Temporal
destrói posto para imigrantes em Manaus.
Manaus
(AM) – Venezuelanos e haitianos que buscam um novo recomeço de
vida em Manaus sofreram um duro golpe com o desabamento de um muro do Posto de
Interiorização e Triagem durante um temporal na tarde desta segunda-feira (3).
Dez pessoas ficaram feridas. Pelo menos 15 veículos do Serviço de Atendimento
Móvel de Urgência (Samu) prestaram atendimento. O posto pertence à Operação
Acolhida, administrada pelo Ministério da Defesa, e tem a função de receber e
até de abrigar os imigrantes. Ele fica ao lado do Departamento de Engenharia e
Transporte da Secretaria Municipal de Educação (Semed), na Avenida Torquato
Tapajós, totalmente alagada na altura do bairro da Paz, no Centro-Oeste da
capital amazonense. Toda a estrutura do posto foi destruída. Havia 96 pessoas
no momento do desabamento. De acordo com informações da Secretaria de Estado de
Assistência Social (Seas), as vítimas tiveram, em sua maioria, traumas
ortopédicos. Oito foram liberadas e duas ainda se mantinham em atendimento, até
o fechamento desta reportagem. O Pronto-Socorro 28 de Agosto atendeu seis
pacientes – cinco mulheres e um homem. Até as 22h, apenas uma mulher seguia em
atendimento. Duas outras mulheres com idade entre 28 e 47 anos foram levadas
para o PS João Lúcio, na Zona Leste da capital. Uma foi liberada e outra ainda
segue em atendimento. Uma jovem grávida de 21 anos foi levada para o Instituto
da Mulher Dona Lindu, por volta das 14 horas. Ela sentia dores abdominais. Após
atendimento, ela foi liberada. Os imigrantes que estavam alojados no Posto de
Triagem foram levados na noite de segunda-feira para os alojamentos da Vila
Olímpica de Manaus, localizada no bairro Dom Pedro, zona Oeste, onde ficarão
provisoriamente. Horas de pânico e terror Há três anos morando em Manaus, a
venezuelana Rosires Lucian, de 43 anos, relata que avistou de longe a
movimentação e ficou chocada quando viu que o posto havia sido destruído pela
enxurrada. “Tenho amigos venezuelanos que estavam aqui para tirar documentação.
Na hora fiquei totalmente desesperada para saber se alguém havia se ferido ou
morrido”, comentou. Uma venezuelana que estava no posto de triagem, mas
preferiu não se identificar, relatou à Amazônia Real os
momentos de pânico. “A chuva ficou muito forte de repente e a água começou a
subir, na rua. A avenida virou um rio. De repente, ouvi um estrondo. Era o muro
que havia caído. Foi uma gritaria grande. Ficamos desesperados”, contou. Segunda-feira
é um dia movimentado no Posto de Interiorização e Triagem. O espaço de triagem
ajuda os imigrantes na retirada de documentos como o CPF e as solicitações de
residência a refugiados. O local também realiza acolhimento de trânsito para
aqueles imigrantes em processo de interiorização, e passam o dia na unidade
antes de viajar. Essas pessoas perderam todos os seus pertences durante o
temporal. Além do desabamento do muro do Posto de Interiorização e Triagem,
Manaus registrou ainda outros três deslizamentos no bairro Redenção, na Zona
Oeste, de acordo com informações da Defesa Civil. O estado do Amazonas se
prepara para para uma cheia histórica. O nível do rio Negro atingiu nesta
segunda-feira a marca de 29,16 metros. Já ultrapassou a enchente de 1975,
quando o nível (também chamado de cota) ficou em 29,11. A cota
histórica, marcada em mais de 100 anos de medicação do manancial, foi de 29,97
metros registrada em 29 de maio de 2012. O tempo chuvoso continua. Nas últimas
24 horas, choveu o equivalente a 28,6 milímetros, em Manaus. Abrigos vulneráveis A capital amazonense possui vários abrigos
para receber os imigrantes. Um dos maiores fica embaixo do Complexo Viário de
Flores, próximo à rodoviária. Com aproximadamente 250 vagas, o local funciona como
uma espécie de albergue rotativo, para pernoite, e recebe imigrantes que chegam
pela rodoviária. Além dele, há ainda um abrigo no bairro Coroado, na Zona Leste
de Manaus, que é gerenciado pela Seas, e recebe aproximadamente 150 pessoas. Há
ainda a Casa do Migrante Jacamim, também gerenciada pela Seas, que acolhe
imigrantes que estão em tratamento de saúde. O local não abriga apenas
imigrantes, mas também pessoas em situação de vulnerabilidade social. Hoje
abriga pelo menos 10 estrangeiros. O Serviço Pastoral dos Migrantes da
Arquidiocese de Manaus e a Associação Scalabrini a serviço dos migrantes
gerencia outros espaços, que abriga mais de 100 pessoas, totalizando mais de
260 estrangeiros, a maioria deles composta por venezuelanos. Rosana
Nascimento, vice-coordenadora do Serviço Pastoral dos Migrantes, conta que a
situação de vulnerabilidade social dos imigrantes já havia sido agravada com a
pandemia do novo coronavírus. “A maioria dos imigrantes vive de bicos. Com a
pandemia as pessoas não estão chamando mais para trabalhos como pintura, cortar
grama, que é o que eles faziam”, pontua Rosana. Sem alternativas, os imigrantes
passaram a vender produtos nas ruas da capital. “Até isso ficou difícil porque
as pessoas não estão comprando as coisas na rua como antes.” As crianças também
sofrem porque, como os pais não têm condições de ter acesso à internet, ou
mesmo televisão, elas não têm como acompanhar as aulas. Crise humanitária
na Venezuela A explosão migratória de venezuelanos na capital
amazonense começou em 2016, com a vinda dos índios Warao, que é um dos povos
mais antigos do Delta do Orinoco, no nordeste da Venezuela. A crise econômica e
política no país vizinho motivou o movimento migratório, que começou pelos
indígenas e depois se espalhou por toda a população daquele país. Hoje, de
acordo com a Secretaria Municipal da Mulher, Assistência Social e Cidadania
(Semasc), 85 indígenas da etnia vivem na cidade. Ao longo dos anos, o fluxo
migratório só aumentou em cidades como Manaus e Boa Vista, capital de Roraima.
Muitos passam fome, como relatou a Amazônia Real.( Fonte Amazônia
Real)
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