Especialistas
defendem gestão e ensino integral contra evasão e perdas do ensino na pandemia.
Melhoria da gestão escolar, ensino em tempo
integral e acesso a novas tecnologias e à internet foram defendidos por
debatedores e senadores como algumas das estratégias a serem estabelecidas em
um plano nacional para reduzir a defasagem no aprendizado e a evasão escolar
causadas pela pandemia de covid-19. Durante audiência pública promovida pela
Subcomissão Temporária para o Acompanhamento da Educação na Pandemia, nesta
segunda-feira (23), eles sugeriram medidas como aumento da duração das aulas e
ampliação do tamanho das turmas para que as redes busquem recuperar os níveis
de aprendizado e de frequência escolar de 2019, antes da crise sanitária.
De acordo com o professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) Naércio
Menezes Filho, a pandemia agravou ainda mais as desigualdades na rede de
ensino, principalmente quando se analisa as condições sociais das famílias.
Entre os alunos de famílias mais pobres, além de muitos não terem realizado
nenhuma atividade presencial em 2020 e 2021, uma grande parcela ficou menos de
duas horas por dia fazendo atividades a distância, seja por falta de estrutura
em casa, seja por falta de acesso à internet ou mesmo desorganização da própria
rede escolar. Para recuperar esse cenário, Menezes defendeu como metas de
um plano nacional para toda a rede a melhoria da gestão escolar; alteração na
distribuição para os municípios da cota-parte dos recursos arrecadados com o
ICMS em cada estado; e o repasse de, no mínimo, 10% dos recursos públicos para
melhoria dos resultados de aprendizagem. Além disso, ele sugeriu usar a
Estratégia Saúde da Família (ESF) como ferramenta para se identificar e fazer
busca ativa de alunos em idade pré-escolar. — É um desafio imenso, as
redes não podem se furtar a tomar essas medidas. Temos que fazer avaliações de
saúde mental, de habilidades socioemocionais e de aprendizado numa
amostra do Brasil, com escolas públicas e privadas, rurais e urbanas, nas
diferentes regiões, para saber o que foi perdido de aprendizado no Brasil
durante a pandemia. Não podemos deixar essas crianças sem o reforço intensivo;
caso contrário, a "geração covid" vai se tornar cada vez mais
desigual, os jovens vão se tornar “nem-nem” [que não estudem nem trabalham],
haverá o aumento da informalidade, necessidade de novos programas
assistenciais, perda de produtividade e aumento da criminalidade. Então é muito
importante as redes terem a responsabilidade de recuperar o nível de
aprendizado e a frequência escolar que havia antes da pandemia —
argumentou. Ele ainda defendeu como estratégia o ensino integral e o uso
de novas tecnologias. No entanto, observou que a realidade de muitas unidades
não permite a implantação desse tipo de educação. Como alternativa, sugeriu o
uso da internet com acesso universal, além do aumento da duração das aulas
presenciais e do tamanho das turmas como forma de cumprir quatro anos letivos
entre os anos de 2022 e 2023. Caberia a cada rede de ensino a construção de um
plano de diagnóstico, acompanhamento, monitoramento, recuperação e
recomposição, de acordo com os desafios de cada uma delas. Congresso Para a senadora
Zenaide Maia (Pros-RN), o avanço em um plano para recuperação da aprendizagem e
dos alunos também passa pela não aprovação de projetos no Congresso Nacional
que, na visão dela, se caracterizam como um “ataque sistemático à educação
pública do país”. Segundo Zenaide, projetos como o que permitiu a entrada na
universidade privada, por meio do Prouni, de alunos que tenham cursado o ensino
médio na rede privada, com a dispensa da documentação comprovatória de renda
familiar; e a autorização do homeschooling (que autoriza a educação domiciliar,
já aprovado na Câmara), têm como objetivo retirar a destinação de recursos para
a rede de ensino público, isentando o Estado de sua responsabilidade na redução
das desigualdades na educação e na renda. — Esses projetos de lei
que estão aí assustam. Porque são projetos que aparentemente são
"salvadores da pátria", mas na verdade retiram aqueles recursos que,
obrigatoriamente, independente de que governo for, tem que repassar para
educação — disse. Nesse sentido, o presidente da subcomissão,
senador Flávio Arns (Podemos-PR), lembrou da importância de se alinhar todas as
metas do plano nacional com o envolvimento de todos os atores. — Vamos
nos articular com a mobilização de todas as forças, do Congresso, da sociedade,
a favor dessas ações. Convivência
As conversas regulares entre professores, diretores e rede de apoio às escolas
na realização de análises e diagnósticos, além da retomada da convivência e participação
do aluno no ambiente escolar, foram citadas como estratégias de recuperação do
aprendizado e de combate à evasão escolar pelo presidente da União Nacional dos
Dirigentes Municipais da Educação (Undime), Luiz Miguel Martins Garcia. Ele
informou que durante as sete rodadas de mapeamento realizadas pelo órgão sobre
o reflexo da pandemia nas unidades escolares, 95% dos respondentes informaram
que o ano letivo de 2021 foi concluído até dezembro de 2021. E 86% deles
responderam que o ano letivo de 2022 foi iniciado até fevereiro desde ano.Garcia
ressaltou, no entanto, que mesmo que praticamente todas as unidades tenham
declarado o retorno das atividades presenciais, é preciso levar em consideração
a especificidade de cada município e cada rede através dos diagnósticos
promovidos pelo ambiente escolar. — As soluções para os problemas
estão sendo encontradas no ambiente de cada unidade escolar, de cada turma, com
o professor fazendo interação com as famílias, com os alunos, e com os alunos
convivendo. Essa convivência foi o grande buraco que ficou e que, neste
momento, está sendo suprimida com essas retomadas — defendeu. Ele
ressaltou também a possibilidade de os gestores recorrerem à plataforma Busca
Ativa Escolar, desenvolvida pela Undime e pelo Unicef, que auxilia as redes de
ensino a trazer os alunos de volta para a escola.A audiência, que contou com a
participação da sociedade por meio do Portal
e-Cidadania, faz parte do ciclo de debates da comissão sobre a
garantia de acesso à educação a todos os estudantes na faixa etária obrigatória
e nas demais etapas de ensino. A subcomissão está construindo um documento como
sugestão de plano nacional com ferramentas para superar os desafios da educação
no pós-pandemia, priorizando programas de busca ativa para trazer os alunos de
volta à escola e reduzir a evasão escolar. Fonte: Agência Senado