Comunicação garantida para
7 mil surdos.
GDF mantém serviço que disponibiliza intérpretes para auxiliar a
comunicação entre surdos e ouvintes. Central ganhou carro exclusivo para
atendimentos. Benedito
Carlos Melo da Cunha, 45 anos, se envolveu em uma confusão financeira. Morador
de Ceilândia Sul, pagou o valor mínimo do cartão de crédito em novembro e viu a
dívida triplicar em dois meses. Ele recebeu uma correspondência do banco em
casa e, sem entender exatamente do que se tratava, procurou atendimento na
agência onde tem conta, na 410/411 Sul. Mas não
conseguiu se entender com a atendente e deixou o problema para ser resolvido
depois. A dificuldade? Benedito é surdo e se comunica através da Língua
Brasileira de Sinais (Libras). O problema de comunicação de Benedito foi resolvido
graças ao Governo do Distrito Federal (GDF). Ele voltou ao banco acompanhado
por um intérprete de Libras da Secretaria Extraordinária da Pessoa com
Deficiência (SEPD) e renegociou a dívida. “Eu queria saber o valor da próxima
prestação e quanto ainda faltava para ser pago”, conta. “Eu tentei escrever um
bilhete para a atendente, ela fez uma carta enorme para mim e eu não entendi.” O GDF
mantém, na Estação 112 Sul do Metrô, a Central de Interpretação de Libras
(CIL), que disponibiliza intérpretes para auxiliar a comunicação entre surdos e
ouvintes. Eles auxiliam os surdos em comunicações por telefone, vídeo-chamadas
ou redes sociais e, mediante agendamento, os acompanham em atendimentos
externos, principalmente em órgãos do governo, como em delegacias ou nas
agências de atendimento do Banco de Brasília (BRB), do Detran, da CEB e da
Caesb. Mais estrutura A CIL existe
desde 2010 e registrou um atendimento recorde em 2020. De janeiro a dezembro, a
central realizou mais de sete mil atendimentos, 815 deles externos, onde os
intérpretes se deslocaram junto com o surdo e intermediaram a comunicação dele
com terceiros (Confira a arte). Em maio do ano passado, a CIL foi transferida da
Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus) para a SEPD, o que aumentou a força
de trabalho e atendimento da central. Em julho, a central ganhou um carro exclusivo para transportar os surdos e os
intérpretes, o que aumentou em mais de 1.000% a quantidade de
atendimentos externos realizados em dezembro (262) em relação a janeiro (17). Mais
funcionários também foram contratados e o número de intérpretes passou de três
para oito. “A nova gestão veio com novas estratégias de atendimento. Antes,
dependíamos da agenda do carro da Sejus que fazia vários outros serviços. Não
havia um carro específico”, afirma o gerente da Central de Interpretação em
Libras, Alexandre Castro, ressaltando a importância da iniciativa do governador
Ibaneis Rocha de criar uma pasta para cuidar especificamente da pauta dos
deficientes, uma demanda de anos. “É a terceira secretaria no país”,
acrescenta. CIL on-line A Secretaria da Pessoa com Deficiência quer ampliar
os atendimentos da CIL e espera o Ministério da Justiça aprovar um projeto para
implementar a CIL on-line. A ideia é ter uma equipe de intérpretes à disposição
das pessoas surdas que, através de um link, poderão acessar o serviço em
qualquer lugar do DF. Um intérprete vai ser acionado na hora que for acionado
para interpretar os sinais e permitir a comunicação entre o surdo e o ouvinte. Segundo a
SEPD, o projeto já foi aceito na primeira etapa. Se for aprovado, o Ministério
da Justiça vai investir R$ 1 milhão na CIL on-line, uma proposta inovadora, que
já acontece em outras capitais do país. Outra língua Foi a terceira vez que Benedito usou os serviços da
CIL. Um intérprete o acompanhou em sua audiência de divórcio e a uma clínica
onde ele e a nova esposa, também surda, fizeram exames porque estão tentando
engravidar. “Tenho muita dificuldade de me comunicar. Ninguém na minha família
é fluente em libras e não domino a técnica de leitura labial. Até me viro no
dia a dia, para ir ao supermercado por exemplo. Mas a pessoa tem que falar
muito devagar”, diz. Segundo o gerente da CIL, há pesquisas que mostram
que mais de 80% dos surdos não entendem bem a língua portuguesa. Apesar de
conhecer as palavras mais usuais, os surdos têm dificuldade de compreender a
contextualização das frases, mesmo que elas sejam escritas. “O português tem
uma estrutura totalmente diferente da língua brasileira de sinais e não é de domínio
dos surdos”, explica. Libras é uma língua autônoma, com estrutura gramatical
própria, não é só um conjunto de sinais para as palavras em português. Por
isso, durante a tradução para a língua de sinais, ocorre a omissão de verbos de
ligação ou pronomes relativos ou oblíquos, alguns pronomes de tratamento,
locuções adverbiais e adjetivas. Projeções do último censo do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam para aproximadamente 678
mil pessoas com deficiência no DF em 2020. Desse total, 14,4%, ou seja 97.702,
são pessoas com algum tipo de deficiência auditiva, sendo que 25 mil delas se
comunicam por meio da linguagem de sinais. Acessibilidade “Esse serviço dá mais autonomia e independência
para a comunidade surda, faz com que o surdo seja entendido sem precisar de um
familiar ou uma terceira pessoa, o que é uma forma de acessibilidade”, afirma
Alexandre Castro, gerente da CIL. “Não estamos fazendo mais do que cumprir a
lei”, ressalta Valdimar Carvalho da Silva, surdo, diretor de Acessibilidade
Comunicacional da CIL, referindo-se ao Estatuto da Pessoa com Deficiência sancionado pelo governador Ibaneis
Rocha em julho do ano passado. A lei garante o direito ao tratamento
diferenciado que deve ser prestado à pessoa com deficiência, no caso de surdos ou
pessoas com deficiência auditiva, por intérpretes ou pessoas capacitadas em
Libras Também na Estação do Metrô da 112 Sul, funciona o posto do BRB
Mobilidade que atende exclusivamente pessoas com deficiência que possuem o
passe livre especial no transporte público. Não se trata de uma agência
bancária, mas, no local, os deficientes, físicos ou auditivos, podem fazer o
cadastro para receber o benefício e recebem um atendimento diferenciado, com
acessibilidade física e atendentes que compreendem a linguagem de sinais.
Atualmente, 43.628 pessoas com deficiência possuem a gratuidade no transporte
público.( Fonte Revista Única Águas Lindas GO) Redação da Vida FM)
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