Defesa Civil contabiliza 553 ocorrências desde a terça
(15), dessas 436 deslizamentos, 29 alagamentos e 88 avaliações de riscos.
O impacto da chuva intensa e dos deslizamentos nos cerca de mil
imóveis tombados na esfera federal de Petrópolis ainda é desconhecido. O centro
histórico da chamada "Cidade Imperial", destino de veraneio da
monarquia e de presidentes da República, foi coberto de lama na terça-feira
(15) atingindo bens históricos, com a derrubada de uma grade da antiga Casa da
Princesa Isabel e alagamento do térreo do Palácio Rio Negro, por exemplo.
Não há até o momento registros oficiais de grandes danos estruturais. A
tragédia é uma das maiores da cidade fluminense, que registrou mais de uma
centena de mortos e segue com as buscas por desaparecidos. Funcionários de
museus e outras instituições que funcionavam nos espaços foram impactados de
diferentes formas, com a perda de familiares e das residências. O
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) informou que
realiza vistorias. "Teremos informações mais precisas nos próximos dias e
semanas", apontou em nota, na qual destaca que o foco principal do poder
público é de buscas por vítimas, apoio aos desabrigados e desalojados e
identificação de áreas de maior risco. "As vistorias já promovidas não
foram conclusivas, devido à dificuldade de locomoção e ao grande número de
destroços e lama na rua", continua. "A situação pode ser agravada pelas
chuvas previstas para os próximos dias, portanto, a real dimensão do impacto ao
Patrimônio Cultural da cidade só poderá ser aferida após a conclusão desses
trabalhos." O termo "museu a céu aberto" é utilizado para
descrever a cidade. Em comunicado anterior, a autarquia federal havia informado
que o escritório técnico que mantém na região (em um anexo do Palácio Rio
Negro) "não tem condições de funcionar presencialmente", sem informar
os danos. No sábado, 12, já havia divulgado não estar com uma linha telefônica
operante, também por causa das chuvas. "Herdeiro das terras adquiridas
pelo pai, Dom Pedro II promoveu a urbanização da cidade e a transformou na sede
da corte imperial nas temporadas de veraneio. Com extensas áreas protegidas a
nível federal, Petrópolis reúne história, paisagismo e excelência
arquitetônica, constituindo um dos principais marcos do Patrimônio Cultural
Brasileiro", destacou o instituto. A grade e um muro da antiga Casa da
Princesa Isabel foram derrubados durante a chuva. Danos internos no local ainda
não foram informados pelos responsáveis, herdeiros da antiga família imperial,
que mantém no local a Casa Imobiliária Petrópolis e estava com uma exposição
com esculturas em papel machê. A antiga residência foi comprada pela princesa e
o Conde D’Eu em 1876 do Barão do Pilar, membro da primeira diretoria do Banco
do Brasil. Nas escadarias da varanda, foi feita uma das últimas fotografias de
D. Pedro II e a da família em terras brasileiras, dias antes da Proclamação da
República. No Museu Palácio Rio Negro, o piso térreo foi inundado por causa do
transbordamento de um rio nas proximidades. Além disso, deslizamentos atingiram
uma parte do terreno, mas não chegaram até a edificação principal, segundo o
Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), responsável pelo espaço. Parte dos
servidores ficou ilhada e teve de passar a noite no piso superior do local. O
palácio está em um complexo que inclui ainda um chalé, o Palacete Raul de
Carvalho e a Casa das Guardas, sede do escritório do Iphan na região serrana,
dentre outras construções. O palácio foi morada do Barão do Rio Negro,
residência de verão de presidentes da República, sede do governo fluminense e
da Brigada da Infantaria. Com a obra projetada pelo engenheiro italiano Antonio
Jannuzzi, o palácio tem estilo eclético e foi entregue no fim do século 19. Em
1896, foi comprado pelo governante do Rio, Joaquim Maurício de Abreu, para ser
a sede do governo estadual, função que exerceu até 1903, ainda segundo o Ibram.
Na sequência, tornou-se residência de verão da presidência da República, na
qual se hospedaram chefes de Estado de diferentes períodos históricos, como
Rodrigues Alves, Nilo Peçanha, Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, João
Goulart, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. Em nota, a
Prefeitura de Petrópolis aponta que "ainda está fazendo esse
levantamento" sobre o impacto nos imóveis históricos. "As equipes da
Defesa Civil contabilizam 553 ocorrências desde a terça-feira, dessas 436 são
por deslizamentos, 29 alagamentos e 88 avaliações de riscos." Imagens
feitas por moradores com drone mostram o terreno do Palácio de Cristal coberto
de lama. Montado com estrutura desenvolvida na França e encomendado pelo Conde
D’Eu, marido da Princesa Isabel, foi inaugurado em 1884. Hoje, pertence à
Prefeitura e está fechado há mais de dois anos, à espera da conclusão do
restauro. Já o Museu Imperial divulgou que a edificação principal não foi
afetada pela chuva e que o acervo permanece preservado, durante a qual
visitantes e funcionários tiveram de se abrigar no local até a manhã seguinte.
