal de Brasília Noticias ) *Com informações da
Agência Brasília