Com a possibilidade da prisão de Evo se fortalecendo, o ex-presidente
reafirma que o caso foi ressuscitado para prejudicá-lo, acabar com sua vida e
impedi-lo de concorrer contra Arce nas eleições de 2025. Sua defesa diz que o
inquérito é ilegal, e Evo se recusa a cooperar com o Ministério Público.
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A investigação contra
o ex-presidente da Bolívia Evo Morales, acusado de estuprar e engravidar uma
adolescente de 16 anos em 2015, quando ainda estava no poder, elevou a tensão
na disputa política entre o líder sindical e seu principal adversário, o
presidente Luis Arce. Com a possibilidade da prisão de Evo se
fortalecendo, o ex-presidente reafirma que o caso foi ressucitado para
prejudicá-lo, acabar com sua vida e impedi-lo de concorrer contra Arce nas
eleições de 2025. Sua defesa diz que o inquérito é ilegal, e Evo se recusa a
cooperar com o Ministério Público. A acusação veio à tona no início do mês, quando o governo de
Arce confirmou a existência da investigação contra Evo. Na sexta-feira (11), a
polícia da Bolívia prendeu o pai da adolescente depois que ele se recusou a
depor perante o Ministério Público do país. A medida pode levar à prisão de
Evo, uma vez que o ex-presidente também foi convocado e também se recusou a
comparecer –seu depoimento estava marcado para a última quinta-feira (10).
Segundo o Ministério Público, a investigação contra Evo apura os crimes de
"estupro, exploração e tráfico de pessoas". A defesa do ex-presidente
afirma que o caso já foi analisado e arquivado pela Justiça em 2020 e que Evo é
inocente. O novo inquérito foi aberto pela promotora Sandra Gutiérrez, que
chegou a pedir a prisão dele no último dia 26 –a ordem foi derrubada por um
juiz poucos dias depois. Gutiérrez, que foi removida e depois restituída a seu
cargo, reabriu o caso contra Evo por estupro e acrescentou as acusações de
exploração e tráfico de pessoas contra o ex-presidente. Evo afirma que não vai
cooperar com a investigação, que considera ilegal. Segundo o mandado de prisão
anulado pela Justiça, os pais da suposta vítima a colocaram em contato com Evo
"com a única finalidade de ascender politicamente e obter benefícios em
troca da filha", o que configuraria tráfico e exploração de pessoas. O
ministro da Justiça do governo Arce, César Siles, disse na quinta-feira que o
Ministério Público pode ordenar a prisão de Evo caso ele siga se recusando a
depor. No último dia 3, Siles havia dito que há uma certidão de nascimento que
reconhece Evo como pai da filha da suposta vítima. O ex-presidente disse que o
governo do rival político ressuscitou a acusação para prendê-lo e acabar com a
sua vida. "Se sair uma ordem prisão ou tentarem capturá-lo, será acionado
imediatamente o bloqueio nacional de estradas nos nove departamentos do país.
Estamos em estado de alerta em defesa de Evo", disse o senador e dirigente
cocaleiro Leonardo Loza. Evo tem organizado protestos contra o governo Arce nas
últimas semanas a fim de pressionar pela convocação de novas eleições –o
próximo pleito está marcado para agosto de 2025, e o ex-presidente é impedido
pela legislação atual de concorrer novamente. Um dos protestos consistiu em uma
marcha até a capital, La Paz, que terminou em confronto com a polícia e dezenas
de feridos. Evo chegou a dar um ultimato a Arce no último dia 23, dizendo que o
presidente teria que trocar seus ministros em 24 horas caso quisesse
"continuar governando". O governo Arce considerou a fala uma
tentativa de golpe de Estado. Arce e Evo travam uma ferrenha disputa por
controle do partido governista, o MAS (Movimento ao Socialismo), dominado pelo
ex-presidente por muitos anos. Ex-ministro da Economia e escolhido a dedo por
Evo para sucedê-lo e disputar as eleições de 2020, Arce se distanciou do seu
padrinho político com a tentativa do ex-presidente de concorrer novamente ao
cargo em 2025 como candidato do MAS. O racha entre os dois piorou depois da
tentativa de golpe militar na Bolívia em junho deste ano. O general por trás da
quartelada, Juan José Zúñiga, havia sido removido do posto por Arce um dia antes
de cercar o palácio presidencial com tanques por se manifestar contra um
eventual retorno de Evo à Presidência e ameaçar o ex-presidente. Quando a
situação foi distensionada e o general, preso, Zúñiga afirmou ter agido a mando
de Arce –o presidente nega. Evo disse na época estar convencido que a ação do
general foi uma tentativa de autogolpe por parte de Arce para evitar seu
retorno ao poder. Leia Também: Justiça
emite mandado de prisão contra Evo Morales por abuso sexual.(Fonte
Mundo ao Minuto Notícias)