Samuel Lorenzzo, de 5 anos, foi um dos feridos na Creche Cantinho Bom
Pastor. Quatro das crianças atingidas morreram.
Samuel Lorenzzo, de 5 anos, ainda
não entende o que ocorreu na Creche Cantinho Bom Pastor,
onde ele e mais oito colegas foram feridos por um agressor, que invadiu o local com uma
machadinha. "Meu filho fala que foi um soco",
conta o mecânico industrial Fabio Junior Santos, de 42. Poucos milímetros
garantiram a sobrevivência de Samuel, que sofreu um corte grave e trincou a
mandíbula. Das crianças atingidas, quatro não resistiram.
"A médica falou que o golpe foi perto da jugular dele", afirmou o
pai. "Quando olho o rosto dele e vejo aquele ferimento, sei que poderia
ter sido fatal." O menino ainda vai ter de
passar por uma cirurgia por causa do dano sofrido na
mandíbula. A orientação dos psicólogos que atenderam o menino no hospital,
segundo o pai, é não questionar o menino sobre o episódio, mas deixar que ele
conte as histórias voluntariamente. A criança tem relatado detalhes da cena de
horror. "Estará na mente dele o resto da vida dele", afirma Fabio
Junior. "Tento não chorar na frente dele." Durante a entrevista, o
pai segura o travesseiro de estimação do filho, que Samuel batizou de
"Confortável". Foi um presente recebido pelo menino em uma festa do
pijama da igreja que a família frequenta. Baque
O pai lembra que Samuel tinha o costume de ir para a creche
ainda sonolento. "Ele só acorda no portão da escolinha." No dia do
atentado, Fabio Junior deixou o menino no local por volta das 7 horas. O baque
veio no meio da manhã, quando Fabio estava no trabalho. "Uma amiga nossa
ligou para mim", conta. Como estava perto das máquinas do trabalho, ele
não conseguiu ouvir muito, mas desconfiou que era algo sério. Depois, um amigo
mostrou a foto da creche que havia recebido no celular. "Minhas pernas
amoleceram, meus braços amoleceram. Fiquei muito nervoso, comecei a
chorar." Desnorteado, Fabio saiu correndo. Chegando nos arredores da
creche, havia uma multidão. A rua estava cheia e a entrada da escolinha, já
isolada. "A gente teve que descer do carro e ir andando a pé", diz.
Em um primeiro cordão feito pela polícia, só passavam os pais. Em um segundo,
só quem desse os nomes. "E eles falavam para não entrar no colégio naquela
segunda parte." Nervoso Fabio conta que estava
tão nervoso na hora que só conseguia falar o nome do filho, na esperança de
receber alguma informação. "Aí uma professora, a Célia, veio correndo e já
falou para gente: 'pai, mãe, o Samuel está bem'. Só que eu não conseguia
escutar, não conseguia entender, estava transtornado", lembra ele,
mostrando emoção. Em seguida, Fabio conta que um policial, que se apresentou
como psicólogo - ele não sabe exatamente quem é -, o apertou pelos braços e
disse que ele tinha que ter forças, cuidar da família dele e que Samuel estava
no hospital. No hospital Os pais
só viram o menino quando ele foi levado para o quarto, já no início da tarde.
Só ali Fabio diz ter acreditado que o filho estava bem, ainda que estivesse com
curativos no rosto e no pescoço. Samuel foi recobrando a consciência aos
poucos. "Ele falou comigo: 'pai, estou vivo. Eu estou ferido, mas estou
vivo'", relembra. O pai diz que isso era algo que o menino falava para
todo o corpo médico ao longo do tempo que ficou internado no Hospital Santo
Antônio, entre quarta e quinta. O filho ganhou uma série de presentes no
hospital, desde ovos de Páscoa até brinquedos. Quatro sobreviventes ficaram
todos em um mesmo quarto.
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Todos receberam alta, mas Samuel ainda deve ter que passar por um
procedimento cirúrgico na próxima semana, já que um dos golpes fez o osso da
mandíbula dele trincar. "Está bem inchado ainda, por isso estão
esperando", diz o pai. Mesmo com dores na boca, o garoto tem conseguido
comer. "Ele é um menino muito ativo, chamo ele de serelepe. É um menino
muito rápido", afirma o pai. O pequeno Samuel já até voltou a correr pelo
apartamento em que moram. A sensação, torce Fabio, é de que o pior já passou. Futuro A família de Samuel é de Curitiba e, há três anos, veio morar com a
família em Blumenau, por conta do trabalho dos pais. É o primeiro ano do filho
caçula do casal na creche. O pai elogia o Cantinho Bom Pastor. "As
professoras, as diretoras, todos são muito bons para as crianças", diz.Fabio
é grato pela ajuda da equipe da creche. "Todos os professores foram heróis
ali. Todos tentaram pegar o máximo de crianças, correr para dentro das salas e
se trancar."Segundo o pai, Samuel relata orientações da professora na hora
do ataque. "Ele disse: escutei a 'pro' (como o menino chama as
professoras) Célia falando para eu correr, e corri para dentro da sala. Aí eles
fecharam a sala e a ela colocou um pano no meu rosto'", diz.Ao mesmo
tempo, ele reconhece que seria difícil deixar o menino estudando no Cantinho
Bom Pastor. "Se realocasse a escola para outro local, eu continuaria com
eles, porque são muito amorosos. Mas acho que nem professores nem alunos...
ninguém vai ter cabeça para estar ali dentro."Fabio cobra um mais ações
preventivas para evitar tragédias em escolas e julgamento rigoroso do criminoso
que cometeu o atentado em Blumenau. Defende ainda a tipificação de atentados
assim como terrorismo.Ele é a favor de colocar profissionais de segurança
pública nas escolas, medida anunciada recentemente pela prefeitura de Blumenau,
que também promete câmeras e psicólogos nas escolas. "Estou ao mesmo tempo
alegre com meu filho, que está em casa, mas com o coração com os outros pais.
Porque eu estou com o meu ali em casa. Mas e os pais que enterraram quatro
crianças?"( Fonte R 7 Noticias Brasil)