Pesquisa da Rede Nossa SP revela que desejo é maior em famílias com renda superior a cinco salários mínimos e entre 35 e 44 anos .
Uma pesquisa da Rede Nossa São Paulo, divulgada nesta
quinta-feira (20), revelou que 57% dos moradores da capital paulista deixariam
a cidade se pudessem. O desejo cresce em famílias com renda maior que cinco
salários mínimos, pessoas entre 35 e 44 anos, com ensino superior.O
levantamento mostra, pelo segundo ano consecutivo, que é baixa a percepção de
melhora na própria qualidade de vida dos moradores de São Paulo. A opinião
majoritária é de estabilidade nos últimos 12 meses. "As pessoas não
conseguem ver saída da condição atual, com pandemia. Não indica uma piora, mas
uma ausência de horizonte. Não há uma expectativa de mudança. Em alguns
segmentos, chega a 72%. Os menos vulneráveis, os quem têm mais opções, como
trabalho remoto, são os que mais pensam em sair de São Paulo. Eles não enxergam
uma melhora no cenário", explica Igor Pantoja, assessor de mobilização da
Rede Nossa São Paulo. A pesquisa Viver em São Paulo – Qualidade de
Vida foi realizada entre os dias 4 e 28 de dezembro com 800 moradores da
capital com 16 anos ou mais, de diferentes regiões, por meio de questionário
online ou domiciliar. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais
ou para menos, com índice de confiança de 95%.A advogada Gabriela Cabral, de 34
anos, mora na Vila Formosa, na zona leste de São Paulo, e confessa ter vontade
de deixar a capital. "Iria para um lugar mais seguro e tranquilo. Quem
gosta daqui deve gostar de trânsito. Também por causa da insegurança. Iria para
uma cidade da região metropolitana com uma estrutura mínima, não muito longe,
porque sempre tem que recorrer à capital. Mesmo sendo caótica a cidade, aqui
tem de tudo", revela. Qualidade
de vidaDe
acordo com o estudo, a Igreja é a instituição que mais contribui para a melhora
da qualidade de vida na visão dos paulistanos, com 22% das respostas, seguida
por associações de bairro (18%) e ONGs (15%). Cresceu 11% a percepção de que
nenhuma das instituições contribui, chegando a 28% dos entrevistados."Pela
primeira vez, desde o início da pesquisa, não aparece nenhum órgão de governo.
As associações de bairro não apareciam. É o deslocamento da política para esses
setores. A política chega às pessoas por outros lugares. Mas é preocupante ver
que a população não conhece as ferramentas e onde as decisões são tomadas. A
prefeitura e a Câmara precisam reconhecer esse distanciamento e tentar
mudar", diz Igor Pantoja. Entre as vantagens de morar em São Paulo estão
as oportunidades (19%), mercado de trabalho (13%), lazer (12%) e diversidade de
serviços (9%).Gabrielle Alves da Silva tem 26 anos, é contadora e moradora de
Guaianases, no extremo leste da capital. Ela não trocaria a cidade assim tão
fácil e conta o que mais a atrai: "A diversidade de cultura, coisas de
lazer e as pessoas. Aqui tem de tudo. Você quer comida tailandesa? Tem. A
avenida Paulista aberta aos domingos é a melhor coisa que fizeram. Você se
diverte".Por outro lado, a violência é apontada por um terço dos moradores
como o principal aspecto negativo da cidade. Na sequência estão criminalidade
(17%), trânsito (14%) e poluição (11%). A violência e o barulho, de festas
com som alto e de veículos, são os problemas dos bairros que menos agradam à
população."Não respeitam os horários do Psiu. Se fizer denúncia, não é
anônima porque tem que dar endereço e tal. Daí arranja confusão com vizinho.
Moramos no bairro há quase 30 anos, e a iluminação também é ruim. Quando chego
tarde, fico com receio porque tem vez que a rua tá toda apagada, e a gente é
cobrado pelo serviço. Precisa de mais atenção aqui pro fundo [periferia da
cidade]", enfatiza Gabrielle Alves.O especialista da Rede Nossa SP
explica: "Não tem a ver com estatísticas de roubos, mas a sensação de
segurança. Não é sobre ver um policial a cada esquina, mas sim a iluminação
pública, tornar lugares mais frequentados. Mesmo o som alto pode ser por falta
de opções de lazer. A prefeitura tem o papel, não só com a GCM, mas pensando em
questões urbanísticas e ações comunitárias".Segundo o estudo, os
paulistanos tiveram mais sentimentos positivos em 2021 em relação à metrópole,
como esperança, gratidão e admiração. No entanto, decepção e frustração também
aparecem no topo do ranking.Nos bairros, o que mais atrai os moradores é o
acesso fácil a estabelecimentos comerciais, em especial os de alimentação
(22%). Destacam-se também a facilidade de acesso ao transporte público, com 14%
das respostas, e o acesso a postos de saúde e hospitais, com 12%.Mas Gabrielle
Alves reclama da qualidade do transporte público. Ela mora na zona leste e trabalha
na avenida Engenheiro Luiz Carlos Berrini, na zona sul. "Demoro uma hora,
uma hora e meia pra ir e até três horas pra voltar. Sempre cheio o transporte,
e tem pouca quantidade de trens. Tem dia que inunda a linha do trem e não tem
como [ir] trabalhar. Se tivesse mais linhas, não se tornaria tão cansativa a
baldeação. Hoje não existe mais horário de pico. E 'cadê' o distanciamento na
pandemia?", questiona. Já Gabriela Cabral é crítica em relação à
saúde pública. "Uso o SUS [Sistema Único de Saúde] e fiquei dois anos para
conseguir uma consulta com ortopedista. No começo tive que pagar particular.
Faltam medicamentos nos postos, e a consulta é essa demora", relata.(
Fonte R 7 Noticias Brasil)