O índice analisa a
percepção de especialistas com relação à corrupção no setor público de 180
países por metodologia permanente.
O
Brasil caiu no Índice de Percepção da Corrupção (IPC) de 2024, medido pela
Transparência Internacional, e atingiu a pior colocação da série histórica. O
índice analisa a percepção de especialistas com relação à corrupção no setor
público de 180 países por metodologia permanente. O relatório lista países por
meio de pontuação que vai de 0 a 100. Quanto menor a pontuação, pior a
percepção de corrupção. Em 2024, o Brasil recebeu 34 pontos, abaixo até mesmo
da média para as Américas (42 pontos) e para o Mundo (43 pontos). Ao Jornal
Opção, Guilherme France, um dos autores do relatório da Transparência
Internacional, explicou como é medido o ranking. “A corrupção é muito difícil
de medir por se tratar de um fenômeno oculto. A que costumamos ver na imprensa
é justamente a que não deu certo, e foi identificada. O ranking mede a
percepção de especialistas e, por se ter uma metodologia permanente, é possível
avaliar, também, a evolução histórica e comparar países”, disse. France ainda
explica que o relatório se trata de avaliação de especialistas que a
Transparência Internacional calcula. O instituto publica em paralelo um
relatório para avaliar os fatos políticos do ano anterior e trazer os
principais desafios e recomendações para enfrentá-los. De acordo com o
relatório, diversos fatores contribuíram para a queda do Brasil no ranking.
Entre eles estão o silêncio do Presidente Lula sobre a pauta anticorrupção;
renegociação de acordos de leniência para beneficiar empresas envolvidas em
macrocorrupção; manutenção no cargo do Ministro das Comunicações, Juscelino
Filho, indiciado por organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção
passiva; percepção de crescente ingerência política na Petrobras; reiteradas
negativas do Governo a pedidos de acesso à informação; falta de avanço em propostas
legislativas de potencial impacto positivo sobre a agenda anticorrupção
brasileira entre outros.
Países com maior pontuação
- Dinamarca (90 pontos – estável)
- Finlândia (88 pontos – subiu um ponto)
- Cingapura (84 pontos – subiu um ponto)
- Nova Zelândia (83 pontos – caiu um ponto)
- Luxemburgo (81 pontos – caiu três pontos)
- Noruega (81 pontos – caiu três pontos)
- Suíça (81 pontos – caiu um ponto)
Países com menor pontuação
- Guiné Equatorial (13 pontos – caiu quatro
pontos)
- Eritréia (13 pontos – caiu oito pontos)
- Líbia (13 pontos – caiu cinco pontos)
- Iêmen (13 pontos – caiu três pontos)
- Síria (12 pontos – caiu um ponto)
- Venezuela (10 pontos – caiu três pontos)
- Somália (9 pontos – caiu dois pontos)
- Sudão do Sul (8 pontos – caiu cinco pontos)
Lei da Ficha Limpa
Um
dos mecanismos de combate à corrupção do Brasil é a Lei da Ficha Limpa.
Aprovada em 2010, regulamenta restrições à elegibilidade. Ela foi criada por
iniciativa popular, encabeçado por entidades que fazem parte do Movimento de
Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE). Foram obtidas mais de 1,6 milhão de
assinaturas em apoio. A lei estabeleceu regras mais rígidas para impedir que
políticos condenados por crimes como corrupção e abuso de poder disputem as
eleições. Atualmente, a lei prevê que políticos condenados fiquem inelegíveis
por oito anos. Porém, um projeto de lei de autoria do deputado federal Bibo
Nunes (PL-RS) quer mudar a legislação. A proposta visa reduzir o período de
inelegibilidade de políticos condenados de oito para dois anos. Para , a lei é
uma restrição legítima, já que não elimina direitos, apenas suspende e, caso
seja alterada, fará com que a corrupção valha a pena. “A mudança a essa lei
seria um grave retrocesso. A flexibilização praticamente mata a legislação e
sua efetividade. Se um prefeito é condenado por abuso de poder político
econômico cometido numa eleição, ele vai poder concorrer nas eleições seguintes
à prefeitura daquela cidade, por exemplo. Então isso causaria a morte da
efetividade da lei da ficha limpa”, diz. “Esse projeto tem nome e sobrenome:
Jair Bolsonaro. Ele beneficiará o presidente e outros políticos de um espectro.
Esse projeto de lei foi feito especificamente para deixar Bolsonaro elegível e
abrir espaço para que ele tenha apoio de uma classe política através desse
benefício”, afirma. Governo se manifesta Em nota a
Controladoria-Geral da União afirmou que embasar debates no ranking pode levar
a “distorções” já que o índice se baseia na “percepção”. Leia a nota na íntegra a seguir. A Controladoria-Geral da União (CGU) reforça seu compromisso com a
transparência e o combate à corrupção. Por isso, alerta para limitações
metodológicas do Índice de Percepção da Corrupção (IPC), da Transparência
Internacional (TI). O IPC mede percepção, não a ocorrência real de corrupção, e
seu próprio relatório recomenda cautela na interpretação dos resultados,
especialmente em relação a variações (“sutis” ou “estatisticamente
irrelevantes”) da pontuação. Os países que combatem corrupção
podem ser penalizados no IPC, uma vez que a exposição de casos e investigações
impacta negativamente a percepção sobre o problema. O combate à corrupção não
pode ser tratado como um fator negativo para a avaliação de um país.
O uso do IPC para embasar debates públicos pode levar a
distorções, alimentando narrativas que minam a confiança nas instituições
democráticas. O índice se baseia em pesquisas com grupos específicos, como
empresários, e não representa a percepção geral da população. Além disso, vários
eventos mencionados no relatório como fatores negativos para o Brasil ocorreram
após o período de coleta de dados do índice, o que compromete a coerência da
análise. Por outro lado, avanços concretos não são
devidamente reconhecidos. O Brasil ampliou sua transparência com melhorias no
Portal da Transparência, avançou na rastreabilidade de emendas parlamentares e
lançou o Plano de Integridade e Combate à Corrupção 2025-2027, com 260 ações
estratégicas. Além disso, a CGU bateu recorde de operações contra a corrupção
em 2024, totalizando 47 ações. O Brasil também retoma
protagonismo internacional na transparência, sendo sede da COP 30 e
fortalecendo sua participação na Parceria para Governo Aberto (OGP). Esses
avanços refletem um compromisso sólido com governança democrática, algo que o
IPC não mede de forma adequada. A CGU segue firme em sua missão
de garantir uma gestão pública transparente e reafirma a necessidade de um
debate mais técnico e fundamentado sobre os métodos de avaliação da corrupção
no Brasil e no mundo. Leia também Megaoperação mira ex-diretores, gestores e fiscais da Goinfra por
fraudes em contrato de R$ 27 milhões.(Fonte Jornal Opção Noticia GO)