Conflito no Leste Europeu aumentou preços dos alimentos que combatem a
desnutrição infantil em países do continente.
O conflito entre a Ucrânia e a
Rússia, que completou cinco meses no último domingo (24) e que não tem
perspectivas de cessar-fogo, afeta terrivelmente muitas crianças no norte do
Quênia. Isso ocorre porque a guerra aumenta os custos dos nutrientes que estão
presentes em uma pasta de amendoim muito usada para evitar a fome
infantil.O acesso ao alimento pode significar a diferença entre a vida e a
morte para uma criança na devastada Marsabit, onde trabalhadores humanitários
dizem que crianças pequenas estão morrendo em condições próximas à fome. Se
ficarmos sem [a pasta de amendoim], haverá mais mortes muito em breve",
alerta James Jarso, da organização World Vision, referindo-se aos pacotes
distribuídos por grupos humanitários e ao vilarejo isolado de Purapul.O momento
não poderia ser pior. Enquanto mais de 1,7 milhão de crianças menores de 5 anos
no Quênia, na Etiópia e na Somália sofrem com a forma mais mortal de
desnutrição, devido à pior seca em gerações no Chifre da África, o conflito na
Ucrânia encarece os Alimentos Terapêuticos Prontos para Uso (RUTF), segundo o
Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), que compra quase 80% da
oferta mundial.A Ucrânia é um grande exportador de óleo de girassol, trigo e
outros grãos. A guerra afetou os preços e a disponibilidade de produtos
básicos, encareceu o combustível e interrompeu as cadeias de suprimentos já
perturbadas pela pandemia de Covid-19.Como resultado, o preço do leite em pó,
dos óleos vegetais e do amendoim, ingredientes do RUTF, aumentou, diz Christiane
Rudert, consultora de nutrição do Unicef para a África Oriental e Austral. Até
o material para embalar o RUTF ficou mais escasso e caro, segundo ela. O
Unicef, que compra cerca de 49 mil toneladas de RUTF anualmente, começa a
sentir o impacto. "O custo definitivamente aumentou, o que está afetando
nossos pedidos", disse Rudert à AFP.A empresa francesa Nutriset informou à
AFP que, no último ano, dobrou o preço de seu produto Plumpy Nut, sua marca de
RUTF, incluindo um aumento de 13% em maio.A companhia não pode atribuir isso
diretamente à Ucrânia, embora tenha citado uma série de fatores, incluindo
guerra, pandemia, custos de envio e desastres ambientais, segundo comunicado.O
Unicef prevê que, até novembro, o preço do RUTF terá subido 16% em relação ao
nível antes da guerra na Ucrânia. A invasão russa também elevou o preço do
combustível, tornando mais caro entregar o RUTF onde é necessário. "O
custo crescente do RUTF significa que cuidar dessas crianças custará 12 milhões
de dólares a mais do que antes do conflito", ressalta Rudert.Ela ainda
alerta que se trata de dinheiro que eles não têm dado às poucas doações para
aliviar a fome no Chifre da África. "Este produto (...) literalmente salva
a vida de crianças que atingem essa forma grave de desnutrição", aponta
Rudert. "Não é apenas amendoim com leite, açúcar e óleo, é
terapêutico".Salva-vidas Desenvolvido há um quarto de século, o RUTF
provou ser revolucionário no tratamento da emaciação grave, uma doença mortal
na qual crianças desnutridas são magras demais para sua altura. Um pacote de
RUTF contém 500 calorias, com vitaminas e minerais essenciais. Consumido
diretamente da embalagem, o produto, que não requer refrigeração nem preparo,
ajuda as crianças desnutridas a recuperarem rapidamente o peso e a energia.
Isso é fundamental em regiões remotas e pobres, como o norte do Quênia, onde a
água potável e os profissionais de saúde são escassos.Em uma visita quinzenal a
Purapul, o médico do governo Mohamed Amin constatou que a maioria das mulheres e
crianças sobrevive com pouco mais do que esses pacotes de pasta que ele
prescreveu."É realmente um desafio", disse à AFP em uma clínica
móvel, onde as mães recebem os suplementos para seus filhos.O Unicef adquire
RUTF suficiente para alimentar pelo menos 3,5 milhões de crianças por ano, mas
nos níveis atuais de financiamento um aumento de 16% no preço pode significar
que 600 mil crianças ficarão sem esse salva-vidas.As consequências seriam
desastrosas não apenas para o Chifre da África, mas para outras partes do
continente, como o Sudão do Sul, onde 300 mil crianças menores precisarão de
RUTF neste ano.Jarso, da World Vision, considerou que o impacto do RUTF em
lugares como Purapul é incalculável. "Ali não tem leite, não tem carne
(...) não tem comida. Portanto, é um salva-vidas", assegura.( Fonte R 7
Noticias Internacional)