Decisão ocorre um dia depois de a Suprema Corte proibir
a estrutura central da entidade, que é a principal do país.
A justiça russa determinou nesta quarta-feira (29) a dissolução
do Centro de Direitos Humanos da Memorial, um dia depois da decisão da Suprema
Corte de proibir a estrutura central da ONG, que é a principal do país, o que
provocou indignação internacional.Depois de examinar o pedido do Ministério
Público, o juiz Mikhail Kazakov ordenou a dissolução do Centro de Direitos
Humanos da Memorial, que faz campanha contra os abusos dos direitos na Rússia
atual e também registrou a história das vítimas do stalinismo. Na terça-feira
(28), a justiça determinou o fechamento da Memorial International, a estrutura
central que coordena a rede da organização na Rússia, assim como de seus braços
regionais, ao alegar que a ONG não respeita as obrigações de seu
"status" de "agente estrangeiro". Esse rótulo, que recorda
o "inimigo do povo" do período da União Soviética, é reservado para
organizações que recebem financiamento internacional e que atuariam,
supostamente, contra os interesses russos. O MP acusou o Centro de Defesa dos
Direitos Humanos da Memorial de fazer apologia "do terrorismo e do
extremismo" e de violar a lei sobre "agentes estrangeiros" ao
não se identificar como tal. "Durante as últimas três décadas,
todas as nossas atividades foram direcionadas para proteger os cidadãos da
Rússia e os interesses do Estado russo", afirmou no tribunal o diretor do
centro, Alexander Sherkasov. "Evento
monstruoso" Analistas internacionais consideram que as autoridades russas
utilizam as acusações de extremismo e terrorismo para punir os críticos do
presidente Vladimir Putin.A Promotoria afirmou na terça-feira que a Memorial
cria uma "imagem falsa da URSS como um Estado terrorista e prejudica a
memória da Segunda Guerra Mundial".A perseguição contra a Memorial
International, que tem grande prestígio no Ocidente por seu papel de cronista
dos abusos na Rússia do período soviético até a atualidade, provocou indignação
no exterior."O fechamento da ONG mostra o medo do governo russo, que não
está mais disposto a tolerar um controle objetivo e honesto de seu
comportamento, como a Memorial fazia", afirmou o diretor executivo da ONG
Human Rights Watch, Kenneth Roth."Se o que vemos no espelho é horrível
demais, a resposta é mudar de comportamento, não quebrar o espelho",
acrescentou.O secretário de Estado americano, Antony Blinken, chamou o fechamento
da Memorial de "perseguição", enquanto o chefe da diplomacia da UE,
Josep Borrell, recordou que que "os olhares críticos ao passado são
essenciais para o desenvolvimento saudável e o progressos das sociedades".As
Nações Unidas afirmaram nesta quarta-feira que lamentam profundamente as
decisões da justiça russa de proibir a Memorial e afirmaram que essas medidas
"enfraquecem mais" a comunidade de defesa dos direitos humanos nesse
país."Lamentamos profundamente a decisão da Suprema Corte de fechar a
Memorial International e do tribunal de Moscou de fechar sua organização irmã,
o Centro de Direitos Humanos", disse à AFP uma porta-voz do escritório de
Direitos Humanos da ONU."Essas ações dissolvem dois dos grupos de defesa
de direitos humanos da Rússia mais respeitados e enfraquecem mais a comunidade
de direitos humanos em declínio do país", acrescentou.O Reino Unido também
acusou Moscou de sufocar a liberdade de expressão.A secretária das Relações
Exteriores do Reino Unido, Liz Truss, afirmou no Twitter que está
"profundamente preocupada" com as decisões desta semana para banir
Memorial, acrescentando que o grupo "trabalhou incansavelmente por
décadas" para garantir que abusos da era soviética nunca fossem esquecidos
e que "seu fechamento é outro golpe terrível à liberdade de expressão na
Rússia".As ações judiciais integram o clima de repressão crescente contra
aqueles considerados adversários do Kremlin, sejam ONGs, meios de comunicação
independentes ou o movimento do opositor preso Alexei Navalny, que foi proibido
em junho pela acusação de "extremismo".Fundada em 1989 por
dissidentes soviéticos, incluindo o ganhador do Prêmio Nobel da Paz Andrei
Sakharov, a Memorial jogou luz sobre os crimes stalinistas e os gulags e, após
a queda da União Soviética, também se comprometeu com a defesa dos direitos
humanos e das minorias na Rússia.Durante as duas guerras da Chechênia, nas
décadas de 1990 e 2000, relatou abusos cometidos pelas forças russas e por seus
aliados locais. Em 2009, sua diretora nesta região do Cáucaso foi assassinado
em um crime ainda não esclarecido.Apoiadores do trabalho da ONG consideram que
o Kremlin quer acabar com a entidade para silenciar a história em sua
estratégia de celebrar o heroísmo da União Soviética contra os nazistas e minimizar
as vítimas do stalinismo."Inclusive para os padrões de 2021, o fechamento
da Memorial é um evento extraordinário. Um evento monstruoso", afirma um
editorial do site independente de notícias Meduza.Em um comunicado divulgado na
terça-feira, a Memorial International anunciou que não pensava em jogar a
toalha."Vamos impugnar a decisão da Suprema Corte da Rússia de todas as
maneiras possíveis. E encontraremos formas legais de continuar nosso
trabalho", prometeu."A Memorial não é uma organização, nem mesmo um
movimento social. É a necessidade dos cidadãos da Rússia de conhecer a verdade
sobre seu trágico passado, sobre o destino de milhões de pessoas",
completa a nota.( Fonte R 7 Noticias Internacional)