Canadá encontra mais 751 túmulos em antigo internato indígena.
Um mês após a descoberta de 215 ossadas de crianças, centenas de covas
não-identificadas foram achadas perto de instituição católica.
O Canadá foi sacudido nesta quinta-feira (25) pela descoberta de
mais de 750 sepulturas anônimas no local onde funcionava um internato para
estudantes indígenas administrado pela Igreja Católica, menos de um mês após
restos mortais de 215 crianças terem sido encontrados em outro centro
semelhante. Líderes comunitários e a Federação de Nações Indígenas
Soberanas de Saskatchewan anunciaram hoje, em entrevista coletiva, que há mais
de 750 túmulos perto do antigo internato de Marieval, na província de
Saskatchewan. "Até ontem, encontramos 751 sepulturas sem nome", disse
à imprensa o chefe da Primeira Nação de Cowessess, Cadmus Delorme, esclarecendo
que não se tratava de uma vala comum. Segundo ele, cada túmulo será analisado
nas próximas semanas para determinar o número final de vítimas cujos restos se
encontram no local. Lápides foram removidas
Delorme observou que os túmulos, encontrados por meio de mapeamentos de radar
que penetram no solo, podem ter sido marcados em algum momento, mas que
"os representantes da Igreja Católica removeram essas lápides". Ele
lembrou que isso é considerado crime no Canadá, por isso o local é tratado
"como uma cena de crime". "Certamente estavam tentando esconder
o número de crianças abusadas e assassinadas nessas instituições", disse o
chefe da Federação de Nações Aborígenes Soberanas de Saskatchewan, Bobby
Cameron, à CBC. "Tínhamos campos de concentração no Canadá. O país será
lembrado como uma nação que tentou exterminar as Primeiras Nações", havia
declarado na entrevista coletiva. Na noite de ontem, a comunidade de
Cowessess tomou conhecimento da "descoberta horrível e chocante de
centenas de sepulturas não marcadas", durante escavações ao redor da
escola residencial. A instituição fica cerca de 150 km a leste de Regina,
capital de Saskatchewan. O primeiro-ministro, Justin Trudeau, chamou as
descobertas de "uma lembrança vergonhosa do racismo, discriminação e
injustiça sistêmica que os povos indígenas enfrentaram e continuam
enfrentando" no Canadá, acrescentando que o país deve reconhecer sua
história de racismo para "construir um futuro melhor". A descoberta
"não faz mais do que aumentar a dor que sentem as famílias, os
sobreviventes e os povos aborígenes", disse o ministro de Serviços
Aborígenes, Marc Miller. "É uma verdade negada com bastante frequência.
Agora, não." Em torno de de 150 mil crianças nativas, mestiças e inuítes
foram recrutadas à força até a década de 1990 em 139 desses internatos em todo
país. Neles, foram isoladas de suas famílias, idioma e cultura. Muitas delas
foram submetidas a maus-tratos e a abusos sexuais nesses centros educacionais,
onde mais de 4 mil estudantes foram mortos, segundo uma comissão de
investigação que concluiu que o Canadá cometeu um verdadeiro "genocídio
cultural". O chefe da Federação de Nações Indígenas Soberanas, Bobby
Cameron, descreveu a descoberta como "um crime contra a humanidade. O
único crime que cometemos quando criança foi nascer indígena." As
escavações perto da antiga escola de Marieval começaram no final de maio, após
a descoberta dos restos mortais de 215 alunos enterrados no local de outro
colégio interno em Kamloops, na Colúmbia Britânica. 'Trágico mas não
surpreendente' - Essa descoberta chocou o Canadá e reabriu o debate sobre essas instituições
para onde as crianças indígenas eram enviadas para serem assimiladas à cultura
dominante. Também reviveu os apelos ao papa e à Igreja por desculpas pelos
abusos e pela violência infligida aos alunos. O sumo pontífice se recusou a se
desculpar, gerando frustração e raiva nas comunidades indígenas canadenses. Enquanto
isso, especialistas em direitos humanos da ONU pediram a Ottawa e ao Vaticano
para realizar uma investigação rápida e completa sobre a gestão desses internatos.
"É absolutamente trágico, mas não surpreendente", tuitou Perry
Bellegarde, chefe da Assembleia das Primeiras Nações, que representa mais de
900 mil indígenas no Canadá. O internato de Marieval, no leste de Saskatchewan,
recebeu crianças nativas entre 1899 e 1997 antes de ser demolido dois anos
depois e substituído por uma escola diurna. Perguntado pela emissora CBC, Barry
Kennedy, um ex-residente do internato de Marieval, considerou que esta nova
descoberta é apenas a ponta do iceberg. "Eu imagino, você sabe, pelas
histórias que nossos amigos e colegas nos contavam, que existem vários lugares,
pela escola", explicou ele. "Eu tinha um amigo que foi arrastado para
fora uma noite, ele estava gritando", lembrou, contando que nunca mais o
viu. "Seu nome era Bryan... Eu quero saber onde Bryan está". "Descobrimos
o estupro (...) os espancamentos. Eles nos fizeram descobrir coisas que não
eram normais em nossas famílias", acrescentou Kennedy. Após a descoberta
dos restos das crianças na escola de Kamloops, escavações foram iniciadas em
vários desses antigos internatos em todo Canadá, com a ajuda das autoridades
governamentais. Os líderes das comunidades autóctones aguardam descobertas mais
horrendas nos próximos meses.( Fonte R 7 Noticias Internacional)