PEC que
torna acesso à água potável direito fundamental vai à Câmara.
O Senado aprovou nesta quarta-feira (31) a PEC 4/2018, proposta do ex-senador Jorge Viana
que inclui a água potável na lista de direitos e garantias fundamentais da
Constituição. O texto, que teve como relator o senador Jaques Wagner (PT-BA),
segue para a Câmara dos Deputados. A proposta foi aprovada pelos senadores por
unanimidade, pouco mais de uma semana após a celebração do Dia Mundial da Água,
comemorado em 22 de março. Ao comemorar o resultado da votação, Jaques Wagner
lembrou sua experiência com o Programa Água para Todos, lançado durante sua
gestão como governador da Bahia. — Vi a emoção de homens e mulheres de 50
a 60 anos, no semiárido baiano, que pela primeira vez viam jorrar água potável
nas torneiras de suas cozinhas ou em seus chuveiros. Vi a emoção de senhoras
que, com uma simples cisterna para guardar água da chuva, não mais precisariam
andar léguas para buscar água barrenta para cozinhar ou banhar seus filhos —
contou. Em seu parecer, Jaques Wagner cita a estimativa de que mais de 30
milhões de brasileiros não têm acesso a água tratada. Ele também argumenta que a
proposta vai contribuir para "instrumentalizar" os operadores do
Direito para a garantia desse recurso natural. Desafios O senador Jean
Paul Prates (PT-RN) declarou que a aprovação dessa proposta de emenda à
Constituição (PEC) é "meritória" e "muito relevante", mas
também destacou os desafios a serem enfrentados para transformar essa pauta em
realidade. — É importante salientar como é relevante o papel
governamental, o planejamento no nível governamental, e também no nível
comunitário, os comitês de águas, os comitês de bacias. Nós temos toda uma
estrutura para gerir; somos um país das águas. Estamos preparados para gerir
essa PEC que o senador Jaques Wagner hoje tão bem nos apresenta. Mas várias
áreas são afetadas pelo manejo, pela gestão das água: a área da saúde, a área
da agricultura e da pecuária, a área da alimentação, da indústria e da higiene,
a manutenção de equipamentos e das nossas próprias casas, a construção civil —
ressaltou ele. Para a senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP), o relator do texto
honrou o compromisso de reconhecer o direito fundamental dos brasileiros de
acesso à água potável. — Nós sabemos o quanto essa PEC vai ajudar a
acelerar medidas necessárias para incluir os 35 milhões de brasileiros que
ainda não têm acesso à água tratada. E a gente sabe que, infelizmente, em
relação ao saneamento básico, a situação é ainda mais delicada, porque 46% dos
esgotos gerados no país não são tratados. O acesso à água potável e ao
saneamento básico salva vidas, principalmente de bebês e crianças, além de
prevenir doenças perigosas e internações no SUS [Sistema Único de Saúde] —
disse ela. Pandemia Jaques Wagner também salientou que o
saneamento precário agravou a pandemia de covid-19. "Em um cenário no qual
cerca de 33 milhões de brasileiros e brasileiras não têm acesso ao
abastecimento de água potável, segundo dados do Sistema Nacional de Informações
Sobre Abastecimento de Água (SNIS), e 13,4 milhões de pessoas estão
desempregadas, enfrentar uma pandemia se torna uma missão praticamente
impossível". O relator observou que, na Região Norte, cerca de 45% da
população não conta com abastecimento de água tratada, situação que, segundo
ele, afeta quase 30% dos habitantes do Nordeste. Para Jaques Wagner, a má
qualidade da água consumida por muitos brasileiros e a sua oferta irregular são
questões ainda mais graves que a desigualdade regional no abastecimento. Universalização
Para o relator, a proposta aprovada no Senado reforça e consolida o direito de
acesso à água potável como um direito humano fundamental. “A
constitucionalização do direito à água potável no rol dos direitos e garantias
fundamentais é uma inovação importante para fortalecer o marco regulatório
doméstico e reforçar políticas públicas voltadas à universalização do acesso à
água no Brasil". Ele também afirma, em seu parecer, que essa medida é
fundamental para se “contrapor à tendência de privatização ou de elevação do
custo da água”, que dificulta seu acesso às populações economicamente mais
vulneráveis”. Território Jaques Wagner também diz, no parecer, que
"há situações em que o exercício do poder está associado ao domínio das
águas e ao controle sobre o seu acesso, implicando diretamente o
desenvolvimento local, a prevalência da fome e da pobreza, impedindo o bem-estar
da população. Portanto, é necessário que as nações estabeleçam marcos globais
de compartilhamento de recursos hídricos para evitar tais conflitos,
garantindo, assim, que todos os seres humanos tenham o direito de acesso à
água".(Fonte: Agência Senado)