Segundo a instituição, duas construções do complexo (refeitório, no qual houve
o rompimento de vidraças, e vestiário de funcionários) estão
"comprometidas" por causa de um deslizamento em terreno anexo.
"Ambos foram interditados por medidas de segurança." Além disso, o
museu informou que os fundos do Pavilhão das Viaturas foram atingidos, mas que
"não houve danos". A visitação ao local segue suspensa por tempo
indeterminado. "A Defesa Civil foi acionada para avaliar todas as
estruturas e edificações do complexo." Ele é sediado no antigo Palácio
Imperial, construído por determinação de D. Pedro II, em 1945, cuja obra levou
10 anos. Com estilo neoclássico, foi uma das residências favoritas do
imperador. Em rede social, o Museu Casa do Colono informou não ter sofrido
danos. "O acervo encontra-se preservado e os servidores estão em segurança",
apontou. O espaço está fechado para visitação por tempo indeterminado.
"Infelizmente, ruas próximas do Museu Casa do Colono estão comprometidas
em decorrência de alagamentos e deslizamentos no bairro Castelânea." Além
da catedral, o Theatro D. Pedro também passava por trabalhos de restauro, com
previsão de entrega no primeiro quadrimestre de 2022. O imóvel tem arquitetura
eclético, com influências do art-déco e foi inaugurado em 1933. Em nota, a Fiocruz informou que o Palácio Itaboraí (de
1892, que sedia atividades da fundação) não sofreu danos nas "estruturas
que compõem o patrimônio histórico". "No entanto, por conta da
dificuldade de mobilidade urbana e atendendo aos pedidos da Prefeitura
Municipal e da Defesa", destacou. ‘Cidade
Imperial’ manteve prestígio na república O centro histórico de Petrópolis é um
dos oito "conjuntos urbanos" tombados pelo Iphan no Rio de Janeiro. O
reconhecimento ocorreu primeiramente no eixo da Avenida Köeler (que até hoje
concentra o patrimônio mais preservado e fica nas proximidades do leito do Rio
Quitandinha), em 1964, e, nos anos 1980, foi estendido a outras edificações.Segundo
o Iphan, o conjunto reúne imóveis da segunda metade do século 19 e do início do
século 20, com estilos variados, como neoclássico final, romântico (chalés) e
eclético. O tombamento inclui as Avenidas Sete de Setembro, Tiradentes e
Ipiranga, as Ruas São Pedro de Alcântara e Raul de Leoni, a Praça Visconde de
Mauá, a Catedral de São Pedro de Alcântara e diversas casas.Entre os bens
tombados pelo Iphan, destacam-se ainda a Catedral São Pedro de Alcântara, a
Casa de Santos Dumont, o acervo do Museu de Armas Ferreira da Cunha), as casas
do padre Correia (Fazenda da Posse),a Fazenda Samambaia, da Fazenda Santo
Antônio o retábulo e imagem de Nossa Senhora do Amor Divino da Igreja Matriz de
Correias.Determinada em decreto imperial assinado por D. Pedro II em 1843 a fundação de
Petrópolis ocorreu algumas décadas após a passagem de D. Pedro I pela região
durante uma viagem, após a qual comprou terras no entorno. A determinação
previa a construção do futuro Palácio Imperial, a urbanização do que seria a
Vila Imperial (centro histórico) e a obra da catedral e de um cemitério. A
cidade manteve o prestígio mesmo após a Proclamação da República, sendo. Há
mais de 100 anos, foi a residência de aristocratas e figuras de destaque
nacional, como a artista e primeira-dama do País Nair de Teffé e do jurista Rui
Barbosa.Além dos imóveis tombados, o município tem ao menos sete sítios
arqueológicos históricos cadastrados no Iphan: Sítio Histórico Paulo Hungria
Machado, Fazenda Branca I e II, Sítio do Engenho, Sítio do Vané e Pantanal I e
I. Nos locais, foram encontrados materiais variados, como louças, fornos e
estruturas de construções.Em janeiro, as intensas chuvas que atingiram Minas
Gerais causaram o desmoronamento de dois casarões históricos em Ouro Preto,
parte do conjunto considerado patrimônio mundial pela Unesco. Imagens
esculpidas por Aleijadinho também foram afetadas em uma das seis capelas do
Santuário do Bom Jesus de Matozinhos, em Congonhas.( Fonte R 7 Noticias Brasil)