Cinco
grandes fornecedores de fios e tecidos chineses usam algodão de Xinjiang, mas
criaram uma rota de intermediários que omite a procedência.
Uma pesquisa da
Universidade Sheffield Hallam, na Inglaterra, afirma que mais de cem empresas
em todo o mundo vendem, sem saber, roupas produzidas com algodão da província
de Xinjiang,
na China.
O material é rejeitado por inúmeras empresas devido às suspeitas de uso de
trabalho forçado na região. As informações são da rede Voice of America.
O estudo afirma que cinco grandes fornecedores de fios e tecidos chineses usam
algodão de Xinjiang, mas criaram uma rota de intermediários que acaba por
omitir a procedência. Os produtos são exportados semiacabados para fabricantes
intermediários internacionais, que por sua vez enviam produtos finalizados para
marcas de todo o mundo. Incluindo dos EUA, que sancionaram o algodão da região e,
assim, proíbem sua utilização. Segundo Laura Murphy, autora do estudo e
professora de direitos humanos na universidade, aproximadamente 85% do algodão
produzido na China vem de Xinjiang, onde Beijing é acusada de uma série de abusos contra pessoas da
etnia uigur.
“Por meio desse processo, pudemos mapear as prováveis cadeias de suprimentos
que conectam o algodão de Xinjiang a mais de cem marcas internacionais”, afirma
o relatório. O relatório com o resultado da pesquisa afirma, ainda, que algumas
instalações nas quais o algodão é processado se “localizam nas proximidades ou
dentro de uma prisão ou campo”, referindo-se aos campos de detenção onde os uigures
são aprisionados. Segundo o documento, 52% do algodão, dos fios e tecidos
exportados pela China são enviados para 53 fabricantes intermediários em
Bangladesh, Sri Lanka, Vietnã, Filipinas, Hong Kong, Indonésia , Camboja,
Índia, Paquistão, Quênia, Etiópia e México. É nesses países que as roupas são
finalizadas e fornecidas a 103 marcas globais conhecidas. O que leva muitas
delas a comprar produtos sancionados sem saber. Segundo Murphy, a única forma
de evitar o erro é rastrear as fontes de matéria-prima através de suas cadeias
de abastecimento. “Cadeias de suprimentos complexas podem obscurecer a fonte de
matérias-primas”, disse Ela. “Às vezes, os fornecedores podem ocultar suas
fontes ou combinar diferentes fontes de algodão”. Lista de restrições Em julho, os Estados Unidos acrescentaram 14 empresas
chinesas à sua lista de restrições de comércio, sob a alegação de estarem
associadas aos abusos cometidos contra a minoria uigur. O Departamento de
Comércio alega que as empresas “permitiram a campanha de
repressão, detenção em massa e vigilância de alta tecnologia de
Beijing contra uigures, cazaques e membros de outros grupos minoritários
muçulmanos” na província chinesa de Xinjiang. Mais recentemente, em outubro, a Universal
Eletronics Inc. (UEI), empresa norte-americana que
fabrica controles remotos para algumas das gigantes da tecnologia global,
admitiu ter firmado um acordo com o governo da província para empregar cerca de
400 pessoas da etnia uigur. Foi o primeiro caso de uma companhia dos EUA
suspeita de ligação com um sistema laboral classificado como trabalho forçado. A
China nega as acusações de que comete abusos em Xinjiang e
diz que as ações do governo na região têm como finalidade conter movimentos
separatistas e combater grupos extremistas religiosos que eventualmente venham
a planejar ataques terroristas no país. O porta-voz do Ministério das Relações
Exteriores da China, Zhao Lijian, afirma que o trabalho forçado uigur é “a
maior mentira do século”. “Os Estados Unidos tanto criam mentiras quanto tomam
ações flagrantes com base em suas mentiras para violar as regras do comércio
internacional e os princípios da economia de mercado”, disse ele em coletiva de
imprensa em janeiro. Por
que isso importa? A comunidade uigur é uma minoria
muçulmana de raízes turcas que habita a região autônoma de Xinjiang, no
noroeste da China. A província faz fronteira com países da Ásia Central, com
quem divide raízes étnicas e linguísticas. Os uigures, cerca de 11 milhões, enfrentam
discriminação da sociedade e do governo chinês e são vistos com
desconfiança pela maioria han, que responde por 92% dos chineses. Denúncias dão
conta de que Beijing usa de tortura, esterilização
forçada, trabalho obrigatório e maus tratos para realizar uma
limpeza étnica e religiosa em Xinjiang. Estimativas
apontam que um em cada 20 uigures ou cidadãos de minoria étnica já passou por
campos de detenção de forma arbitrária desde 2014. O
governo chinês admite a existência de tais campos, que abrigam mais de um
milhão de pessoas, mas alega que eles servem para educação
contraterrorismo. O governo de Joe Biden, nos EUA, foi o
primeiro a usar o termo “genocídio” para
descrever as ações da China em relação aos uigures. Em seguida, Reino Unido e
Canadá também passaram a usar a designação, e mais recentemente a Lituânia se
juntou ao grupo.( Fonte A Referencia Noticias Internacional)