A fala foi feita por Peixe durante interrogatório ao Supremo. Ele buscou explicar um relato anônimo feito ao Disque-Denúncia, incluído no relatório da Polícia Federal, segundo o qual Fonseca recolhia dinheiro da milícia da Taquara na igreja.
ITALO NOGUEIRA RIO DE JANEIRO, RJ
(FOLHAPRESS) - O policial militar reformado Robson Calixto Fonseca, o Peixe,
acusado de participação na morte da vereadora Marielle Franco (PSOL), afirmou
numa das audiências no STF (Supremo Tribunal Federal) do caso, em outubro, que
trabalhou por mais de 20 anos numa igreja da família do pastor Silas Malafaia.
A fala foi feita por Peixe durante interrogatório ao Supremo. Ele buscou
explicar um relato anônimo feito ao Disque-Denúncia, incluído no relatório da
Polícia Federal, segundo o qual Fonseca recolhia dinheiro da milícia da Taquara
na igreja. "Eu trabalho nessa igreja desde 2003. Era do
pastor Gilberto Malafaia, pai do pastor Silas Malafaia. Ele veio a falecer e o
pastor Silas assumiu a igreja. Porém, eu não o conheço porque foi o filho dele
quem assumiu a igreja, Silas Junior. Esse dinheiro era dinheiro do meu
pagamento", disse Peixe. "Em 25 de março [um dia após ele ser alvo de
busca e apreensão], pastor Silas mandou me mandar embora, porque a sociedade já
tinha me condenado da igreja na qual minha mulher e minha filha foi
batizada." O uso de PMs para a segurança de Malafaia está sob investigação
da Corregedoria da corporação após a tentativa de assalto contra o pastor esta
semana. Os agentes que trocaram tiros com os assaltantes, eram da ativa, o que
tornaria a atuação deles irregular. Peixe é reformado em razão de uma trombose
-policiais reformados pode trabalhar como seguranças privados. Peixe é acusado
de ter participado da entrega e da devolução da arma usada no crime, de acordo
com a delação premiada do ex-PM Ronnie Lessa, réu confesso pela morte da
vereadora. Ele trabalhava como assessor do conselheiro do TCE-RJ Domingos
Brazão, acusado de ser o mandante do crime junto com o irmão, o deputado
Chiquinho Brazão. Procurado pela Folha em outubro, ao final do depoimento do PM
reformado, Silas Malafaia confirmou ter orientado seu filho a demitir Fonseca. "Meu
pastor tem bola de cristal para saber se alguém está envolvido com o crime ou
não? Qual é o problema? [...] Na hora que vi uma denúncia, qualquer pessoa de
bem manda embora. Falei para o meu filho: 'Olha aí, tem uma denúncia desse
cara. Manda esse cara embora'", disse o pastor na ocasião. Ele disse que a
igreja não faz parte de sua denominação, a Vitória em Cristo, sendo uma igreja
independente sob responsabilidade de seu filho. "Eu tenho várias igrejas.
Se tiver um membro traficante, tiver um membro assassino, o que eu sou
responsável por isso. Eu tenho mais de 500 funcionários nas igrejas. Se amanhã
tem um cara que chefia o tráfico de drogas, o que eu tenho com isso?
Simplesmente nada. E quando vem à tona algo para mim, eu demito e mandou
embora. Para mim não quer dizer nada", disse ele. A igreja se tornou tema
do processo porque a PF utilizou o relato anônimo ao Disque-Denúncia para
reforçar a suposta ligação de Peixe com a milícia da região. "Robson
Calixto figura como miliciano em algumas notícias de fato encaminhadas pelo
Disque-Denúncia, datadas de maio e junho de 2018, onde é apontado como o
responsável por arrecadar valores auferido por grupo militar organizado do tipo
milícia na região da Taquara. Tais relatos apócrifos o vinculam aos irmãos
Chiquinho e Domingos Brazão", diz o relatório. Malafaia afirmou que cabe à
PF provar o relato enviado ao Disque-Denúncia. "Quer me envolver com uma
porcaria dessa? Vocês estão de brincadeira. Eu tenho dignidade. Eu tenho
história. Eu tenho moral, amigo. Relatório do inferno, do diabo que for! Não
estou nem aí para eles", disse ele, em outubro. O suposto envolvimento com
milícias do PM integra a motivação descrita pela PF para a encomenda da morte
de Marielle por parte dos irmãos Brazão. Segundo a denúncia da PGR
(Procuradoria-Geral da República), os dois decidiram matar a vereadora após uma
série de divergências com o PSOL iniciadas em 2008, quando foi publicado o
relatório da CPI das Milícias com citação a Domingos -ele não foi indiciado.
Além disso, Marielle teria atuado de forma a prejudicar a exploração ilegal de
terras na zona oeste por parte dos Brazão. Em seu depoimento, Peixe negou
pertencer a milícia. Disse que não conhece Lessa e afirmou não saber a razão
pela qual foi citado na delação premiada do ex-PM. Leia Também: Celulares
de delator do PCC foram resetados após apreensão pela polícia em 2022.(Fonte
Justiça ao Minuto Notícias)
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