Os números são 90% maiores que os do ano de 2020, quando o fogo destruiu
26% do bioma, no que é considerado o maior incêndio de sua história.
(FOLHAPRESS) - As Forças Armadas
disponibilizaram seis helicópteros e dois aviões para auxiliar no combate aos
incêndios na região do pantanal, e mais equipamentos são avaliados. Duas bases
de apoio foram criadas e 500 combatentes, destacados para as ações. Segundo a
ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, o bioma está "diante de uma das
piores situações já vistas", algo "fora da curva com relação a tudo
que já se conhece". As declarações foram dadas após reunião da sala de
situação para enfrentamento dos incêndios, no Palácio do Planalto, nesta
segunda-feira (24). Foi o segundo encontro do grupo. Na próxima quarta-feira
(26), deve acontecer mais um, desta vez para que cada uma das pastas apresente
suas necessidades orçamentárias, e o governo avalie a possibilidade de abertura
de crédito extraordinário para as operações. "Não sabemos o tamanho dos
desdobramentos do fenômeno que temos pela frente, é a maior seca dos últimos 70
anos", afirmou Marina. "O fenômeno é incomparavelmente maior do que a
capacidade humana de conter estes processos", completou. Reportagem da
Folha na última sexta-feira (21) mostrou que a falta de apoio aéreo é o
principal entrave ao combate aos incêndios no pantanal, segundo brigadistas de
diferentes setores que atuam no bioma. Também participaram do encontro nesta
segunda-feira a ministra Simone Tebet (Planejamento), Waldez Goés (Integração e
Desenvolvimento Regional) e Laércio Portela (Secretaria de Comunicação).
Estiveram presentes ainda representantes dos ministérios da Justiça, Defesa,
Indústria e Casa Civil. Tebet não detalhou qual é o espaço orçamentário que
pode ser usado para estas ações, mas afirmou que uma comitiva de ministros deve
viajar ao pantanal em breve. "Não faltarão recursos, claro que com
responsabilidade", disse. O governo já anunciou que vai recompor em R$ 100
milhões o orçamento do Ministério do Meio Ambiente, que foi alvo de cortes
tanto pelo Congresso quanto pelo próprio Executivo. Chefe do Estado-Maior
Conjunto das Forças Armadas, o almirante de esquadra Renato Rodrigues de Aguiar
Freire afirmou que os militares também vão auxiliar com "equipamentos de
comando e controle e de comunicação para que as equipes sejam empregadas de uma
maneira eficaz". Os focos de incêndio no pantanal em 2024 são um recorde
para o mês de junho. Apenas nos 12 primeiros dias do mês, o bioma registrou 733
focos de incêndio, o número mais alto para toda a série histórica arquivada no
Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), que começa em 1998. Os
números são 90% maiores que os do ano de 2020, quando o fogo destruiu 26% do
bioma, no que é considerado o maior incêndio de sua história. No compilado do
ano inteiro, 2023 também supera o antigo recorde, com 3.262 focos de incêndio
contra 2.534. Nesta segunda, o estado de Mato Grosso do Sul decretou situação
de emergência, por essa situação. A seca foi alertada por Marina Silva há
semanas. No entanto, como em outros assuntos, a pasta ambiental tem
dificuldades para implementar medidas, sobretudo empacada pela ala política do
governo e por outras prioridades do presidente Lula (PT). Em 5 de junho, em
evento ao lado do presidente, a ministra previu que o bioma poderia registrar
uma tragédia climática tão grave quanto a causada pelas chuvas no Rio Grande do
Sul. Defendeu também que fossem tomadas medidas extraordinárias para o combate
ao fogo e lembrou que a situação da bacia hidrográfica da região era a mais
preocupante já registrada pela ANA (Agência Nacional de Águas). Mesmo assim,
uma sala de situação sobre o tema só foi criada no último dia 14. Em razão da
situação alarmante, os servidores ambientais decidiram que as ações de combate
ao fogo serão 100% mantidas mesmo durante a greve da categoria, que começou
nesta segunda. Os brigadistas que atuam no pantanal têm sofrido com falta de
infraestrutura, especialmente de aviões, para realizar as ações. Sem o
deslocamento rápido proporcionado pelos meios aéreos, as equipes precisam
viajar de barco ou de carro, em percursos muito mais demorados, o que atrasa o
controle do fogo e permite que ele se espalhe por grandes extensões de terra.
Um agravante é a seca no rio Paraguai, que dificulta o transporte fluvial dos
brigadistas. Até a última sexta, o governo de Mato Grosso do Sul -estado onde
há mais focos, especialmente no entorno de Corumbá (MS)- dispunha de dois
aviões para o combate às chamas, capazes de lançar água, além de três
helicópteros operados pela Polícia Militar que podem ser solicitados pelos
bombeiros. O Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis) contava com apenas uma aeronave até então, empregada para
identificar locais com incêndios. Esse número, afirmaram à Folha de S.Paulo
autoridades envolvidas nas ações, é insuficiente para a crise atual. Atualmente,
cerca de 250 profissionais atuam nos combates a incêndios, entre membros do
Ibama, ICMBio (Instituto Chico Mendes) e Marinha, além dos bombeiros estaduais.
O Ibama deve receber mais cerca de 50 brigadistas e a Força Nacional também
deve enviar cerca de 60 pessoas para auxiliar nas ações. O governo também irá
diminuir o intervalo entre a contratação de brigadistas, que hoje é de seis
meses, para três. Segundo Marina Silva, o planejamento de enfrentamento aos
incêndios começou em outubro do ano passado e, em razão dos alertas de fogo, o
governo antecipou as operações, que estavam previstas para agosto deste ano,
para abril. Tebet e Marina reforçaram também que é necessário que os
fazendeiros da região parem de usar fogo para realizar desmatamento e
enfatizaram que as queimas, mesmo as controladas, estão proibidas tanto em Mato
Grosso quanto em Mato Grosso do Sul. Leia Também: Brigadistas
combatem fogo no rio Paraguai para salvar ribeirinhos do pantanal. (
Fonte Brasil ao inuto Noticias)