Somente neste ano, 699 mulheres foram vítimas
de feminicídio entre janeiro e junho, uma média de quatro casos por dia
A violência de gênero e a violência
intrafamiliar cresceram nos últimos quatro anos no país. É o que aponta
levantamento realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), que
reuniu as estatísticas criminais de feminicídio e estupro dos primeiros
semestres dos últimos quatro anos. Durante esse período, o número de casos de
feminicídio cresceu 10,8%, num total de 2.671 mortes nos primeiros semestres
dos últimos quatro anos. Desse total, 699 casos ocorreram entre janeiro e junho
deste ano, um aumento de 3,2% na comparação com 2021, e que significa uma média
de quatro mulheres mortas por dia. No caso dos estupros, foram 29.285
ocorrências em 2022, um aumento de 12,5%, dos quais 74,7% foram registrados
como estupro de vulnerável, em que as vítimas são incapazes de consentir com o
ato sexual. No acumulado dos quatro anos, mais de 112 mil mulheres foram
estupradas no país se levarmos em consideração apenas o primeiro semestre de
cada ano. “Os dados mostram que a violência contra a mulher aumentou nos
últimos quatro anos, ao mesmo tempo em que o investimento em políticas públicas
foi deliberadamente reduzido, sobretudo em nível federal. É importante observar
que o aumento de 10,8% nos feminicídios contrasta com uma série de outros
crimes, como os homicídios em geral, que caem ano a ano desde 2018”, explica Samira Bueno,
diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. “Mais do que
nunca, está clara a necessidade de o novo governo apresentar alternativas para
recuperar o tempo perdido e priorizar políticas públicas de prevenção e enfrentamento
à violência de gênero”, pontua Regiões Segundo o
levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a região Norte é a que
acumula maior crescimento no período de quatro anos: 75%, seguida pelo Centro
Oeste (29,9%), Sudeste (8,6%) e Nordeste (1%). Apenas a região Sul teve redução
no número de feminicídios registrados entre 2019 e 2022, com queda de 1,7%. As
elevações mais acentuadas de casos no período foram registradas nos estados de
Rondônia (225%), Tocantins (233,3%) e Amapá (200%), que aparecem entre os 16
estados que mantiveram os índices desde 2019 ou apresentaram algum tipo de
crescimento nas estatísticas. Outros 11 estados apresentaram redução: Alagoas
(-42,3%), Bahia (-2,1%), Distrito Federal (-42,9%), Espírito Santo (-6,3%),
Paraná (-33,3%), Piauí (-18,8%), Rio Grande do Norte (-35,7%), Roraima (-50%),
Santa Catarina (-9,4%), São Paulo (-11,8%) e Sergipe (-9,1%).Estupros de
vulnerável De acordo com os dados reunidos pelos
pesquisadores do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, entre janeiro e junho
de 2022 foram registrados 29.285 estupros em vítimas do sexo feminino, um
aumento de 12,5% em relação ao primeiro semestre de 2021. E 74,7% dos casos
foram estupros de vulnerável – quando a vítima é incapaz de consentir. Isso
significa que, entre janeiro e junho deste ano, ocorreu um estupro de menina ou
mulher a cada nove minutos no Brasil, em média. Os dados também mostram que os
registros de casos de estupro e estupro de vulnerável seguem em alta e já
atingem os patamares registrados antes da pandemia de Covid-19. Para se ter uma
ideia do impacto que as medidas sanitárias tiveram sobre esse tipo de crime,
basta olhar a trajetória dos casos no período. No primeiro semestre de 2019,
foram 29.814 registros de estupro no Brasil, enquanto em 2020, no auge da
pandemia, foram 25.169 registros nos primeiros seis meses. O número voltou a
subir já em 2021, com 28.035 registros, e em 2022, com 29.285 casos.Desafios
Apesar do crescimento constante dos registros de feminicídios, os recursos
investidos pelo Governo Federal para o enfrentamento dessa violência contra a
mulher têm diminuído drasticamente. Em 2022, R$5 milhões foram destinados ao
enfrentamento da violência contra mulheres, o menor repasse de recursos dos
últimos quatro anos, de acordo com uma nota técnica produzida pelo Instituto de
Estudos Socioeconômicos (Inesc). Outros R$8,6 milhões foram destinados à Casa
da Mulher Brasileira.Essa redução dos valores destinados às políticas públicas
de enfrentamento à violência contra a mulher ocorreu em um período em que o
Governo Federal priorizou uma visão familista ao criar o Ministério da Família
e dos Direitos Humanos.O novo governo tem o desafio de implementar uma série de
instrumentos criados nos últimos anos para o enfrentamento da violência de
gênero, mas que nunca saíram do papel, como o Plano Nacional de Enfrentamento
ao Feminicídio, o Plano Nacional de Prevenção e Enfrentamento à Violência
contra a Mulher na Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social e a
Política Nacional de Dados e Informações (PNAINFO) relacionadas à violência
contra as mulheres.“O Governo Federal historicamente teve um papel importante
no enfrentamento à violência contra a mulher. O desafio é restabelecer o
entendimento da desigualdade de gênero e poder como elementos centrais para
compreensão das violências sofridas por meninas e mulheres, cis, trans e
travestis. É um tema que precisa ser endereçado por diferentes pastas”, conclui
a diretora executiva do Fórum.( Fonte Jornal Contexto Noticias Goiás)
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