ARTIGO: A Aliança
Transatlântica e o retorno do multilateralismo dos EUA
Para pesquisadora,
presidente norte-americano Joe Biden busca recompor confiança dos aliados e
liderança do país
Trump
impôs sanções contra empresas envolvidas no Nordstream-2, o que levou à
interrupção da construção no ano passado e ao desgaste com Berlim. Mas a obra
foi retomada no início do ano sem qualquer represália americana. Contrariando
os falcões republicanos e democratas da política externa, Biden finge que não
vê e deixa o gasoduto passar. A razão é uma mistura de pragmatismo e
diplomacia. Como 94% da obra estão concluídos, o que resta a salvar é a relação
com a Alemanha. Bens
comuns, outros nem tanto Um tema urgente para o democrata é
vencer a pandemia de coronavírus a fim de normalizar a economia americana.
Embora tendo se comprometido a doar US$ 4 bilhões de dólares para o COVAX,
fundo global de vacinas organizado pela OMS para distribuição em países em
desenvolvimento, Biden teve um posicionamento bem realista quanto a socializar
as vacinas. Desafiado por Macron a ceder 5% do estoque adquirido à África, o
americano não hesitou. “Não enviarei
vacinas para países em desenvolvimento enquanto o fornecimento não melhorar”.
Diz o ditado que, farinha pouca, meu pirão primeiro. Quanto ao clima, o retorno
dos Estados Unidos ao Acordo de Paris não foi novidade. Era uma promessa de campanha
do democrata, que foi facilmente cumprida com uma ordem executiva no primeiro
dia de governo. Além disso, o presidente tem se comprometido a zerar as
emissões líquidas até 2050. Tudo faz parte do Green New Deal, um antigo plano
dos progressistas rumo a uma economia baseada em energia limpa, que agora é
incorporado pelos centristas na Casa Branca. A questão climática é um ponto de
fácil contato com os europeus, mas o democrata precisa vencer a pressão dos
lobbies de energia fóssil e a resistência dos núcleos mais conservadores da
classe política bipartidária. Irã Outro assunto
relevante é o engajamento em novas negociações com
o Irã e os demais integrantes do P5+1, grupo formado pelos
cinco membros do Conselho de Segurança da ONU e a Alemanha. Trump retirou os
Estados Unidos unilateralmente do acordo negociado por essas partes em 2015.
Alegou que o Irã violou o compromisso, embora nem a Agência Internacional de
Energia Atômica, nem os demais signatários comprovaram a acusação. Apesar
disso, Trump retomou antigas sanções econômicas, o que gerou atritos com a
União Europeia e levou o Irã a retomar uma parte suspensa do programa nuclear. Biden
não pretende voltar para o JCPOA, sigla do acordo em inglês, sem barganhar
novas condições. Tal pretensão ficou implícita na conferência, ao dizer que é
preciso tratar das ações desestabilizadoras por parte do Irã no Oriente Médio.
É esperado que, em um eventual acordo futuro, seu governo exija a inclusão de
pontos que não se relacionam com o programa nuclear iraniano, mas com questões
geopolíticas e o interesse de aliados como Israel e Arábia Saudita. Os países
europeus, que ficaram ao lado
do Irã durante o período Trump, têm-se mostrado inclinados a
cooperar com Biden para obter mais vantagens e concessões junto a Teerã. Em
janeiro, Reino Unido, França e Alemanha criticaram a
decisão iraniana de voltar a enriquecer urânio até 20%, acima do limite
permitido pelo JCPOA. Javad Zarif, ministro das Relações Exteriores iraniano,
diz que seu país voltará a cumprir o acordo tão logo os Estados Unidos
suspendam as sanções. Mas o aiatolá Ali Khamenei anunciou que, se necessário,
seu país poderá enriquecer urânio até 60%. A declaração é como lenha na
fogueira desse imbróglio que se arrasta há anos. Novo mundo
O mais difícil para Biden será convencer os europeus a jogarem duramente contra
a Rússia e, principalmente, a China. Duas semanas depois da eleição americana,
Macron disse que a Rússia é parte da Europa e não deve ser rejeitada. A União
Europeia acaba de fazer um grande acordo de investimentos com a China, sem
sequer dar uma notificação prévia à Casa Branca. O acordo fortalece a
credibilidade da China como parceiro comercial e financeiro, bem como sinaliza
para os Estados Unidos que a União Europeia pretende renunciar à função de parceiro menor da
coalizão liberal ocidental. Após 16 anos na liderança da Alemanha, Merkel
deixará o cargo em setembro próximo. Seu provável sucessor, o democrata-cristão
Armin Laschet, é simpático à Rússia, país que considera vítima de “populismo do
marketing anti-Putin”. Quanto à China, Laschet é a favor das exportações alemães,
e é para lá que muitas delas vão. Se a América voltou, não foi para o mundo que
Biden conheceu ao longo de sua carreira decana, ou como vice-presidente de
Barack Obama.( Fonte A Referencia Noticias Internacional)