Brasileiros no Reino Unido comemoram volta à normalidade.
Vacinação acelerada e queda nos números levaram país a reabrir a área
interna de bares e restaurantes nesta segunda-feira (17).
Após três meses de lockdown, o
Reino Unido está finalmente voltando aos ares da normalidade. O confinamento,
considerado o mais restrito até agora, teve início em 5 de janeiro e foi o
terceiro decretado pelo governo britânico desde o início da pandemia.
O país se encontra agora na segunda etapa de um plano governamental de quatro
estágios para aliviar a quarentena, que começou em 12 de março, com a
reabertura das escolas. Um mês depois, foi a vez de lojas consideradas não
essenciais e terraços de bares e restaurantes reabrirem as portas, com algumas
restrições. Os estabelecimentos devem voltar a funcionar também na área interna
nesta segunda-feira (17). Por fim, em 21 de junho, espera-se que o Reino Unido
retorne à normalidade por completo. A essa altura, devem ser retomados os
eventos de grande público, como shows, festas e jogos esportivos. Doze de
abril, a data que marcou a reabertura de terraços de bares e restaurantes, caiu
em plena segunda-feira — mas isso não impediu a população de sair às ruas
e comemorar o fim do lockdown. A mineira Ana Clara Rodrigues, 26 anos, que mora
em Londres há dois anos, encerrou o expediente por volta das 18h e foi direto
para um pub, estilo de bar muito comum no país. "Eu me senti muito bem.
Foi muito bom ver a cidade viva de novo, a Londres que eu conheci quando
cheguei aqui e que há mais de um ano não via direito. Deu uma sensação de
alívio, de que há uma luz no fim do túnel", afirma. "Ao mesmo
tempo, senti um certo desespero por ver aquele tanto de gente reunida no mesmo
lugar. Aqui em Londres as pessoas não costumam usar máscara ao ar livre como aí
no Brasil, então foi uma sensação um pouco agoniante", completa.O paulista
Thomas Cappellano, 25 anos, por sua vez, que há três anos também reside na
capital britânica, saiu naquele dia apenas para cortar o cabelo e ir à
academia. Apesar disso, ele confirma a versão de Ana Clara: os estabelecimentos
estavam lotados — e as pessoas, "enlouquecidas"."O terceiro
lockdown foi o pior de todos — não só para mim, mas para toda a população.
Estávamos no inverno, fez muito frio e nevou por muitos dias. No dia em que os
bares reabriram, parecia carnaval. Fazia tempo que não via algo assim",
diz. "As fotos dos jornais do dia seguinte eram chocantes: pessoas sem
camisa em um frio de 7 graus, todo mundo bêbado, comemorando. Foi uma
loucura." Números animadores Além
de o uso de máscara ser restrito ao transporte público e a estabelecimentos
como lojas e supermercados, Ana Clara e Thomas contam que as pessoas, de forma
geral, também relaxaram as medidas de distanciamento e higiene das mãos. Apesar
disso, eles acreditam que não há muito o que temer, uma vez que o país tem
registrado números bastante animadores. Em 9 de abril, a Inglaterra não
reportou nenhuma morte por covid-19 — a primeira vez que isso ocorreu
desde julho do ano passado. Em todo o Reino Unido, incluindo Escócia, País de
Gales e Irlanda do Norte, por sua vez, o número total foi de quatro óbitos. "Estou
me sentindo bastante segura aqui", afirma Ana Clara. "Os números
estão diminuindo, então fico bem mais tranquila. A única coisa que ainda me
fazem achar que estou em uma pandemia é o fato de estar trabalhando de casa e
não poder sair para certos lugares." "Hoje me sinto totalmente seguro
porque meus pais [que também moram em Londres] já se vacinaram", diz
Thomas. "Meu pai, que é do grupo de risco, já tomou as duas doses, e minha
mãe já tomou pelo menos a primeira. Então, para mim, a questão de sair se
tornou mais tranquila. Sei que ainda posso trazer o vírus para dentro de casa,
mas agora eles estão muito mais seguros." Para os brasileiros, a campanha
de vacinação do Reino Unido, que está consideravelmente avançada em comparação
com o resto da Europa, é uma das principais razões pelas quais o país chegou
aonde está atualmente. No momento, a nação está imunizando pessoas entre 30 e
35 anos e já tem 60% da população com mais de 18 anos pelo menos parcialmente
protegida contra a covid-19. "A vacinação está avançando muito
rapidamente, então acredito que daqui a um mês, já serei chamada", afirma
Ana Clara. "Como diz o meme, 'já estou com a roupa de ir', só esperando a
