Presidente prepara visita bilateral enquanto Ocidente
teme uma invasão da Rússia à Ucrânia.
O Palácio do Planalto
prepara uma viagem do presidente
Jair Bolsonaro à Rússia, marcada para fevereiro. A visita de estado
será realizada em meio a tensões entre o Kremlin — que há 22 anos está sob
comando de Vladimir Putin — e a Ucrânia. A escalada militar na fronteira
entre os dois países é acompanhada com receio pela União Europeia e pelos
Estados Unidos. Apesar do momento delicado na relação da Rússia como o
Ocidente, o Planalto não vê problemas com o "timing" da visita.
Interlocutores do presidente afirmam que talvez a visita não tivesse acontecido
nessa circustância de conflito durante a gestão de Donald Trump na Casa Branca,
a quem Bolsonaro é alinhado. Em ano eleitoral, Bolsonaro pretende
fazer uma viagem a um país influente, já que há críticas sobre o desempenho em
política internacional do presidente que foi afetado pela pandemia. Outro
objetivo político é angariar apoio para um assento permanente do Conselho de
Segurança da ONU. Neste ano, o Brasil voltou a ocupar uma cadeira provisória. Entre
os objetivos econômicos estão aumentar as vendas dos produtos brasileiros à
Rússia, especialmente no agronegócio, atrair investimentos russos na área de
petróleo e gás e a cooperação nas áreas espacial, cultural e militar. Para o
coordenador da graduação de Relações Internacionais do Ibmec-RJ, José Niemeyer,
a visita é importante, mas o momento é ruim: "Do ponto de vista das
Relações Internacionais, a visita faz sentido. É uma potência mundial e um
mercado importante para o Brasil. Mas na geoestratégia é perigoso e até
contraditório pois Putin
está prestes a invadir a Ucrânia e Bolsonaro era um aliado dos EUA sob Trump. Vai fazer
uma visita a um líder que confronta os EUA, a União Europeia e a Otan? O Brasil
não pode dispor de uma aliança com os EUA dessa maneira." Para o
professor há ainda outros riscos a Bolsonaro. "Desagradar o seu eleitorado
de raiz, por estar ao lado de um ex-comunista, ex-KGB. E desagradar os
liberais, já que a Rússia tem uma intervenção do Estado preponderante, com
privilégios de grupos privados, no que podemos chamar de comunismo de
mercado". Escalada de tensão Nesta terça-feira
(18), Reino Unido e Canadá decidiram enviar ajuda militar à Ucrânia por
entenderem que há risco real de uma invasão russa ao país. A Rússia, no
entanto, rejeita as alegações do Ocidente de que esteja se preparando para
invadir o território ucraniano, embora tenha mobilizado mais de 100 mil
soldados em direção à fronteira. Nesta segunda-feira (17), a Rússia enviou
tropas à Belarus, que também faz fronteira com a Ucrânia. Na
semana passada, reuniões entre a Otan (Organização do Tratado do Atlântico
Norte) e a Rússia terminaram sem acordo. A Rússia pede que a Otan pare de
avançar sobre territórios que acredita ser da sua área de influência e como
pressão sinaliza a possibilidade de instalação de bases nucleares na Venezuela
e em Cuba, que ficam próximos da costa estadunidense, o que acendeu um
alerta na Casa Branca. O conflito Rússia/Ucrânia dura décadas. Há exatos
30 anos, a União Soviética foi dissolvida com interesse da Rússia em controlar
a própria moeda e se manter em federação com seus vizinhos eslavos, mas a
Ucrânia decidiu pela independência em um referendo. O afastamento se
intensificou entre 2013/2014, quando a Ucrânia manifestou desejo de entrar na
União Europeia e na Otan. Como resposta, a Rússia anexou a Crimeia. Do
ponto de vista econômico, há o pano de fundo do fornecimento de gás para a
Europa. A Rússia fornece 40% do gás natural que abastece a União Europeia, e
parte desse gás passa por Belarus, Ucrânia e agora pelo gasoduto Nord Stream 2,
que leva o gás direntamente da Rússia para a Alemanha. As viagens de Bolsonaro Recém-eleito,
Bolsonaro estreou no cenário internacional no Fórum Econômico Mundial de Davos,
na Suíça, em janeiro de 2019. Ainda em 2019, antes da pandemia, ele esteve três
vezes nos Estados Unidos, ainda na gestão de Donald Trump, duas vezes do Japão
e duas vezes na Argentina. O presidente também foi ao Chile, a Israel, à China,
aos Emirados Árabes Unidos, ao Catar e à Arábia Saudita. Em 2020, em
função da pandemia, as viagens oficiais praticamente cessaram. Bolsonaro esteve
apenas na Índia, no Uruguai e nos Estados Unidos, quando encontrou com Trump
pela última vez e desembarcou no Brasil com parte da comitiva infectada pelo
novo coronavírus. No ano passado, Bolsonaro esteve no Equador, nos
Estados Unidos, na Itália e no Vaticano, voltou aos Emirados Árabes Unidos e ao
Catar e foi ao Barhein. Desde a eleição de Joe Biden, Bolsonaro não voltou aos
Estados Unidos. Para 2022, estão programadas, mas ainda nao
oficializadas, viagens de Bolsonaro ao Suriname, Guiana e, possivelmente,
Colômbia e Peru ainda em janeiro. Em fevereiro, ele vai à Rússia, à Polônia e à
Hungria.( Fonte R 7 Noticias Brasil)