Vulnerabilidade de quem está em cidades sitiadas e em corredores humanitários favorece a prática desse tipo de crime.
A população de um país em guerra se vê exposta a diversas
vulnerabilidades já que seus direitos são constantemente violados em meio ao
avanço das tropas invasoras. Crianças e mulheres são os mais vulneráveis e os
mais afetados por todo tipo de violência em um conflito. Na Ucrânia, por
exemplo, entidades denunciam o tráfico humano que está ocorrendo no país desde
o início da invasão russa. Soraia Mendes, especialista em Direitos das Mulheres
e professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie, aponta que o tráfico de
pessoas consiste em uma rede organizada. “Existe um sistema de crime
internacional que envolve o trabalho forçado de crianças e mulheres, exploração
sexual e venda de órgãos. Essa rede, obviamente, observa os países que passam
por conflitos armados, onde a vulnerabilidade se coloca como um contexto
propício para o crime.” Para ela, a exposição de quem se encontra em cidades
sitiadas ou em corredores humanitários se torna um “prato cheio” para a ação
dos grupos organizados. “Essas pessoas perderam suas casas e familiares, muitas
mulheres estão vagando sozinhas com seus filhos e filhas, e muitas crianças
acabam se perdendo no meio do caminho. A situação de miséria está intimamente
relacionada ao tráfico humano.” De acordo com a organização Human
Trafficking Search, o tráfico de crianças e mulheres esteve ligado a conflitos
em quase todas as regiões do mundo. Entre eles, no Oriente Médio, o grupo
terrorista Estado Islâmico raptou e explorou sexualmente milhares de pessoas da
etnia yazid, muito presente no Iraque. A organização também aponta que a guerra
civil na República Centro-Africana inclui mais de 6 mil crianças traficadas
para servirem como soldados. No Sudão do Sul, o número desse tipo de
tráfico chega a 16 mil. Em meio à guerra da Ucrânia, os casos de tráfico humano
começam a ser denúnciados a partir das rotas de fuga do país. Thomas Hackl, da
organização humanitária Caritas na Romênia, afirmou em entrevista à agência de
notícias AFP que recentemente sua equipe deteve um homem que tentava levar duas
jovens ucranianas para a Itália. Segundo ele, os traficantes se misturam com a
população e propõem um meio de transporte para retirar as pessoas do país, em
um contexto de desespero para deixar as zonas de guerra o mais rápido possível.
A professora Soraia ressalta que o tráfico humano ultrapassa as fronteiras do
país que enfrenta um conflito armado. “A gente não tem nem dimensão dos
contingentes de pessoas que estão saindo traficadas das áreas de conflito.
Também existem as mulheres e crianças que conseguem deixar o país, mas que
ainda continuam vulneráveis depois da fronteira e, portanto, estão sujeitas ao
tráfico.” Crime de guerra e punição Para ser julgado em
âmbito internacional, o tráfico humano depende da constatação de uma vítima
coletiva, já que casos isolados não configuram um crime de guerra.O lucro
representa uma forte característica da atividade e a principal causa de sua
ocorrencia. Segundo a Organização Internacional do Trabalho, o crime gera 150
bilhões de dólares em lucros ilegais por ano. Deste total, 99 bilhões de
dólares são arrecadados devido à exploração sexual comercial, enquanto outros
51 bilhões resultaram do trabalho forçado. No caso da guerra na Ucrânia e da
análise dos crimes ocorridos, como a Rússia não se submete à jurisdição do
Tribunal Penal Internacional (TPI), o próprio país deverá reconhecer a
investigação do tribunal para punir os criminosos. Outra alternativa seria um
julgamento interno.“Esses crimes acabam tendo uma relevância menor em relação a
outras situações. Eles demandam uma atenção específica, mas isso normalmente
acaba não acontecendo”, explica a professora Soraia Mendes.Ela ainda aponta que
as vítimas enfrentam dificuldades para denunciar os acontecimentos. “Essas
pessoas não têm condição alguma de veicular uma denúncia, que nesses caso tem
que ser internacional. É preciso levantar uma voz coletiva para falar sobre os
sofrimentos que enfrentam.”( Fonte R 7 Noticias Internacional)
Nenhum comentário:
Postar um comentário