Sugestões serão apresentadas ao Grupo de Oceanos do
G20, presidido pelo Brasil até novembro.
Ambientalistas
defenderam o fortalecimento das políticas oceânicas em níveis nacional e
internacional durante seminário com representantes de 35 países na Câmara dos
Deputados nesta quinta-feira (22). O evento foi promovido pela Frente
Parlamentar Ambientalista em busca da interação entre ciência, política e
sociedade civil com foco na sustentabilidade ambiental dos oceanos e zonas
costeiras. As sugestões serão apresentadas ao Grupo de Oceanos do G20,
presidido pelo Brasil até novembro, a fim de influenciar futuras decisões das
maiores economias do mundo, como destacou o coordenador da frente, deputado
Nilto Tatto (PT-SP). “Celebramos o reconhecimento por parte tanto da comunidade
brasileira como da comunidade internacional do papel da biodiversidade das
florestas, em especial o papel da Amazônia. Mas, pouco a gente tem daquilo que
talvez tenha o papel mais importante para a gente enfrentar a crise climática,
que é o cuidado diante da degradação que vem acontecendo com os mares”, disse
Nilto Tatto. Em âmbito nacional, a secretária executiva do Painel Brasileiro
para o Futuro do Oceano (PainelMar), Letícia Camargo, pediu prioridade na
aprovação da proposta (PL 6969/13) que cria a Política Nacional para a Gestão
Integrada, a Conservação e o Uso Sustentável do Sistema Costeiro-Marinho. “O
principal é o (projeto) que a gente está numa campanha há 11 anos pela
aprovação, conhecido como Lei do Mar. Estamos acreditando, com bastante otimismo,
que esse vai ser o ano em que a gente vai conseguir convencer o presidente aqui
da Câmara a pautar e a gente aprovar essa proposta”, disse Letícia Camargo. A
proposta de “Lei do Mar” está pronta para votação no Plenário da Câmara. O
texto defendido pelos ambientalistas é a última versão preparada pelo deputado
Túlio Gadêlha (Rede-PE), já sob os reflexos da crise climática. “Isso passa por discutir uma legislação mais
responsável com relação ao uso sustentável de todo o ecossistema marinho. Não
podemos deixar a temperatura global chegar em 1,5 graus Celsius. E essa é a
última oportunidade que a humanidade tem de evitar que isso aconteça. Senão, os
prejuízos serão maiores ainda, principalmente para as pessoas mais pobres”,
afirmou Gadêlha. Professora da Universidade Federal de Pernambuco, a bióloga
Beatrice Padovani apresentou os resultados do 1° Diagnóstico Brasileiro
Marinho-Costeiro sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos para afirmar
que, apesar de reconhecido por ser um país continental, “o Brasil é uma nação
marítima”. “A Amazônia Azul, que é a Zona Econômica Exclusiva brasileira,
constitui dois terços da área continental, tem 10 mil quilômetros de zona
costeira e 443 municípios costeiros. O oceano contribui para a regulação
climática, energia, segurança alimentar, segurança hídrica, saúde e
continuidade cultural de um país multidiverso”, observou Beatrice Padovani. Morte
de corais A rica biodiversidade marinha está ameaçada pelo aquecimento
global, com recordes sucessivos de alta na temperatura dos oceanos e episódios
de branqueamento ou morte de corais, que são essenciais para o equilíbrio do
ecossistema. Durante o seminário na Câmara, representantes da União Europeia e
da África do Sul apresentaram variados modelos de governança marinha. A
Conferência da ONU sobre os Oceanos, prevista para 2025 (com organização de
França e Costa Rica), deve avançar na criação de um painel internacional de
sustentabilidade dos oceanos, com foco na colaboração entre países. O PainelMar
listou os principais projetos sob atenção dos ambientalistas na Câmara e no
Senado. Além da proposta (PL 6969/13) de Lei do Mar, defende-se regra para a
economia circular do plástico, também conhecida como “Oceano sem plástico” (PL 2524/22), que tramita no Senado;
reconhecimento dos territórios de comunidades tradicionais pesqueiras (PL 131/20);
e garantia de acesso e uso público das praias e do mar (PL 775/22), que também tramita no Senado Federal.
Por outro lado, os ambientalistas querem a rejeição das seguintes propostas:
- PEC 3/22 (Senado) ou PEC 39/11 (Câmara), que
retira a propriedade exclusiva da União sobre os terrenos de Marinha,
conhecida como “privatização das praias”;
- PL
11.247/18 (ou PL 5.932/23), que autoriza a implantação de eólicas em alto
mar;
- PLP
254/23, que atribui à Marinha o licenciamento ambiental de empreendimentos
náuticos;
- PL
5822/19, que viabiliza o licenciamento ambiental de garimpos em reservas
extrativistas e parques nacionais (inclusive resex marinhas);
- PL
4444/21, que cria o Programa Nacional de Gestão Eficiente do Patrimônio
Imobiliário Federal (e permitiria a privatização de 10% das praias para
uso turístico); e
- PL 2511/24, que criminaliza ocupação ou
invasão de praia, que está no Senado.
Documentário
O evento da Frente Parlamentar Ambientalista também marcou o lançamento do
“Monitor Oceano”, uma plataforma do Instituto Arayara para monitorar o litoral
brasileiro, alertar sobre os perigos da exploração de petróleo em alto mar e
contribuir para o planejamento espacial marinho. Ganhador do Oscar de melhor
documentário de 2021, o cineasta sul-africano Craig Foster também discursou no
seminário e lançou novo curta metragem (“Mother in the boardroom”) em defesa da
sustentabilidade ambiental dos oceanos. Reportagem – José Carlos Oliveira Edição
– Roberto Seabra Fonte: Agência Câmara de Notícias