Polícia indiciou homem por posse ilegal de arma de fogo, mas descartou homicídio; policial federal havia invadido propriedade.
A Polícia Civil de Goiás concluiu o inquérito que investigava a morte do agente
da Polícia Federal Lucas Valença, que levou um tiro no
peito após invadir uma fazenda em Buritinópolis, em Goiás, em 2 de março. A
investigação concluiu pelo indiciamento do dono da fazenda pelo crime de posse
ilegal de arma de fogo, mas descartou homicídio, uma vez que o homem agiu sob
legítima defesa, de acordo com a apuração. O processo foi remetido ao Tribunal
de Justiça de Goiás nesta quarta-feira (13). O proprietário rural chegou a ser
preso em flagrante após atirar no policial, mas foi solto ao pagar fiança de R$
2 mil. A arma utilizada era originalmente de pressão, mas foi alterada para uma
espingarda calibre 22. Inicialmente, o crime chegou a ser apurado como
homicídio. "Ele tinha dentro de casa uma espingarda calibre 22 que ele não
tinha autorização para portar nem posse dentro do imóvel", disse o
delegado do caso, Alex Rodrigues. "Ele trocou um som de carro nessa
arma", afirmou o policial. "Sobre o homicídio, ele agiu em legítima
defesa para proteger sua vida e de sua família", acrescentou. Segundo o delegado, a conclusão se baseou em provas e
depoimentos. Ele disse que o agente enfrentou traumas ao longo da vida, como as
mortes do pai e do irmão mais velho, que contribuíram para o quadro de
depressão. Há dois anos, ele teria passado por um episódio de surto psicótico,
mas recebeu tratamento, teve alta e estava bem. O laudo toxicológico no
corpo do agente descartou a ingestão de álcool, mas acusou a presença de THC,
princípio ativo da maconha. "Só que a gente não sabe precisar se a
substância foi advinda de algum uso ilícito de droga ou de algum
medicamento", afirmou o delegado. A psicóloga que o acompanhava não
revelou quais remédios Valença tomava. Dia
do disparo Durante depoimento à polícia, o fazendeiro deu detalhes do que
ocorreu durante a noite de março. Ele narrou que estava em casa com a esposa e
a filha, quando ouviu gritos do lado de fora. Valença teria ordenado que eles
saíssem do imóvel e os ameaçou de morte. O agente da PF ainda teria gritado xingamentos
e dito que "naquela casa havia um demônio". O policial teria
desligado a energia da propriedade e arrombado a porta da casa. Foi nesse
momento que o fazendeiro alertou Valença de que estava armado, de acordo com o
depoimento. Mesmo assim, o agente invadiu a casa, e o proprietário disparou um
único tiro. A vítima, já atingida no peito, gritou que era policial. O
fazendeiro acionou a Polícia Militar e pediu socorro de uma ambulândia. O
policial federal foi socorrido, mas morreu no local. A apuração policial
concluiu que ele morreu por hemorragia, após ter o fígado perfurado. A
família de Lucas Valença relatou que o agente enfrentava depressão e que estava
em tratamento. No fim de semana em que foi baleado, o agente chegou à chacara
da família em Santa Rita dizendo que aquele seria o melhor feriado de sua vida. Ele teve um surto
psicótico após se irritar com o cachorro, segundo
testemunhas.Na ocasião, ele aproveitava o feriado de Carnaval em um chalé na
cidade de Buritinópolis ao lado da família e amigos, mas teve uma reação
desproporcional à irritação. "Depois disso começou a apresentar um
comportamento melancólico, depressivo que só foi piorando", pontuou o
delegado Alex Rodrigues. "Foi ficando agressivo, danificou todo o imóvel,
e falava palavras desconexas". Como estava alterado, Lucas chegou a
ser medicado. O padrasto dele resolveu chamar amigos da Polícia
Federal, para que colegas de corporação fossem ajudá-lo. O objetivo era
interná-lo em uma clínica. Os agentes
foram até a chácara para transportá-lo de volta a Brasília. Dentro do carro,
Valença chegou a disparar uma submetralhadora, enquanto ameaçava os colegas
pedindo para retornar à área rural. Na altura de Alvorada do Norte, a
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