Telegram se tornou espaço essencial para a troca de notícias sobre a guerra, com crescimento acelerado após repressão do Kremlin .
Plataformas de mensagens como WhatsApp e Telegram evitaram o
bloqueio na Rússia, ao contrário de algumas das maiores redes sociais do mundo,
em uma tolerância sutil que especialistas advertem que pode acabar
repentinamente. Anos de tensão entre a capital da Rússia, Moscou, e as redes
sociais Facebook e Twitter terminaram em confronto após a invasão da Ucrânia em
24 de fevereiro, com as plataformas visando a mídia russa ligada ao Estado. Em
resposta, Moscou restringiu as redes. O YouTube, que também removeu globalmente
canais vinculados ao Kremlin, enfrentou uma ameaça direta de ser bloqueado nesta
sexta-feira (18) depois que o regulador de mídia russo Roskomnadzor acusou o
site de comportamento "antirrusso". Os aplicativos de mensagens
permanecem imunes, pelo menos até agora, em parte porque o WhatsApp, de
propriedade da Meta, é menos adequado para comunicação de massa, enquanto a
capacidade do Telegram de espalhar informações para grandes grupos tem sido
útil tanto para a mídia independente quanto para o próprio Kremlin. "Acho
improvável que a Rússia proíba o Telegram, porque faltam plataformas onde possa
operar", acredita Serguei Sanovich, pesquisador de pós-doutorado da
Universidade de Princeton, que lembra que em 2020 as autoridades abortaram os
esforços para bloquear o serviço. O Telegram, criticado por supostas políticas
negligentes de conteúdo, oferece às autoridades russas um fórum para promover
narrativas relacionadas à sua incursão militar condenada internacionalmente. A
Rússia ainda opera contas em plataformas como o Facebook, apesar do bloqueio do
serviço doméstico, mas o gigante do Vale do Silício removeu postagens das
páginas de Moscou que continham informações erradas sobre a invasão da Ucrânia.Por
sua vez, o Telegram tornou-se um espaço essencial para a troca de notícias
sobre a guerra, com crescimento acelerado causado pela repressão do Kremlin à
mídia independente e pelo bloqueio de aplicativos como Facebook e Instagram.Uma média de 2,5 milhões de novos usuários ingressaram
no Telegram diariamente nas últimas três semanas, disse a empresa, um salto de
cerca de 25% em relação às semanas anteriores. 'Guerra ao YouTube' Especialistas destacam o risco para o
Telegram e seus usuários devido à falta de criptografia de ponta a ponta,
deixando a empresa suscetível à pressão do governo para deturpar informações.Alp
Toker, diretor do grupo de monitoramento NetBlocks, observa que o WhatsApp
implementou firewalls que fornecem isolamento contra esse tipo de pressão.
"Ao melhorar sua segurança e adotar tecnologia de criptografia de ponta a
ponta, basicamente protege sua plataforma contra riscos legais e possíveis ações
judiciais sobre solicitações de acesso a conteúdo", explica Toker.O uso do
WhatsApp entre dois usuários ou em bate-papos em grupo torna o aplicativo um
alvo menor para as autoridades russas por enquanto, mas isso pode mudar, caso
se torne uma plataforma importante para protestos contra a guerra."A
Roskomnadzor tem se preocupado muito com canais de notícias e formas de
divulgar informações para grandes grupos de pessoas, para os quais o WhatsApp e
outros são menos eficazes", aponta Eva Galperin, diretora de segurança
cibernética da Electronic Frontier Foundation.No entanto, Toker ressalta que o
assunto ainda não atingiu um ponto crítico para as autoridades, em parte porque
as redes sociais, muitas delas agora bloqueadas, desempenhavam um papel
fundamental em termos de organização coletiva."À medida que essas
[plataformas] desaparecem, a dinâmica pode mudar e os aplicativos de mensagens
podem se tornar o próximo alvo", acrescenta.O WhatsApp foi um dos
aplicativos mais populares na Rússia durante 2021, com cerca de 67 milhões de
usuários, ou cerca de 65% dos internautas no país — muito acima do TikTok, da
plataforma social russa VK e até do Telegram, segundo a eMarketer.Nessa lista,
o YouTube atraiu mais russos do que qualquer outra plataforma, com 76 milhões
de espectadores em