Em retaliação, as forças aéreas síria e russa realizam bombardeios.
A guerra civil da Síria, iniciada
em 2011, ganhou novo capítulo neste final de semana porque grupos rebeldes
islâmicos que lutam contra o governo de Bashad Al-Assad tomaram Aleppo, a
segunda maior cidade do país com cerca de 2 milhões de habitantes. Em
retaliação, as forças aéreas síria e russa realizam bombardeios contra posições
dos rebeldes, tanto em Aleppo como na província de Idlib, que está sob controle
dos jihadistas islâmicos. Vídeos publicados nas redes sociais mostram dezenas
de homens armados desfilando por Aleppo, que já havia sido tomada por rebeldes
em 2016. Na época, eles acabaram expulsos pelo regime sírio após apoio da força
aérea russa. Segundo agências de notícias locais, os rebeldes impuseram um
toque de recolher em Aleppo após tomarem o controle da cidade. Já a agência de
notícias oficiais da Síria afirma que o exército do país se reagrupou na zonal
rural do norte da cidade de Hama, ao sul de Aleppo. “Os aviões de guerra
conjuntos sírio-russos estão intensificando os ataques aéreos nos locais,
quartéis-generais, depósitos de armas e munições dos terroristas, deixando
dezenas de baixas e mortes entre os terroristas”, informou uma fonte militar
síria à agência de notícias oficial do país, a Sana. De acordo com a assessoria
da Presidência da Síria, Assad afirmou que é capaz de eliminar os rebeldes com
a ajuda dos seus aliados. “O terrorismo só entende a linguagem da força, e é a
linguagem com a qual iremos quebrá-lo e eliminá-lo, independentemente dos seus
apoiantes e patrocinadores. Eles não representam nem as pessoas nem as
instituições, representam apenas as agências que os operam e os apoiam”,
declarou. De acordo com a organização não governamental (ONG) Observatório
Sírio para os Direitos Humanos, a ofensiva rebelde contra o governo sírio
começou na última quarta-feira, 27, e estima-se que já causou a morte de mais
de 300 pessoas. A organização relata ainda a fuga em massa de civis após a
invasão de Aleppo. Guerra santa Entre os diversos
grupos armados sírios que lutam contra o regime de Al-Saad, destaca-se o grupo
islâmico fundamentalista Hayat Thrir al-Sham (HTS), que nasceu em 2011 como um
grupo filiado à Al Qaeda do Iraque e com ideologia jihadista, ou seja, que
defende uma “guerra santa” para instituir a Sharia, a lei islâmica. O regime de
Assad, por outro lado, é secular, ou seja, separa o governo da religião. A
professora de pós-graduação em Relações Internacionais da PUC de Minas Gerais
Rashmi Singh informou que o HTS surgiu no início da guerra civil síria como um
braço da Al-Qaeda, tendo rompido com o grupo anos depois. Para a especialista,
a guerra no Líbano abriu uma oportunidade para a ofensiva contra o governo
Assad, uma vez que o Hezbollah foi um dos principais aliados da Síria na luta
contra esses grupos. “O Hezbollah ficou enfraquecido depois que Israel entrou
no Líbano. Vimos também ataques de Israel contra vários líderes militares
iranianos na Síria. Isso forma uma grande parte da decisão dos grupos como
Hayat para entrar de novo em uma luta pela cidade do Aleppo”, comentou. Guerra proxy A guerra civil que já matou cerca de 300
mil sírios e levou ao deslocamento de milhões de pessoas no país árabe é uma
espécie de guerra proxy, ou seja, uma guerra por procuração que envolve as
principais potências do planeta, segundo explicou o professor de relações
internacionais da Universidade Federal do ABC paulista (UFABC) Mohammed Nadir. Ele
argumenta que os protestos conhecidos como Primavera Árabe, a partir de 2010,
foram usados pelas potências ocidentais para apoiar grupos armados e jihadistas
na luta contra governos não alinhados com o ocidente. “Desde o início da guerra
civil, as grandes potências estão a medir forças na Síria. Os Estados Unidos
tentaram, com a Primavera Árabe, derrubar o regime de Assad, assim como fizeram
com Gaddafi na Líbia. Foi uma grande oportunidade para mudar os regimes não
amigos do ocidente e dos EUA”, lembrou Nadir, que é coordenador de estudos
árabes da UFABC. Mohammed Nadir destacou que a presidência de Barack Obama nos
EUA apoiou os jihadistas contra Assad. Os grupos rebeldes também teriam
recebido apoio da Turquia e das monarquias do Golfo, como Arábia Saudita, Qatar
e Emirados Árabes Unidos. Para o especialista, a ofensiva atual também pode ser
uma estratégia para atingir a Rússia.“A tomada de Aleppo pode ser também uma
estratégia de desgastar a Rússia, que tem interesse em manter sua base militar
com acesso ao Mar Mediterrâneo, na Síria. A Rússia está ocupada com a guerra na
Ucrânia e nós temos agora esse avanço dos jihadistas na Síria”, comentou. Apesar
da derrota de Assad que perdeu Aleppo, o professor de relações internacionais
avalia que é muito difícil para os rebeldes manterem a posição que
conquistaram. “A reconquista novamente do Aleppo vai ser muito sangrenta porque
essa aliança jihadista dificilmente vai abrir mão da cidade”, finalizou Nadir. Leia
também: Síria admite ocupação rebelde de Aleppo; Rússia fornece apoio
aéreo ao regime de Assad.(Fonte Jornal Opção Noticias Internacional)
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