Duas semanas após terremoto que matou mais de 2,2 mil pessoas, população
tenta como pode se reerguer e encontrar abrigo.
Duas semanas depois de um terremoto deixar mais de
2,2 mil pessoas mortas no Sudoeste do Haiti, novos abalos
sísmicos, de intensidade menor, foram registrados na região dia após dia. Ainda
traumatizada pelo tremor do dia 14 de agosto, a população local se depara com o
medo de ser vitimada por uma potencial nova tragédia natural.Em Les Cayes, o
terceiro maior distrito do Haiti, moradores perderam as casas, locais de trabalho,
igrejas e a segurança de poder estar em qualquer lugar. Mas no país mais pobre
da América — e um dos mais pobres do mundo — ninguém tem o direito de sentir
medo. Por isso, em meio aos escombros, aos poucos, todos tentam seguir suas
vidas normalmente, seja em trabalhos manuais, como costura, na calçada, seja
apressado no trânsito caótico da cidade. Na manhã deste sábado (28), um novo
tremor derrubou a muralha de uma companhia telefônica no coração do distrito.
Ao invés de se afastarem do local, por receio de sofrer algum dano, jovens
haitianos colocaram a mão na massa. Melhor dizendo: No concreto. Sobre as
pedras quebradas que invadiam uma das principais avenidas da região, alguns
jovens se sentavam e começavam a quebrar o concreto, usando uma marreta.
Mesmo sem aval da prefeitura local, que normalmente espera as réplicas de um
grande terremoto cessarem por completo até liberar a reconstrução do que foi
destruído, homens entre 18 e 25 anos se juntavam para, a partir do concreto
quebrado, retirar blocos de cimento que possam ser reutilizados em uma nova
construção. É o caso de Marvens Saint-Fort, de apenas 18 anos. O garoto,
com calça moletom, touca e chinelo, diferentemente de muitos haitianos em
período de normalidade, não saiu de sua cidade natal rumo à Les Cayes para
aproveitar a praia da região. Pelo contrário. No dia 14 de agosto, sua casa,
que ficava na cidade de Port-Salud, distante cerca de uma hora, desabou. Desde
então, ele tem de migrar de casa em casa, com ajuda de amigos, para conseguir abrigo.
Além de um teto para sobreviver, Saint-Fort precisa se alimentar e ter as
estruturas básicas de todo ser humano. Atrás do mínimo, ele decidiu se juntar a
outros colegas que também foram afetados pelo terremoto para conseguir alguns
trocados. A ideia dele é ajudar a reconstruir a muralha para a própria
companhia telefônica.Na mesma rua, a cerca de 300 metros de distância, outros
homens, mais velhos, já reconstruíam uma casa, mesmo sem permissão — e sem o
mínimo de segurança. Mais à frente, homens, mulheres e crianças se viravam para
tentar resgatar o que sobrou de um sobrado cujo o térreo não era mais possível
identificar. Os escombros misturavam telhas, roupas, cadeiras e entulhos da
Unicef.Ao perceber a presença da reportagem no local, o marceneiro Saint-Preux
Jean Frenel, de 39 anos, desabafou que não aguentava mais ver pessoas se
aproximando sem ajudar com comida, dinheiro ou algo que pudesse lhe tirar
daquilo que ele sonhava ser apenas um pesadelo: não ter um teto para se abrigar
junto de sua mulher, tio, primo e dois filhos de 1 e de 11 anos. "Eu
estava dentro de casa quando vi a parede caindo na minha frente. Entre uma
parede e outra, tinha uma fresta. Foi por ali que saí correndo com meus filhos
e me salvei. Mas aqui onde estamos [apontando para baixo de onde ele estava]
tivemos que retirar, com uma pá, o corpo de um vizinho, de um amigo",
relatou Frenel.Além de Les Cayes, que é a terceira maior cidade do Haiti, o
terremoto do dia 14 atingiu outra grande cidade: Jérémie. No entanto, o
epicentro ocorreu nas pequenas cidades de Trou de Nippes e L'Asile. Ao todo,
cerca de 300 pessoas ainda estão desaparecidas. E mais de 12 mil pessoas se
feriram após o tremor. As autoridades locais contabilizam que mais de 100 mil
casas tiveram suas estruturas comprometidas. Nas proximidades de todas essas
cidades, há abrigos em locais descampados repletos de pessoas que nada têm além
de si, de alguns familiares e umas mudas de roupas. Tudo o que eles têm
conseguido para sobreviver chega a partir de doações feitas por haitianos e por
pessoas e ONGs do exterior. Nos distritos, algumas pessoas preferem passar a
noite em praças, por medo de não conseguirem reagir a tempo caso haja um tremor
enquanto dormem.( Fonte R 7 Noticias Internacional)