Dados oficiais do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) mostram que houve aumento de roubos ao longo de 2024 em 16 distritos, a maioria na zona oeste da cidade. A redução no geral foi de 13,6%, com 115.172 roubos na capital no passado, contra 133.324 contados em 2023.
FOLHAPRESS) - Casal de moradores do bairro Vila Nova Conceição,
na zona oeste de São Paulo, voltava a pé de um jantar a quatro quadras de
distância de casa quando foi interpelado por dois assaltantes em uma
motocicleta, exigindo seus celulares. As vítimas lembram que era uma noite
quente de agosto passado, e ainda havia bastante movimento na rua, quando foram
alvos de quatro tiros em uma ação que durou 32 segundos. O
marido foi atingido no peito, e a mulher, na perna. Os disparos só não foram
fatais porque os dois conseguiram correr para uma praça e se esconder entre
arbustos. A bala ficou a 0,6 centímetros do coração dele. Os bandidos foram
embora sem levar nada. O casal, que pediu para não ser identificado, relembrou
o trauma a caminho do aeroporto, na última quinta-feira (20). Estão de mudança
para a Europa, plano que já estava no radar da família, mas foi acelerado
diante do medo rotineiro que se traduziu em saídas esporádicas de casa e
instalação de sensor de movimento nas portas e janelas. Eles também contam que
se desfizeram do carro por "chamar atenção" de bandidos. Restrições
na rotina e mudanças drásticas de vida são relatos comuns de vítimas de
assaltos violentos, em que há agressão e disparos de arma de fogo. Em caso
recente em São Paulo, o ciclista Vitor Medrado não sobreviveu aos tiros à
queima-roupa em frente ao Parque do Povo. Na semana passada, uma médica levou
chutes e mordidas de um ladrão que levou sua aliança enquanto ela caminhava
pelo bairro onde mora. Dados oficiais do governo Tarcísio de Freitas
(Republicanos) mostram que houve aumento de roubos ao longo de 2024 em 16
distritos, a maioria na zona oeste da cidade. A redução no geral foi de 13,6%,
com 115.172 roubos na capital no passado, contra 133.324 contados em 2023. Frequentadora
da ciclovia do Rio Pinheiros, a gestora de negócios Tatiane Queiroz, 41, não
conseguiu retomar a rotina de treinos desde que foi assaltada enquanto pedalava,
há pouco mais de três meses. Ela conta que o ladrão, que vinha a pé na direção
contrária, pulou em cima dela e a derrubou da bicicleta, enquanto gritava
"perdeu, perdeu". O tombo a deixou com hematomas no corpo e receio de
ser atacada novamente. A bicicleta nova, presente do marido após o roubo,
continua parada no bicicletário do prédio. "Não consegui voltar, nunca
mais pedalei", diz. "Perdi a atividade física que eu mais
gostava." Nos casos do casal baleado e da ciclista, os bandidos foram
presos. Mesmo assim, a sensação de insegurança permanece. "Quando eu vejo
alguém na rua com as mesmas características dele, eu fico gelada na hora, me dá
um aperto no peito", diz Tatiane. Evitar situações e locais que remetam ao
episódio de violência é uma forma recorrente e quase instintiva de se proteger,
mas também representa um indício do desamparo a que a maioria das vítimas de
violência é submetida, segundo a promotora Celeste Leite dos Santos, presidente
do Instituto Pró-Vítima. "Essa pessoa passa a ter um problema de confiança
na sociedade, em si mesma e no próximo", diz. "Estamos criando a
sociedade do risco, do medo e da insegurança, quando se passa a não acreditar
que o estado tem capacidade de nos prover." Autora do Estatuto da Vítima,
em tramitação no Congresso, a promotora avalia que a falta de assistência
institucional faz com que essas pessoas sejam vistas pelas autoridades como
meras provas processuais em uma investigação criminal. Isso quando a atitude de
quem sofreu a violência não se torna alvo de questionamentos em juízo. "Existe
um movimento de analisar se a vítima é inocente, ou provocadora, ou ainda
alguém que não se protegeu devidamente", diz a promotora. "Admitindo
que vivemos em uma sociedade de risco, o estado deixa de ter a obrigação de
fornecer essa segurança se a vítima se expôs ao risco desnecessariamente."
Assim como o casal da Vila Nova Conceição e a frequentadora da ciclovia, o
autônomo Franklin Bruno Sousa, 28, lembra que demorou mais de um mês para sair
de casa sem medo após ser espancado por quatro bandidos que levaram seu celular
no largo do Arouche, no centro da capital, no ano passado. Ele conta que
voltava de um bar e parou em uma barraca de lanches a poucos metros de casa
quando foi atacado. "Tentei correr, mas não deu certo. Me bateram muito no
rosto e na cabeça, a cada soco eu apagava. Fiquei todo desfigurado", diz.
"Eu moro no centro há 20 anos, esse era o caminho para a minha escola e
até hoje sinto medo quando passo por lá." O autônomo diz que não procurou
ajuda profissional, apenas registrou um boletim de ocorrência e não teve mais
resposta da polícia, assim como ocorre com a maioria das vítimas, segundo a
psicóloga Maria Luiza Bullentini Facury. "O atendimento rápido é
importante, senão pode entrar num estado de depressão e desenvolver transtorno
de ansiedade generalizada em que qualquer pessoa que se aproxime pode ser vista
como agressor, além de criar fobias, o que repercute na qualidade de
vida." Além de encarar a rotina apesar do trauma, a falta de assistência
faz com que a vítima tenha medo de reconhecer o acusado ou comparecer às
audiências e, consequentemente, o réu é absolvido. Isso explica a alta
impunidade de roubos cometidos com violência. "Existe a interpretação
jurisprudencial de que o trabalho da polícia, isoladamente, não é prova. Tem
que repetir tudo em juízo, ou seja, isso é uma revitalização, uma violência
estatal", diz a promotora Celeste ao citar trecho do estatuto que altera
essa dinâmica. Por enquanto, um dos únicos serviços públicos que oferece ajuda
nesses casos é o Cravi (Centro de Referência de Apoio à Vítima), que reúne
equipe de psicólogos e assistentes sociais especializados em violência, com
sede na Barra Funda. Procurada, a secretaria da Segurança Pública do estado
informou que, em 2024, prendeu 72.561 infratores e que 5.911 armas foram
retiradas de circulação na capital e região metropolitana. O autor do ataque à
médica foi preso e a polícia segue na busca pelo comparsa, segundo a pasta. Leia
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