Autor de “A Retórica da Intransigência”, o economista, quando jovem, planejou matar o ditador nazista Adolf Hitler.
É uma regra sem
exceções o fato “de que a natureza não dá saltos”. Ao longo da história, inexoravelmente,
ela segue uma ordem natural. Sem interferência exógena, não se desvia do seu
curso. Não só a natureza tem leis de vida. A sociedade, como convivência entre
os homens, e a economia, como administração das limitações de recursos, também
têm as suas próprias leis. Nem a ordem social e nem a economia dão saltos. É
essa natureza, que deve ser respeitada, que Albert Hirschman (1915-2012) trata
em seu livro “A Retórica da Intransigência” (Companhia das Letras, 192 páginas,
tradução de Tomás Rosa Bueno). Um ensaio brilhante e atual sobre os argumentos
que têm dominado o debate entre reacionários e progressistas desde o final do
século XVIII. Desde os episódios dramáticos da Revolução Francesa — entre 1789
e 1793) —, toda vez que sentiram a ordem social novamente ameaçada,
conservadores e reacionários de diferentes matizes mobilizaram um formidável
arsenal discursivo para protegê-la. É a partir desse variado repertório que
Albert Hirschman compõe, com erudição incomum, este magnífico “A Retórica da
Intransigência”. As três teses de Albert O.
Hirschman Albert Hirschman demonstram em três teses ― perversidade, futilidade e ameaça ― o que há duzentos anos se repetem compulsivamente nas retóricas de conservadores e reacionários, todas destinadas a provar
que qualquer tentativa de mudar a sociedade é desastrada, tola ou
prejudicial. As três teses coincidem no seu final — não atendem às boas
intenções dos seus formuladores. A tese da perversidade sugere que qualquer
ideia de melhora das condições políticas, sociais ou da ordem econômica resulta
piora das condições existentes. Os congelamentos de preços sempre resultaram em
aumento deles. A tese da futilidade atenta para o fato de que as tentativas de
transformação social são incapazes de serem bem-sucedidas. A Revolução
Francesa, a par da perversidade, simplesmente adotou ideias já em gestação na
Monarquia — como a lei dos direitos humanos. A tese da ameaça considera que os
ônus (custo) da proposta de mudança ou reforma são tão altos que invalidam
possíveis resultados. Os diversos investimentos governamentais em empreendimentos
do governo que faliram ou atingiram cifras astronômicas — Coperg, Sete Brasil,
Zona Franca de Manaus. Certamente, alguém pode pertinentemente arguir que os
resultados da ação e da inação não sempre previamente conhecidos. Mas sabe-se
de antemão que, como regra geral, a natureza não dá saltos. Assim,
ecologicamente falando, quanto menos ativismo humano, melhores são os
resultados. Albert Hirschman planejou
matar Hitler Albert Otto Hirschman, (judeu-alemão) foi
um economista influente, autor de vários livros sobre economia e ideologia
política. Hirschman foi professor nas universidades Yale, Columbia e Harvard.
Depois da publicação do “Strategy of Economic Development”, em 1958, recebeu
oferta de uma cátedra em Columbia, posteriormente em Harvard e, por fim, no
Institute for Advanced Study de Princeton. A par da sua contribuição
intelectual, Hirschman atuou politicamente. Uma vez planejando matar Hitler e
depois como militante de um grupo de franceses dedicados a retirar judeus da
França sob jugo nazista para a Espanha. A ação de Hirschman mereceu um filme
“Transatlantic”, disponível na Netflix, que, com personagens reais, romanceia a
luta liderada por uma milionária americana Mary J. Gold para salvar judeus das
garras do nazismo. Ninguém que assistir na Netflix a história de Albert Otto
Hirschman deixará de ler os seus livros. Assim como todos os que lerem, com
mente aberta, o que escreveu deixarão de pensar duas vezes nas três teses do
livro “A Retórica da Intransigência”, que lembram que natureza não dá saltos… e
quando a ação do homem interfere na sua trajetória os resultados não
correspondem às suas boas intenções. (Fonte Jornal Opção Noticias GO)