Os resultados do PISA
mostram que mais da metade dos estudantes brasileiros não alcançaram o nível
básico em criatividade. Eles têm dificuldades em desenvolver uma história a
partir de uma ideia ou em organizar e planejar um projeto para resolver um
problema. Esta avaliação de pensamento criativo foi introduzida pela primeira
vez nesta última edição, reconhecendo a importância de tais habilidades frente
ao novo cenário do trabalho, que está sendo cada vez mais moldado pela
inteligência artificial generativa. É contraditório que um país com uma cultura
tão rica, famoso pelo Carnaval e diversas expressões artísticas, além das
invenções necessárias para enfrentar os desafios do dia a dia, tenha um
desempenho tão fraco em criatividade. Contudo, ao analisar os dados, percebemos
que os resultados são fortemente justificados por fatores sociais, de gênero e
familiares. O relatório demonstra que estudantes que convivem com insegurança
alimentar, instabilidade emocional e familiar têm mais dificuldades em
desenvolver o pensamento criativo formal. Enquanto os estudantes mais ricos
alcançaram média de 30 pontos, ainda assim abaixo da média da OCDE (33), os
estudantes mais pobres têm uma média de 19 pontos, semelhante à média da
Indonésia. A escola é, sem dúvida, a principal condutora de um efetivo processo
de mudança e melhoria. No entanto, sozinha, não consegue abranger todos os
aspectos da formação educacional de uma pessoa. Além disso, essa instituição
precisa se adaptar às novas exigências e ferramentas disponíveis na sociedade;
caso contrário, cada vez mais jovens ficarão para trás. Nesse contexto,
iniciativas como as desenvolvidas pelo AfroReggae se tornam ainda mais
essenciais. Integramos a produção digital de forma transversal em nossas ações,
promovendo projetos como Crespo Music para diversificação do cenário musical e
o AfroGames que visa a inserção de jovens no gigante e crescente mercado de
jogos eletrônicos. Desde sua criação, o AfroReggae tem utilizado a arte e a
cultura como ferramentas para a transformação social, focado em jovens de áreas
socioeconomicamente menos favorecidas. Apesar do impacto positivo, projetos
artísticos e culturais enfrentam grandes desafios, especialmente no que diz
respeito ao financiamento. A compreensão da subjetividade inerente à arte e à
cultura muitas vezes dificulta a captação de recursos, principalmente privados,
pois os benefícios dessas iniciativas podem ser mais abstratos e menos
imediatos. O Brasil passou por um fosso no que se refere ao financiamento da
cultura e agora tem demonstrado uma nova e boa direção. É necessário que, com
os resultados do PISA, as empresas também encarem a questão e se transformem em
instrumentos de mudança, indo além do investimento feito pelo marketing, do
contrário, até o desenvolvimento econômico ficará prejudicado. Um trabalho de
base é crucial para transformar verdadeiramente a realidade dos jovens
brasileiros. Apenas através de uma estrutura que valorize tanto o pensamento
crítico quanto a expressão artística e cultural poderemos preparar nossos
jovens para os desafios do futuro. E para isso, é crucial que haja uma
compreensão mais ampla do valor da arte e da cultura, acompanhado de um esforço
conjunto para garantir o financiamento e apoio necessário para essas
iniciativas. Danilo Costa é o CEO do Grupo Cultural AfroReggae e membro do
Conselho de Administração da produtora AfroReggae Audiovisual. Graduado em
Sistemas de Informação, especialista em Gestão do Sistema Único de Assistência
Social e com MBA em Administração de Empresas pela FGV; tem ampla experiência
no terceiro setor e na administração pública, tendo atuado na Prefeitura de
Nova Iguaçu, no Senado Federal e nos Governos de Minas Gerais, Rio de Janeiro e
Goiás por meio da Unesco. ( Fonte Jornal
Contexto Noticias)
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