Grandes vilões do universo ou apenas uma
distorção natural do espaço-tempo?
Apesar
da versão hollywoodiana clássica, buracos negros são apenas uma consequência
natural da relatividade geral. A relatividade geral, oficialmente publicada por
Einstein em 1915, consiste em uma descrição geométrica do que é a gravidade.
Basicamente, a gravidade é uma consequência da distorção do tecido espaço-tempo
feita por objetos com massa. A massa distorce o espaço.Para entender isso,
basta pensarmos na analogia do lençol, sendo o lençol o representante do
espaço-tempo. Ao colocarmos uma bola de boliche nesse lençol esticado, teremos
uma distorção desse lençol. Mas, ao apoiarmos uma bexiga de ar, a distorção
será bem menor. Isso porque a distorção depende da massa do objeto em questão.
O mesmo funciona para a distorção do tecido espaço-tempo feita por objetos com
massa: objetos mais massivos e densos irão provocar distorções maiores do que
objetos mais leves.A gravidade é a face dessa distorção. Ao colocarmos uma bola
de boliche no tecido, ele será distorcido. Colocando um segundo objeto, esse
objeto irá cair no primeiro, devido a essa distorção. O mesmo acontece com
estrelas, planetas e buracos negros.Para entender um pouco mais, confira a
explicação visual abaixo: Pela definição, buracos negros são a consequência da
existência de um objeto muito denso e massivo que causa uma distorção extrema
no tecido espaço-tempo. Essa distorção é tão extrema que nem a luz, que viaja
no tecido espaço-tempo, consegue escapar da gravidade do objeto. E então temos
o nome: buraco negro.Agora qual origem desse objeto que causa tamanha
distorção?Para o caso de buracos negros, temos dois regimes de massa com duas
histórias bem diferentes de formação. Um regime é na ordem de algumas massas
solares. Já o outro é da ordem de milhares de massas solares. O primeiro grupo, chamado buracos negros de massa
estelar, são os objetos remanescentes de estrelas de alta massa. Todas as
estrelas eventualmente começam seu processo de "morte". Esse processo
se inicia quando seu combustível, fusão de hidrogênio em seu núcleo, acaba. Com
o fim da disponibilidade de energia principal, a estrela começa a passar por
diferentes fases evolutivas. Essas fases variam de acordo com a massa da
estrela. Estrelas com massa acima ou cerca de 8 massas solares passam pelo que
chamamos de supernova: um final espetacular explosivo. Após a
supernova, existem dois possíveis objetos remanescentes: estrelas de nêutron ou
buraco negro. Escolher entre os dois finais também depende da massa da estrela,
onde as mais passivas se tornarão buracos negros!O segundo grupo consiste nos
buracos negros com milhares de massas solares: os buracos negros supermassivos.
Esses objetos geralmente habitam o centro de galáxias. A nossa galáxia, Via
Láctea, também possui um, chamado Sgrt A*, com cerca de 4.000.000 de vezes a
massa do Sol. A grande pergunta é: se não conseguimos ver o buraco negro, pois
não é um objeto que emite luz, como sabemos da sua existência? Apesar não
visualizarmos o objeto diretamente, é possível detectar a presença do buraco
negro de algumas formas, sendo duas possíveis: pela influência gravitacional em
outros objetos, como estrelas orbitando-o, ou pelo disco de acreção ao seu
redor, que emite luz.O primeiro caso resultou no prêmio Nobel de física de
2020. Observando por anos estrelas no coração da Via Láctea, foi possível
mapear suas órbitas e provar a existência do buraco negro supermassivo Sgrt A*.O segundo método mencionado está por trás da primeira foto de um buraco negro supermassivo, publicada em 2019 pela
colaboração EHT. Na foto podemos ver o disco de acreção brilhante. A
colaboração tem como objetivo agora tirar a primeira foto direta do Sgtr A*
que, apesar de mais perto, é menor que o buraco negro em questão, que habita o
centro da galáxia M87. Camila
de Sá Freitas,
colunista do TecMundo, é bacharel e mestre em astronomia. Atualmente é
doutoranda no Observatório Europeu do Sul (Alemanha). Autointulada Legista de
Galáxias, investiga cenários evolutivos para galáxias e possíveis alterações na
fabricação de estrelas. Está presente nas redes sociais como @astronomacamila.( Fonte Noticias TcMundo)
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