Em anúncios recentes, o Twitter permitirá que apenas assinantes usem
autenticação por SMS, enquanto a Meta dará serviços personalizados para
inscritos.
No último dia 15, o Twitter
anunciou uma mudança estranha: apenas os que pagam pelo Twitter Blue poderão
fazer autenticação
de dois fatores (A2F) por SMS. No plano anual, a assinatura
custa R$ 440 no Brasil. Há alguns últimos anos, a A2F é apontada como
fundamental para manter a segurança online, e importante e evitar roubos de
perfis. Exatamente por isso, passar a oferecer uma modalidade do serviço apenas
para assinantes foi uma medida contestada logo após o anúncio. A manobra
repentina no Twitter parecia ser apenas mais um teste feito por Elon Musk, que
administra uma plataforma
endividada após a compra, e que tenta funcionar com
demissões massivas. Mas logo outra big tech imitou. Dois dias
depois, a Meta — controladora do Facebook, Instagram e WhatsApp — anunciou
um plano de assinaturas para "ajudar criadores",
que começou a ser testado na
Austrália e Nova Zelândia, e chegará a outros mercados maiores
"em breve". O preço é US$ 11,99 (R$ 61,60, no câmbio atual)
mensais. Entre os benefícios do Meta Verified, está o "monitoramento
proativo de contas", para evitar imitadores e fraudes. Os dois
anúncios indicam uma perigosa tendência: usuários que pagam para usar redes
sociais serão melhor protegidos no ambiente online, em uma época em que
segurança digital deveria ser prioridade máxima. "Pelas notícias, acredito
que não é mais uma tendência e sim, infelizmente, uma realidade bem
preocupante. A segurança, que deveria ser algo padrão numa plataforma de rede
social ou para qualquer tipo de serviço oferecido por qualquer empresa, passa a
ser vendida. Isto claramente demonstra uma tentativa de faturar muito mais
dinheiro", explica Marcelo Balerone, especialista em marketing
da Squad Social, em entrevista ao R7. Os usuários do
Facebook têm uma opinião parecida. Após anunciar o lançamento do Meta
Verified no Facebook, Mark Zuckerberg, CEO da Meta,
enfrentou fortes críticas e questionamentos. "Me chame de louco, mas não
acho que deveria pagar a vocês para derrubar as contas que se passam por mim e
enganam meus seguidores", disse Officer Daniels, um criador de conteúdo
com 2,7 milhões de seguidores na rede social. "Isso realmente deveria ser
apenas parte do produto principal, o usuário não deveria ter que pagar por
isso", disse outra resposta, curtida 12 mil vezes. Uma das maiores
preocupações dos criadores de conteúdo que opinaram nos comentários da conversa
é que o modelo de assinaturas permitirá que a empresa oficialmente crie
prioridades em seus atendimentos. Especialistas no mercado digital pensam o
mesmo. "Do ponto de vista comercial, as empresas enxergaram uma
oportunidade de criar uma nova fonte de receita através de um recurso que já
era distribuído gratuitamente, o da verificação através dos selos",
completa Philipe Monteiro Cardoso, advogado especializado em
direito digital, também entrevistado pelo R7. Tal medida
provavelmente representará menos segurança para quem não paga — ainda que tenha
sido verificado anteriormente. "Essa medida de segurança pode deixar
hackers sedentos para explorarem mais falhas em contas de usuários gratuitos.
Você já viu aquela piada do ladrão que prefere roubar um banco em vez de uma
padaria porque é mais fácil?", explica João Fernando Saddock, gerente do
hub de inovação H-Farm, da Itália. Crise nas
gigantes de tecnologia As medidas foram anunciadas em meio a maior crise já enfrentada pelas big techs.