minha vez (risos).""Tem sido uma campanha maravilhosa", diz
Thomas. "Em grande parte, acredito que isso se deva a uma questão
política, que é o Brexit. Se ainda estivéssemos na União Europeia, estaria
demorando muito mais porque teríamos que comprar as vacinas como um
grupo." Ressalvas ao governo Tanto
Ana Clara quanto Thomas fazem ressalvas às políticas do governo no combate à
pandemia. No início da crise sanitária, o principal consultor científico do
governo, Patrick Vallance, sugeriu que parte da estratégia das autoridades era
gerenciar a propagação da infecção para tornar a população imune — a chamada
"imunidade de rebanho". Ele foi duramente criticado por
especialistas, em uma carta aberta que contou com a assinatura de 229
cientistas de universidades britânicas. À época, acreditava-se ainda que o uso
de máscaras, cientificamente comprovado no combate à covid-19, deveria ser
restrito somente a profissionais de saúde e outros grupos de risco. Dadas as
circunstâncias, a única orientação do primeiro-ministro Boris Johnson para
conter a propagação da doença era higienizar as mãos por 20 segundos, como orientam
os especialistas. "Acho que o Reino Unido demorou para acordar",
afirma Ana Clara. "Com o avanço da pandemia, o governo começou a mudar seu
posicionamento e passou a incentivar as pessoas a ficarem em casa e a usarem
máscara. Felizmente, a maioria abraçou a causa." "É certo que houve
muitos erros por parte do governo", diz Thomas. "Quando a OMS
declarou pandemia mundial, o Reino Unido foi um dos últimos a adotar o
lockdown. Por outro lado, não acho que a culpa seja inteiramente das
autoridades. Não adianta o governo colocar as medidas se as pessoas não
respeitam e tentam burlar a toda hora. Acredito que a melhora da pandemia se
deva mais ao governo do que à população. Mesmo tendo cometido muitos
erros no início, eles mudaram seu posicionamento e se planejaram para comprar
vacina." Expectativas para o futuro
Com a campanha de vacinação caminhando a passos largos, os números despencando
e a vida voltando à normalidade, as expectativas de Ana Clara e Thomas para os
próximos meses são altas. O único receio dos brasileiros é quanto às novas
variantes, sobretudo a indiana, que colocou as autoridades do mundo todo em
estado de alerta. "Londres é uma cidade que recebe pessoas do mundo todo e
tem uma comunidade indiana gigantesca", afirma Ana Clara. "A partir
do momento que as fronteiras passarem a reabrir para turistas, apesar de a
maioria da população estar vacinada, tenho medo do que possa acontecer." "Não
digo que estou 100% otimista porque é uma doença um pouco imprevisível",
diz Thomas. "Enquanto todos os países não controlarem a pandemia, novas
variantes vão continuar surgindo. Acho que a tendência é melhorar, mas
inevitavelmente, serão formados 'clubinhos' de países que já estão com a
pandemia controlada — do qual o Brasil, muito provavelmente, ficará de
fora."Ana Clara veio ao Brasil em dezembro do ano passado e ficou no país
por cerca de dois meses. Thomas, por outro lado, já está há três anos sem ver
os amigos e parte da família. Um reencontro que ainda deve demorar um pouco. "Em
5 de maio, o governo divulgou o travel corridor [lista de países classificados
por grupos de risco] e vi que Portugal está no grupo verde, isto é, não
apresenta risco. Isso significa que posso viajar sem ter que ficar em
quarentena obrigatória na volta", afirma."O Brasil, no outro extremo,
está no grupo vermelho. Se eu quisesse ir para aí, teria que desembolsar 1.750
libras [aproximadamente R$ 12.972] para ficar confinado por 10 dias em um
hotel. Não vale a pena. Por agora, meus planos são ficar por aqui e retomar
minhas atividades de lazer", completa. Ana Clara concorda — e ressalta
ainda que além do custo, se viesse ao Brasil, teria que ficar confinada dentro
de casa, sem a possibilidade de rever a família e os amigos. No momento, ela
espera apenas poder voltar a trabalhar presencialmente e que a vida retorne à
normalidade o mais breve possível. "Acho que morar fora torna tudo mais
intenso. Atravessar um lockdown estando fora do país de origem e longe da
família é certamente muito desafiador", diz. "Agora que conseguimos
deixar tudo isso para trás, meu foco é recuperar o tempo perdido e aproveitar
ao máximo minhas possibilidades."( Fonte R 7 Noticias