Especialistas alertam para um inevitável novo aumento de
casos, sobretudo após as festividades de fim de ano.
Da mesma forma com que a Europa enfrenta uma quarta
onda da Covid-19, o Brasil viverá, nos próximos meses, um
aumento de casos da doença. Na avaliação de especialistas, esse cenário é
inevitável. Sabendo disso, o Ministério da Saúde se prepara para enfrentar a
situação e corre para acelerar o processo de vacinação, tanto com a imunização
de reforço com pela busca concentrada daqueles que não completaram o esquema
vacinal. A região Norte está no foco das preocupações. Com uma cobertura
heterogênea e pela vulnerabilidade aumentada por fazer fronteiras com outros
países, o Norte é, historicamente, a região em que as ondas se manifestam
primeiro. As baixas coberturas na América Latina também elevam a tendência,
sobretudo diante do indicativo do governo federal de flexibilizar as barreiras
terrestres, atualmente com passagens restritas a cargas, na maioria dos pontos. Citando
o exemplo da situação pandêmica que piorou na Europa e nos Estados Unidos, o
ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, ressaltou a necessidade de ligar o sinal
de alerta. "Temos que colocar as nossas inteligências à disposição de
buscar estratégias que sejam capazes de ter efetividade e conter uma eventual
nova onda aqui no Brasil", disse, durante a reunião tripartite desta
semana.Queiroga ponderou que nos países em que há aumento da pressão sobre o
sistema de saúde e da mortalidade o problema se dá, em boa parte, a partir das
pessoas que não aceiram a imunização, além da perda gradativa da
efetividade das vacinas, exigindo um reforço na imunização. Os esforços
devem ser direcionados não apenas ao Norte, sobretudo ao considerar o cálculo
de mais de 21
milhões de brasileiros com pendência para receber a segunda dose. "Temos que começar a trabalhar a
partir de agora. Buscas as melhores alternativas para que a população possa,
livremente, buscar as salas de vacinação ou que nós, com mecanismos de busca
ativa, procuremos suprir essa necessidade", pediu Queiroga aos secretários
de saúde dos estados e municípios. É justamente neste contexto de
acelerar a vacinação e preparar o país para enfrentar os aumentos de caso que o
Ministério da Saúde diminuiu o intervalo entre a dose de reforço e o término do
esquema vacinal primário de seis para cinco meses e decidiu privilegiar o
esquema heterólogo — quando há aplicação de diferentes vacinas na mesma
pessoa — contrariando a recomendação da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa). A lógica é: quanto maior a cobertura vacinal, menos a
chance de agravamento dos casos e sobrecarga do sistema de saúde. "A nossa
região latino-americana vai ter sim uma nova onda. A diferença vai ser a de um
povo vacinado contra um povo que não teve a oportunidade de vacinar-se",
alertou a médica Socorro Grosso, representante da Organização
Pan-Americana da Saúde (Opas), braço da Organização
Mundial da Saúde (OMS). Para Gross, a capilaridade do
Sistema Único de Saúde (SUS), a disponibilidade de vacinas e a cultura do
brasileiro de aderir às campanhas vacinais são pontos essenciais para que o
país enfrente novos surtos. "Ainda não é suficiente, porque temos
municípios com coberturas de vacinação mais frágeis. Mas falta um pouco mais
para fazer do Brasil um caso de sucesso", ponderou. Festividades e aglomerações Apesar
da cobertura robusta do Brasil, a preocupação com a nova onda se intensifica
com a proximidade das festas de fim de ano e do Carnaval. O próprio presidente
Jair Bolsonaro admitiu a apoiadores, na sexta-feira (26), que "está vindo
uma outra onda de Covid", mas descartou
a possibilidade de novas restrições, inclusive em dificultar a
entrada de estrangeiros no Brasil. "Tem que aprender a conviver com o
vírus." A falta de medidas mais rígidas para receber viajantes de fora
preocupa a Anvisa, que teme que o Brasil se torne um ponto de escolha de
turistas não vacinados. Em novas recomendações, a agência
destaca a necessidade de revisar a política de fronteiras brasileira,
"especialmente para a inclusão da cobrança de prova de vacinação, de forma
a estimular que o Brasil não se torne um dos países de escolha para os turistas
e viajantes não vacinados".Cabe ao governo acatar ou não as recomendações
e o momento de agir é crucial, alerta o professor Domingos Alves, da Faculdade
de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP. "Isso pode fazer a diferença
em relação a essa nova onda". Ele ressalta que as festas de Natal,
Ano Novo e, principalmente, o Carnaval "são condições adequadas para a
disseminação da Covid" e que é preciso avançar na vacinação. "Todos
os países com média acima de 70% da população vacinada não tiveram aumento da
porcentagem de morte por milhão da quarta onda, diferente dos países que não
atingiram esse percentual. O Brasil chegou a 60% da população vacinada com um
programa de reforço adiantado e uma porcentagem maior do que a praticada na
Europa". Para Domingos, "é preciso que se tenha noção adequada que a
epidemia não acabou e que a quarta onda na Europa acende um alerta para o
Brasil sobre o nosso processo de vacinação". Coordenador do Núcleo de
Infectologia Hospital Sírio-Libanês, em Brasília, o médico Alexandre Cunha,
destacou, ao R7, que as reaberturas e voltas
gradativas de eventos são inevitáveis, assim como o aumento de casos. "A
questão é: depois de aumentar, os casos graves vão crescer junto, as
hospitalizações, óbitos? Isso vai depender basicamente da vacinação."O
esforço, para Cunha, precisa ser atrelado à vigilância em cada localidade,
cabendo aos gestores locais avaliar se, com as taxas vacinais e novos casos
infecções e de ocupação de leitos, é válido manter as restrições de eventos
neste fim de ano e no Carnaval de 2022. Cunha argumentou que, mesmo nos
países europeus com recrudescimento da pandemia, em regiões onde a vacinação é
forte, há 30 vezes menos mortalidade do que em locais onde a população não está
devidamente imunizada. "Está mais que comprovado que a vacina é altamente
protetora e possui com bastante segurança. Não faz sentido ter dúvida da
relação risco x benefício."Outro fator que põe em risco a estabilidade da
situação de saúde é o surgimento de novas variantes. "Neste caso, se
acontecer de uma nova variante se difundir rapidamente e as vacinas não
apresentarem boa proteção, talvez tenhamos que voltar com medidas mais
restritivas", ponderou Cunha, destacando que as medidas precisam ser
adotadas por localidade."Toda generalização incorre em erro."( Fonte
R 7 Noticias Brasil)
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