As maiores empresas de tecnologia do mundo enfrentam turbulência financeira, perda de
valor de mercado e demissões em massa. Além disso, atravessam uma profunda
crise de confiança, e são julgadas em processos por monopólio, exibição de conteúdo tóxico e coleta ilegal de dados. Governos se
movimentaram e passaram a agir também contra o questionável uso de conteúdo de
empresas de comunicação sem o devido pagamento. Países como Austrália, Nova Zelândia, Canadá e França já criaram leis que exigem o
pagamento por conteúdo do tipo, o que fez tais empresas negociarem com corporações
de mídia para não se verem obrigadas a encerrar as operações nesses locais. O
momento começa a exigir que tais empresas diversifiquem receita e passem a
depender menos do mercado publicitário, que está em baixa nos Estados Unidos
após uma forte alta na época da pandemia de Covid-19. Uma das mais afetadas, a
Meta disse que 2023 será o "Ano da Eficiência". O slogan simples,
divulgado em um relatório financeiro trimestral de 1º de fevereiro, serviu para
acalmar investidores e mostrar — ao menos temporariamente — que a corporação
ainda deve crescer. Após quedas acumuladas de 64%, as ações da empresa subiram
cerca de 20%, sendo negociadas pelo maior valor desde julho passado. Por sua
vez, o Twitter se tornou um laboratório de testes desde que foi comprado por Elon Musk, em outubro. A
empresa demitiu mais da metade da força de trabalho, enfrentou paralisações técnicas e
até falta de papel higiênico em
escritórios. Com dívidas bilionárias após a compra, o bilionário chegou a dizer
que não descarta uma falência da plataforma. O
desespero financeiro explica a pressa de Musk para conseguir dinheiro
diretamente de seus usuários. Mas, até agora, a medida não deu tanto resultado:
relatórios internos obtidos pelo site The
Information apontam que, em meados de janeiro, o Twitter
Blue tinha apenas 290 mil assinantes. Se levarmos em consideração que a
assinatura do serviço custa US$ 8 mensais, a empresa ganha apenas US$ 27,8
milhões (R$ 140,5 milhões) anuais por essa fonte de receita. Segundo Musk, o
plano da empresa é receber US$ 1,5 bilhão anual com o serviço de assinaturas,
ou metade de uma hipotética receita da empresa. Plano arriscado Cada empresa apresentou uma
mudança específica na forma como encara a segurança e serviços pagos. No
Twitter, a modificação vai funcionar da seguinte forma: usuários gratuitos não
poderão mais autenticar via SMS, e precisarão optar por aplicativos dedicados. Embora
os apps dedicados — como o Microsoft Authenticator — sejam mais seguros que SMS, que podem ser
interceptados ou burlados por golpes de clonagem de chipe SIM, as
mensagens telefônicas ainda são as mais populares entre os que usam A2F. Se você
usa A2F apenas por SMS e não assinar o Twitter Blue, a partir de 20 de março a
conta ficará desprotegida. Segundo dados do próprio Twitter, apenas 2,6% dos
usuários usam autenticação de dois fatores. Desse número, 74,4% das pessoas
optam justamente pelo SMS, o meio mais simples de usar. Outros 28,9% usam algum
app de autenticação. Apesar de menos seguro, o SMS é melhor que não usar
autenticação nenhuma, e dar menos de um mês para tanta gente assim se adequar a
uma mudança súbita não é uma resposta adequada. Especula-se que o principal
motivo da decisão de Elon Musk seja puramente financeiro, uma vez que empresas
de telefonia cobram para enviar mensagens automáticas. E dinheiro não é algo
que o Twittter tem em caixa agora, mesmo dando calotes de aluguel e se
livrando de serviços de backup. Mas a versão oficial dada pela plataforma é
outra: "Infelizmente vimos A2F baseado em número de telefone ser usado — e
abusado — por pessoas mal-intencionadas." Em 2019, Jack Dorsey,
ex-presidente do Twitter, teve a conta na rede social hackeada
por um golpe de troca de SIM, o que fez a empresa incentivar outros métodos de
autenticação. Já a Meta ainda não detalhes de como vai funcionar as funções
pagas de seu serviço ainda em teste. O anúncio só afirma que assinantes terão
"mais proteção", com "monitoramento proativo de contas de
imitadores", além de atendimento de "uma pessoa real para resolver
problemas comuns de conta". Para se inscrever, é preciso ser maior de 18
anos e enviar um documento de identidade para a empresa iniciar o processo de
verificação. O uso de documentos oficiais parece ser uma resposta a avalanche
de perfis falsos de empresas que surgiram no Twitter após a liberação de
verificação para qualquer conta que pagasse — no caso mais crítico, uma conta
falsa anunciou que a
insulina passaria a ser gratuita, o que gerou uma resposta da
farmacêutica Eli Lilly, que derrubou as ações da empresa. Com as alterações,
é possível perceber que a melhor segurança possível dentro de uma rede social
não será algo gratuito, apontando para um futuro em que assinantes terão
prioridade para proteção. "É péssimo vender “segurança” que é primordial
de qualquer negócio web ou físico", resume o
especialista Marcelo Balerone.( Fonte R 7 Noticias Brasil)