Maior
valorização dos seminovos desde o Plano Cruzado é motivada pela falta de
insumos para produzir veículos 0km.
As negociações de carros usados
tiveram um boom neste ano, ocupando espaço dos modelos novos que sumiram das lojas em
razão da falta de chip para a produção. Com demanda em
alta, há uma escalada de preços que não se via desde o Plano Cruzado (nos anos
1980). Há modelos com valorização de mais de 20% em um ano. Num mercado normal,
o automóvel perde entre 15% a 20% do seu valor após um ano de uso.Embora o
segmento também já registre falta de produtos, as vendas até agosto são
recordes, com 7,59 milhões de automóveis e comerciais leves. O número é 48,8%
superior ao de 2020, um dos anos mais fracos para o setor por causa da
pandemia, mas também 6,6% acima dos 7,12 milhões de usados vendidos em igual
período de 2019, até então o melhor resultado da história, segundo a Fenabrave,
que representa as concessionárias. A relação entre a venda de carros usados e
novos também está no ponto máximo da série histórica realizada desde julho de
2004 pelo Bradesco, que trabalha com dados dessazonalizados. Para cada
automóvel zero vendido no ano, foram comercializados 6,5 usados. O maior nível
anterior tinha sido verificado na crise de 2015 e 2016, quando ficou em 5,5.
"Em períodos de crise é normal essa métrica subir, mas dessa vez a massa
salarial foi preservada pelos estímulos [do governo] e as vendas cresceram em
parte por causa da demanda, e em parte por causa da falta dos novos", diz
Renan Bassoli Diniz, economista do Departamento de Pesquisa e Estudos
Econômicos do Bradesco. Os preços dos carros novos também aumentaram ao longo
do ano, mas abaixo dos usados. Segundo o IPCA, índice que mede a inflação dos
preços ao consumidor, veículos zero acumulam alta de 9,8% nos 12 meses
encerrados em agosto, enquanto os usados subiram 12,5%.Corrida O
vice-presidente da Fenabrave, José Maurício Andreta Júnior, diz acreditar que o
mercado de usados deve encerrar o ano com mais de 11 milhões de veículos
vendidos, confirmando assim o melhor resultado da história do segmento. Para os
novos, diz ele, é difícil fazer previsões porque vai depender da capacidade das
montadoras de entregar carros para as revendas. A previsão do mercado é de que
a falta de semicondutores deve se manter pelo menos até meados de 2022. Mais
focadas em modelos novos, concessionárias também correm atrás de usados em
portais e oferecem preços mais atraentes aos proprietários. Antes da pandemia,
o mais comum era receber o usado na troca pelo novo e repassá-lo a lojistas do
ramo. Agora, a maioria das revendas busca carros seminovos (com até três anos
de uso) para alavancar os negócios. Há, inclusive, grupos abrindo lojas
exclusivas para vender usados. Preço supera 0km Vender
um carro usado por um ano e com preço melhor do que aquele pago na compra é
algo inédito num momento de estabilidade econômica. "Vi isso só na época
da hiperinflação", afirma Eduardo Jurcevic, presidente da Webmotors, maior
plataforma de compra e venda de carros do País. Modelos de grande procura, como
Volkswagen T-Cross e Gol, tiveram em um ano valorização de 27% e 24%,
respectivamente, conforme dados da KBB Brasil, empresa especializada em
pesquisa de preços de veículos (veja quadro ao lado). Para Ana Renata Navas,
diretora-geral da Cox Automotive do Brasil, dona da KBB, a alta procura por
carros usados - e a consequente valorização dos preços - se deve, em parte, à
pronta entrega que o segmento oferece ao consumidor. Muitos modelos novos têm
filas de espera de quatro a seis meses. Outro ingrediente, diz ela, é que a
falta de carros novos reduz também a oferta de usados, pois normalmente eles
compõem o pagamento do zero. "Com menos veículos seminovos e usados
disponíveis nos estoques das lojas, há mais pressão sobre os preços",
explica.Segundo Ana Renata, caso a crise de semicondutores perdure para além do
primeiro semestre de 2022, ou se agrave no curto e médio prazos, os fatores
citados "podem pressionar ainda mais os preços, a ponto de arrefecer a
demanda por usados".No limite. Na opinião de Jurcevic, a elasticidade de
preços vai até um certo ponto. "Acho que está muito próximo de chegar em
um patamar em que o consumidor vai decidir esperar mais um pouco porque os
preços estão muito altos", diz. Como no geral modelos novos e usados ficaram
mais caros, o consumidor terá de avaliar se compensa trocar o carro valorizado
por outro que também valorizou. Jurcevic afirma que este já é o melhor momento
da história de 25 anos da Webmotors no Brasil. O resultado financeiro da
empresa cresceu mais de 30% até agosto ante igual período de 2020 e ele
acredita que esse resultado será mantido até dezembro. O número de usuários
únicos, de 12 milhões ao mês, também será superado.Só não será melhor, ressalta
o executivo, porque o número de veículos anunciados diminuiu. "Antes da
pandemia chegamos a ter 410 mil carros anunciados, e hoje temos 330 mil." O
AutoShow, tradicional feirão de carros usados que há um ano foi transferido do
Anhembi para o Expo Center Norte, na capital paulista, retomou neste ano a venda
presencial nas manhãs de domingo, depois de passar praticamente todo o ano
passado sem realizar o evento. Leandro Ferrari, diretor comercial do AutoShow,
afirma que o número de carros à venda diminuiu, assim como o público, em razão
da pandemia. Ressalta, contudo, que em 2018 e em 2019 foram vendidos 30% dos 15
mil e dos 18 mil carros ofertados no feirão. Neste ano, até agosto, 52% dos 3,3
