A meta proposta por cientistas não parece muito menor
que 2,7°C, mas pode salvar milhões de vidas e garantir um futuro melhor.
Durante a realização da COP
26, a cúpula da ONU para mudanças climáticas,
governos de cerca de 200 países se comprometeram a tentar reduzir o
desmatamento, o uso de combustíveis fósseis e a emissão de gases do efeito
estufa, em uma tentativa de limitar o aumento da temperatura média do planeta
nas próximas duas décadas.As metas de emissões entregues por 124 países no
início da conferência indicam que essa média pode chegar a 2,7°C até o fim deste século.
O que não está apenas longe do ideal, mas pode ser catastrófico para a vida
humana. Para os cientistas, reduzir a quantidade de gases do efeito estufa,
como o gás carbônico e o metano, lançados na atmosfera tem de ser o principal
objetivo. Isso é essencial para atingir o melhor cenário previsto pelo último
relatório do IPCC, o painel climático da ONU, divulgado em agosto, que seria de
no máximo 1,5°C
a mais na temperatura do planeta. Mas por que isso é tão importante? Segundo
cálculos dos especialistas do órgão, uma diferença de até 0,5°C pode afetar
profundamente as vidas de até 420 milhões de pessoas.Isso inclui
moradores de regiões densamente povoadas que podem sofrer longos períodos de
secas ou enchentes cada vez mais frequentes, de cidades costeiras que podem ter
seus territórios invadidos pelo aumento de oceanos ou locais que vão sofrer
cada vez mais com escassez de alimentos. O
que pode acontecer "Um aumento de 2°C já causa uma série de impactos
gigantescos. É uma trajetória insustentável para o planeta, significaria uma
mudança radical em todo o sistema climático, impactos na biodiversidade, na
vida humana, eventos climáticos extremos vão ser cada vez mais comuns",
alerta o climatologista Carlos Nobre, do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais) e um dos principais especialistas em mudanças climáticas do país. Segundo
o cientista, que participou da elaboração de outros relatórios divulgados pelo
IPCC ao longo das últimas décadas, as consequências podem ser graves. "As
ondas de calor no final do século seriam 6 vezes mais frequentes do que agora,
inundações até 4 vezes mais frequentes, sem falar em incendios florestais. O
nível do mar aumentaria 1,3
metros até 2100 e 6 metros nos próximos mil
anos", detalha. Se o nível dos oceanos subir na medida que o
cientista afirma, não apenas cidades costeiras podem ser invadidas pela água e
perder suas orlas, prédios e estruturas como quase todos os portos importantes
do mundo podem ser destruídos. Segundo um levantamento do Painel Brasileiro de
Mudanças Climáticas, 40% da população mundial vive a até 60km do litoral. No
caso do Brasil, esse percentual sobre para 60%.Todas essas pessoas poderão ser
afetadas ou até mesmo destruídas com um aumento do nível do oceano. Além disso,
águas oceânicas mais quentes ampliam a força de tempestades tropicais, que cada
vez mais têm se transformado em furacões de grande intensidade, especialmente
na área do Atlântico Norte e do Caribe.Por tudo isso, a meta de controlar as
emissões de modo que o aumento da temperatura fique em 1,5°C é tão importante, de
acordo com o cientista norte-americano Philip Fearnside, pesquisador do
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e membro da Rede de
Especialistas em Conservação da Natureza (RECN)."Já temos problemas muito
sérios, secas aumentando no Sudeste. O que está acontecendo na bacia do Paraná,
por exemplo. Tem que tirar uma lição disso, mas está sendo tratado como se
fosse uma tragédia natural. Não é assim, tem origem humana no aquecimento
global e deve piorar. Por exemplo, se você desmata na Amazônia, perde os rios
voadores (massas de vapor que transportam umidade) e perde as chuvas em São
Paulo", relata.O plano apresentado pelo Brasil durante a COP26, de parar o
desmatamento ilegal até 2030, não seria suficiente, segundo o especialista.
"A meta que o país anunciou foi a mesma do acordo de paris, usando o ano
de 2005 como referência, que foi o pico de desmatamento. Precisa aumentar a
meta, é um país que pode fazer mais. Não é impossível parar o desmatamento, mas
tem que querer, não apenas falar", alerta Fearnside.O grande desafio é, em
um primeiro momento, controlar as emissões de gases do efeito estufa na
atmosfera, especialmente nos moldes atuais das atividades humanas. Para Nobre,
para conseguir reduzir esse problema em 50% até 2030 e zerar até 2050 é apenas
uma parte do problema.( Fonte R 7 Noticias Internacional)