Órgão da ONU responsabiliza os seres humanos pelo aquecimento
global e afirma que algumas consequências são 'irreversíveis'.
O aquecimento global é pior e
mais rápido do que se temia. Por volta de 2030, dez anos antes do que se
estimava, poderá alcançar o limite de 1,5 ºC de alta na temperatura, com riscos
de desastres "sem precedentes" para a humanidade, já sacudida por
ondas de calor e inundações. Os especialistas do IPCC (Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, sigla em inglês), um orgão da
ONU, responsabilizaram os seres humanos por estas alterações e advertiram que
não há outra opção além de reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito
estufa. O primeiro relatório de avaliação do IPCC em sete anos, aprovado na
sexta-feira (5) por 195 países, analisa cinco cenários de emissões, do mais
otimista ao mais pessimista. Em todos eles, a temperatura do planeta alcançaria
o limite de 1,5 ºC de alta na temperatura em relação à era pré-industrial por
volta de 2030, dez anos antes do previsto nas estimativas de 2018. "Este
relatório deve pôr fim ao carvão e às energias fósseis antes que destruam o
nosso planeta", disse o secretário-geral da ONU, António Guterres, em um
comunicado. "As sirenes de alerta são ensurdecedoras: as emissões de gases
de efeito estufa geradas pelas energias fósseis e o desmatamento estão
asfixiando o nosso planeta", acrescentou. Antes de 2050, este limite
seria superado, chegando inclusive a uma alta de 2 ºC se as emissões não forem
reduzidas drasticamente. Isto representaria o fracasso do Acordo de Paris, que
pretendia limitar o aquecimento global a uma alta de até 2ºC ou, se possível,
de até 1,5 ºC. 'A primeira salva' O
planeta já alcançou uma alta na temperatura de 1,1 ºC e começa a sofrer as
consequências: incêndios que arrasam os Estados Unidos, a Grécia e a Turquia,
chuvas diluvianas que inundam Alemanha ou China, termômetros beirando os 50 ºC
no Canadá. "Se acham que isto é grave, lembrem que o que vemos agora é só
a primeira salva", diz Kristina Dahl, da organização União de Cientistas
Preocupados (UCS). Mesmo limitando o aquecimento a uma alta de 1,5 ºC na
temperatura, ondas de calor, inundações e outros eventos extremos aumentarão de
forma "sem precedentes" em sua magnitude, frequência, localização ou
época do ano em que ocorrem, adverte o IPCC. "Este relatório deveria
causar arrepios em quem o lesse (...) Mostra onde estamos e aonde vamos com as
mudanças climáticas: para um buraco que continuamos cavando", avalia o
climatologista Dave Reay. "Estabilizar o clima demandará uma redução
forte, rápida e sustentada das emissões de gases de efeito estufa para alcançar
a neutralidade de carbono", insiste Panmao Zhai, copresidente do grupo de
especialistas que elaborou a primeira parte desta avaliação do IPCC. A segunda,
prevista para fevereiro de 2022, mostrará o impacto destas mudanças e como a
vida na Terra será transformada irremediavelmente em 30 anos, inclusive menos,
segundo uma versão preliminar obtida pela AFP. A terceira parte abordará as
soluções possíveis e é aguardada para março. Mas o caminho a seguir é conhecido
de sobra: impulsionar a transição para uma economia descarbonizada. "Este
relatório deve pôr fim ao carvão e às energias fósseis antes que destruam nosso
planeta", reivindicou o secretário-geral das Nações Unidas, António
Guterres. Objetivo COP26 Diante da
necessidade de reduzir à metade as emissões antes de 2030 para cumprir com a
meta de 1,5ºC de alta na temperauta, todos os olhares se voltam para a cúpula
de líderes mundiais de novembro em Glasgow. "Não há tempo a perder, nem
lugar para desculpas", insistiu Guterres. Por enquanto, só metade dos
governos revisaram suas metas iniciais de redução de emissões. Os compromissos
adotados após o Acordo de Paris de 2015 levariam a um aumento da temperatura do
planeta de 3 ºC. Isso se fossem respeitados, porque no ritmo atual, o mundo
esquentaria 4 ºC ou 5 ºC. Entre estas projeções sombrias, o IPCC traz um
resquício de esperança. No melhor cenário, o aquecimento poderia voltar ao
limite de 1,5 ºC de aumento na temperatura se as emissões forem reduzidas
drasticamente e se for absorvido mais CO2 do que o emitido. Mas as técnicas que
permitem recuperar em larga escala o CO2 na atmosfera ainda estão sendo
estudadas, aponta o IPCC. Consequências
irreversíveis O relatório indica que algumas consequências já são
"irreversíveis". O degelo dos polos fará com que o nível dos oceanos
continue aumentando durante "séculos ou milênios". O mar, que já
subiu 20 centímetros desde 1900, ainda poderia aumentar mais meio metro até
2100 mesmo que o aquecimento seja mantido a um aumento de 2 ºC. "Parece
distante, mas milhões de crianças já nascidas ainda viverão no século
XXII", destaca Jonathan Bamber, autor do relatório. Pela primeira vez, o
IPCC não descarta a chegada de "pontos de inflexão", eventos
irreversíveis pouco prováveis, mas de impacto dramático, como o degelo da
calota de gelo antártica ou a morte da floresta amazônica. Mas, afirmam
cientistas e ativistas, não são motivos para jogar a toalha, pelo contrário,
porque cada fração de grau conta. "Não estamos condenados ao
fracasso", assegura Friederike Otto, uma das autoras. "Não deixaremos
que este relatório fique na estante (...) Vamos levá-lo conosco aos
tribunais", adverte Kaisa Kosonen, do Greenpeace.( Fonte R 7 Noticias
Internacional)