Mas não era apenas um
dia normal. Dois Mirage III do esquadrão estavam em voo para interceptar e
conduzir a aeronave PT-ASN que entrava nos radares de Brasília. A bordo, o
então campeão mundial da Fórmula 1, Ayrton Senna. Naquele dia, o piloto
conheceu as instalações da unidade, embarcou a bordo do Mirage III e inspirou a
todos os brasileiros em uma data lembrada com carinho até hoje. Nesta
quarta-feira, 1º de maio, o mundo do automobilismo e os fãs de Ayrton Senna
relembram os 30 anos da trágica morte do piloto.
Em 1º de maio de 1994, já carregando em sua meteórica carreira três mundiais da
F1, Senna morreu em um acidente durante o Grande Prêmio de San Marino, em
Ímola, na Itália, pilotando, na época, um carro da escuderia Williams-Renault,
Ayrton Senna havia sido campeão mundial pela primeira vez em 1988. Ele estava
no início da temporada de 1989 da Fórmula 1, protagonizada pelo seu duelo com
Alain Prost dentro e fora das pistas. Até o precoce fim de sua carreira na
categoria, ainda conquistaria mais dois mundiais (1990 e 1991) e obteria
números impressionantes, que fazem com que muitos especialistas o considerem o
melhor piloto que já passou pela categoria. Naquela época, o brasileiro tornava
cada corrida mais emocionante e prendia a atenção da torcida nas manhãs de
domingo. Ao desembarcar em Anápolis, Senna foi recebido por militares da Base
Aérea, do 1º GDA e do Centro de Comunicação Social da Aeronáutica (CECOMSAER),
que havia organizado a visita. Na sede do Esquadrão Jaguar, Senna cedeu
entrevistas à imprensa, foi equipado para o voo e recebeu o briefing para
embarcar no Mirage III. O comandante do voo seria o Tenente-Coronel Alberto de
Paiva Cortes, que havia recém-assumido o Comando do 1º GDA. Preparação No briefing, Senna
foi sincero com o Comandante: queria sentir a velocidade do Mirage III. O
automobilista já pilotava os aviões de sua família e estivera a bordo do F-5 do
1º Grupo de Aviação de Caça (1º GAVCA), em 1985. A altitude inibe a sensação da
velocidade e, portanto, a pedido de Senna, a aeronave deveria voar o mais
próximo possível do solo. Então, as manobras a serem realizadas foram
definidas, o campeão passou pelo simulador, foi instruído acerca dos
procedimentos de ejeção e recebeu os equipamentos de voo: traje anti-gravidade
e capacete, auxiliado pelo então Capitão Aviador Antonio Carlos Moretti
Bermudez, atual Comandante da Aeronáutica. De lá, eles embarcaram no Mirage III
biposto, matrícula FAB 4904. A 36 mil pés de altura Após deixar o solo,
era hora das manobras: aos 36 mil pés (quase 11 km), o Tenente-Coronel Cortes
acelerou até romper a barreira do som e atingiu a velocidade de Mach 1.4,
correspondente a 1.728 km/h. Em um rasante, o Mirage III chegou a Mach 0.95
(1.173 km/h) – mesmo em comunicação com a equipe em solo, a velocidade
surpreendeu os fotógrafos e cinegrafistas que tentavam registrar o voo. Ao
contrário da maioria dos que não estão acostumados com a força G, o
automobilista não demonstrava enjoo ou abatimento – falava bastante e mostrava
empolgação com a experiência, inclusive recebendo o controle da aeronave,
orientado pelo Comandante do Esquadrão. Foram feitas duas passagens sobre a
Base Aérea e algumas manobras com o caça da Força Aérea. A celebração do
“batismo” Ao aterrissar, uma tradição do Esquadrão
Jaguar caiu como uma luva para o campeão: ao invés de “batizar” o piloto com um
banho de água, a celebração de praxe do 1º GDA era abrir uma garrafa de
espumante, ato tão repetido por Senna nas comemorações no pódio da Fórmula 1. Senna
ainda permaneceu com o esquadrão após o voo: trocou lembranças e recebeu um
certificado do voo supersônico, fazendo questão de levar consigo a tarjeta do
macacão personalizada com seu nome e o brevê da FAB. Leia também: Onda de calor persiste e pode
durar até a segunda semana de maio Hoje, o Mirage III matrícula FAB
4904 utilizado em 1989 está exposto para visitação no Museu Aeroespacial
(MUSAL), unidade vinculada ao Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica
(INCAER), localizada no Campo dos Afonsos, Rio de Janeiro (RJ). Na fuselagem do
supersônico, estão eternizados os nomes dos tripulantes e a data daquele voo. Com
informações/Fotos da Agência Força Aérea Brasileira