mil modelos expostos foram vendidos. Mesmo com o aumento de plataformas de
vendas on line, ele diz que o feirão continua atraindo muito público comprador,
visitas que devem aumentar quando a situação da pandemia estiver mais
controlada. "O local é seguro, há muitas opções de carros, a negociação é
feita na hora, sem intermediários e temos todos os serviços para dar suporte à
compra, como vistoria cautelar, parceiros da área de financiamento e
despachante", diz Ferrari. Desaceleração. Ferrari cita o Fiat Argo modelo
2019 como exemplo da supervalorização dos preços, em especial dos seminovos. O
modelo era oferecido por R$ 40,8 mil em setembro do ano passado e hoje custa R$
52,4 mil. "Começa a ocorrer uma desaceleração da velocidade de vendas
porque hoje o valor foge do bolso da maioria dos consumidores." A Kavak,
startup mexicana que atua na compra e venda online de carros com até 10 anos de
uso, iniciou operações no Brasil em julho com 2,5 mil unidades em estoque. Hoje
tem 3,5 mil. O investimento inicial de R$ 2,5 bilhões na operação brasileira
deve ser ampliado no próximo ano com a expansão das operações. Nos últimos
quatro anos, várias startups se instalaram no País para atuar no mercado de
carros de segunda mão. Além da Kavak chegaram a Creditas - comprou a Volanty -,
InstaCarro, Carupi e a argentina Karvi. Desaceleração em 2022 A
previsão de entidades de classe do setor automotivo e economistas é de que o
mercado de carros usados vai crescer em ritmo mais moderado em 2022, enquanto o
de novos tende a melhorar seu desempenho. A expectativa é de que no segundo
semestre a falta de semicondutores estará controlada. A previsão do Bradesco é
de alta de 2,5% na venda de usados, para 12 milhões de unidades, e de 7,5% para
os novos, somando 2,2 milhões de unidades.Renan Bassoli Diniz, economista do
Departamento de Pesquisa e Estudos Econômicos do Bradesco, lembra que há
demanda, mas a oferta continuará prejudicada no primeiro semestre. Ele avalia
que o mercado de novos perdeu o melhor momento para se recuperar rapidamente e
voltar ao nível pré-pandemia, quando houve estímulos financeiros do governo à
população e os juros estavam mais baixos. "O ano de 2022 terá menos
estímulos, juros mais altos, período de volatilidade eleitoral e espera-se alta
do PIB menor que a deste ano", ressalta Diniz. Eduardo Jurcevic, da
Webmotors, está mais otimista. Pesquisa feita pela empresa em julho com 4,2 mil
consumidores indica que 75% deles têm intenção de adquirir carro novo ou usado
ainda este ano, 7% desistiram da compra e 18% vão comprar em 2022. "O
carro está mais caro, mas ainda tem crédito no mercado", diz. O gerente de
logística José Cândido, de 44 anos, desistiu de adquirir um modelo JAC T50 novo
por causa do tempo que teria de esperar para recebê-lo. Depois de escolher o
carro que desejava, ele foi informado pelo vendedor de que o veículo, importado
da China, chegaria em cerca de quatro meses.O prazo de entrega extenso fez com
que Cândido optasse por um outro modelo, usado, mas com pronta entrega
garantida pela concessionária. "Eu uso o carro no dia a dia. Como tenho
uma pessoa cadeirante na família, não posso esperar tanto para receber um zero
quilômetro" afirma ele.Apenas quatro meses depois, Cândido decidiu trocar
novamente de carro. Ele se desfez do Chevrolet Tracker que havia comprado em
abril e usou o valor para pagar outro seminovo, agora um Chevrolet Cruze."O
preço do zero subiu muito, não compensa para mim. Como meu carro estava
quitado, entreguei ele e peguei outro no lugar, saiu elas por elas; eu só
precisei arcar com a documentação", explica Cândido.Como o gerente, muitos
consumidores estão optando por modelos usados porque os novos estão em falta, a
fila de espera é longa e os preços também estão aumentando.Atualmente, os
estoques de carros novos nos pátios das montadoras e das revendas são
suficientes para 13 dias de vendas, o mais baixo da história do setor. O
estoque considerado equilibrado pelo setor é de cerca de 30 dias.Sem estoques e
com produção reduzida por causa da dificuldade em adquirir componentes, as
montadoras também estão reajustando os preços, seja para repassar custos de
peças e matérias-primas, pela alta cambial ou pela maior procura em tempos de
oferta reduzida.As montadoras também estão priorizando a produção de modelos
com maior retorno financeiro, como utilitários-esportivos (SUVs) e picapes, em
detrimento de hatches compactos. Nova geração. O consumidor brasileiro está sem
opção para compra de modelos mais populares. Hoje, os carros mais baratos
custam R$ 48 mil (Fiat Mobi e Renault Kwid). A nova geração de automóveis
ganhou mais itens de conectividade, segurança e eficiência energética e seus
preços triplicaram em relação aos de uma década atrás. Levantamento feito pela
KBB Brasil, empresa especializada em pesquisa de preços de veículos, mostra que
os dez modelos mais vendidos em 2011 custavam de R$ 24,7 mil (Chevrolet Celta)
a R$ 39,4 mil (Volkswagen Voyage). Os preços dos dez carros mais vendidos neste
ano partem de R$ 49,3 mil (Renault Kwid) e vão até R$ 187,2 mil (Jeep Compass).
Na média, a lista atual tem valores 189,6% superiores na comparação com a de
2011."Apesar de mais caro, comprar um carro novo hoje rende mais (em um
ano) do que a poupança e outras aplicações", afirma José Maurício Andreta
Júnior, vice-presidente da Fenabrave, associação que representa os
concessionários de veículos.( Fonte R 7 Noticias Brasil)
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