Médica relembra rotina exaustiva nas primeiras ondas da doença; quase
700 mil pessoas já morreram em todo o país.
Em 26 de fevereiro de 2020, o
Brasil registrava o primeiro caso de infecção por Covid-19. O paciente, um
homem de 61 anos, deu entrada no Hospital Israelita Albert Einstein, em São
Paulo, com histórico de viagem pela Itália. De lá para cá, quase 700 mil
brasileiros morreram com diagnóstico da doença. Dentre os óbitos, 1,3 mil eram
profissionais de medicina e enfermagem. As primeiras ondas da doença impactaram
fortemente a saúde física, mental e emocional dos que atendiam na linha de
frente das emergências hospitalares. Nessa época, a cardiologista Ana Karyn
Ehrenfried trabalhava na Santa Casa de Curitiba e na UPA (Unidade de Pronto
Atendimento) do bairro Fazendinha, também na capital do Paraná. A chegada do
vírus ao país suspendeu os planos de um doutorado em São Paulo e fez com que a
médica assumisse uma carga de trabalho de até 120 horas semanais em diversas
urgências e emergências, incluindo UTIs (Unidades de Terapia Intensiva)
exclusivas para pacientes. LEIA
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calcificado no abdômen Dia Mundial do Rim: veja 7 sinais que sugerem que você pode estar
com problema renal. Em meio aos picos de casos,
internações hospitalares e óbitos, Ana Karyn chegou a enfrentar filas em uma
empresa de material industrial da cidade para conseguir equipamentos de
proteção individual (EPI), que estavam em falta nas unidades de saúde. Amigos
da igreja se reuniam para levar máscaras à médica, que passava apenas duas
noites em casa e emendava um plantão ao outro. A cardiologista chegou a cogitar
deixar uma mala com roupas no carro por medo de passar a doença para a família.
“Tenho duas filhas, mas, na época, tinha só uma, a Manuela. Ela era novinha,
mas já entendia. Minha sogra mandava mensagem dizendo ‘Ana, por favor, pense na
sua família, no seu marido, na sua filha. O que vai ser se você morrer? Saia
daí’. Quando escolhi a medicina, foi porque queria fazer a diferença na vida
das pessoas. Sabia que estava lá e podia salvar vidas. Falava pra minha filha
que, se acontecesse alguma coisa, queria que ela se orgulhasse de mim por estar
ali e não ter me acovardado.” Três anos após a identificação do primeiro caso,
o acolhimento de pessoas infectadas pela Covid-19 no Brasil ocorre em meio a um
cenário de menos incertezas e muitas lições para os sistemas de saúde público e
privado. Além da tendência de queda na transmissão do vírus, a vacinação de
praticamente todas as faixas etárias abriu caminho para menos casos graves,
internações e mortes. Mas o esgotamento físico e mental de médicos e
enfermeiros deixou sequelas. “Quem esteve lá dentro do hospital nunca mais vai
ser a mesma pessoa. É impossível. As pessoas que entravam na UTI muitas vezes
não sairiam mais. Você, como médico, era a última pessoa que elas veriam.
Lembro de alguns pacientes que eu precisaria entubar e de falar pra lembrarem
das pessoas que amavam. Se acontecesse alguma coisa e eles não voltassem, a última
frase que tinham ouvido era que alguém os amava. Até hoje enche meus olhos de
lágrima só de pensar que isso aconteceu tantas vezes.” “Nós, médicos, temos uma
facilidade, entre aspas, de encarar a morte porque é uma coisa com a qual a
gente convive de maneira mais próxima. Mas não é pra isso que a gente é médico.
Pelo contrário, é pra trazer vida, pra trazer cura. Durante a covid, a gente
fazia tudo que estava ao nosso alcance e, mesmo assim, os pacientes morriam.
Era uma carga emocional que não tem explicação. Chegamos ao final dos picos de
transmissão esgotados emocionalmente. A gente queria ver vida e não morte. Quem
viveu nunca mais vai ser o mesmo.” Exaustão Um
estudo da Universidade Federal de São Carlos apontou a presença intensa de
quadros de exaustão e estresse entre profissionais de saúde de todo o país,
além de má qualidade de sono, sintomas depressivos e dores pelo corpo. Foram
ouvidos 125 profissionais da rede pública, que responderam a questionários
online ao longo de 2021 e 2022. Os resultados mostram que 86% deles sofrem de
burnout, um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e
esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastantes. De acordo
com a pesquisa, 75% dos entrevistados avaliaram negativamente as demandas
emocionais ligadas ao trabalho, 61% criticaram o ritmo do serviço e 47%
reprovaram a sua imprevisibilidade. Dados relacionados a comportamentos
ofensivos também chamaram a atenção dos coordenadores do estudo: 15% dos
profissionais relatara terem sido afetados por atenção sexual indesejada, 26%
foram ameaçados, 9% sofreram violência física de fato e 17% reportaram
bullying. Aos 40 anos e com duas filhas, Ana comemora a mudança de rumos
proporcionada pela chegada da vacina. “A história da covid mudou totalmente
depois da vacina. Mas, como médica e profissional de saúde, vejo que as
consequências, as sequelas emocionais e físicas ainda são longas e vai levar
muito tempo pra gente se recuperar. São três anos que passaram, mas parece
muito mais. Foram vidas marcadas tanto na área profissional quanto no
atendimento a pacientes. Graças a Deus, a gente está aqui pra escrever uma nova
história depois da covid.” Médicos O país
contabiliza, atualmente, 546 mil médicos ativos, uma proporção de 2,56
profissionais por mil habitantes. Dados da plataforma Demografia Médica no
Brasil 2023 mostram que os homens representam 51% desse contingente. A média
geral de idade desses profissionais é 44,9 anos e a maioria permanece
concentrada no Sul e no Sudeste, nas capitais e em grandes municípios. Nas 49
cidades brasileiras com mais de 500 mil habitantes e que juntas concentram 32%
da população brasileira estão pouco mais de 8% dos médicos ativos. Enfermeiros Já o Conselho Federal de
Enfermagem contabiliza 1,8 milhão de profissionais, entre enfermeiros (23%),
técnicos e auxiliares de enfermagem (77%). Desse contingente, 1,5 milhão são
mulheres, o que representa 85% do total. A maioria desses profissionais tem
entre 26 e 50 anos e vive na Região Sudeste (49%). Ainda de acordo com o Perfil
da Enfermagem no Brasil, 42% desses profissionais são brancos, 41% pardos e
quase 37,7% têm outros profissionais de saúde na família.( Fonte R 7 Noticias
Brasil)