Número representa 59,5% do total de servidores da
União expulsos durante o governo do presidente Jair Bolsonaro.
Durante o governo do presidente Jair Bolsonaro, nos últimos três
anos, 922 servidores foram exonerados por corrupção. O número representa 59,5%
do total de servidores expulsos. Dentre os outros motivos para expulsão, está,
por exemplo, abandono e inassiduidade. A maior parte dos casos é no Ministério
da Economia, com 431. Os dados são da CGU (Controladoria-Geral da União),
extraídos do painel da
pasta na última sexta-feira (7).A série histórica vai desde
2003, sendo que o ano com maior número de servidores da União exonerados por
corrupção é 2018. Na época, a CGU promoveu a divulgação do levantamento, com
entrevista coletiva do ministro da CGU, Wagner Rosário, que remeteu o alto
número ao bom funcionamento dos mecanismos. De lá para cá, os dados reduziram.
Em 2019, foram 323 servidores expulsos; no ano seguinte, 343; e no ano passado,
256. Bolsonaro se elegeu com um discurso forte anticorrupção, mas teve que
lidar com alguns fatos que contradizem a narrativa, como o fim da Operação Lava
Jato. Ao comentar o assunto específico em outras ocasiões, o presidente afirmou
que acabou com a operação "porque não tem mais corrupção no governo".Cientista
político e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) de São Paulo, Marco
Antônio Carvalho Teixeira afirma que os dados de corrupção mostram que o
governo Bolsonaro enfrenta os problemas que os outros conviveram. "É um
governo que parece que não reconhece que manter ministros acusados de corrupção
afeta o governo; que lida com um tema como se não fosse dele", avalia.O
professor cita o caso do secretário nacional de Justiça, Vicente Santini, que
foi exonerado em janeiro de 2020 do cargo que ocupava como secretário-executivo
da Casa Civil por ter usado um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para
viajar à Índia, mas, em fevereiro do ano passado, foi nomeado para exercer o
cargo de secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência da República.
Posteriormente, foi remanejado para chefiar a Secretaria Nacional de Justiça. "O
governo poderia usar o caso para mostrar como exemplo de que houve mal uso de
dinheiro público, mas que o servidor foi punido. Mas o governo readmitiu o
servidor e o realocou. Naquilo que o governo pode fazer o exemplo não foi
dado", afirma.A analista da Consultoria de Risco Político Dharma Politics
Raquel Borsoi ressalta que à medida em que um representante eleito afirma
qualquer fato sobre o seu governo, ele se expõe, automaticamente, à validação
desse fato. Considerando, então, os casos de corrupção identificados pela CGU,
a analista avalia que "é bem possível que os casos sejam usados por
adversários na campanha eleitoral deste ano para contraditar o discurso do
presidente"."É um discurso tão caro para ele e tão usado na campanha
de 2018. E, se a gente for pensar em termos de resposta, considerando o padrão
de comportamento, de discurso e as respostas do presidente, também é possível
pensar que ele se esquive das acusações, altere o discurso, mas nunca assuma a
realidade e a responsabilidade da sua gestão", pontua.O sociólogo e
cientista político da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Paulo Baía
afirmou que a corrupção foi a pauta de 2018, amplamente usada para eleger
Bolsonaro naquele ano e desqualificar os demais concorrentes. O cenário foi
reforçado quando o presidente chamou o ex-juiz federal da Lava Jato Sergio
Moro, atual pré-candidato na corrida presidencial, para assumir o posto de
ministro da Justiça e Segurança Pública."No atual momento em que existe um
grande pactos do governo Bolsoanto com todas as forças tradicionais, chamadas
de Centrão", ressalta. O professor avalia que essas "forças
tradicionais" foram negligentes no mecanismo de controle do dinheiro
público. "O combate à corrupção foi uma das principais marcas da campanha
de Bolsonaro. Isso tudo (cenário político e dados de servidores expulsos por
corrupção) torna o governo Bolsonaro semelhante aos que passaram pela república
brasileira", relata.( Fonte R 7 Noticias Brasil)