Palhaços Sem Fronteiras alegra rotina em campos de refugiados.
Grupo é um
braço do Médicos Sem Fronteiras e tem feito apresentações em locais de
conflitos e guerras, na busca de levar esperança às pessoas.
O que faz uma pessoa sobreviver em um campo de refugiados? Para quem está de fora, é difícil se colocar no lugar de alguém que foi obrigado a fugir de seu país, esteve perto da morte e se depara com a permanente insegurança para si e para seus familiares. Fora a falta de comida. A falta de infraestrutura. A falta de um motivo para sorrir. Idealizado pelo espanhol Tortell Poltrona, o Palhaços sem Fronteiras surgiu justamente para realizar a façanha de transformar em alegria a dura realidade de quem vive essa situação. Nem que seja uma alegria momentânea. O brasileiro Márcio Ballas, artista e palhaço com experiência internacional, viu de perto essa magia se manifestar. Em uma de suas primeiras experiências, foi o mais jovem membro da comitiva do Palhaços sem Fronteiras, ao lado de profissionais ingleses, belgas e franceses, que se apresentou na fronteira com a Albânia, para refugiados da Guerra do Kosovo, em 1999. Aos 46 anos, Ballas, nascido na capital paulista, nunca se esquece dessa passagem. Enquanto fala, deixa transparecer nas palavras a emoção que ainda permanece nele. Missão cumprida, nesse sentido. Afinal, se ela se manifesta nele, é um sinal de que até hoje também está presente naqueles que, em situação tão dramática, precisavam se alimentar do sorriso vindo de uma palhaçada. Que, também ato de amor, funciona como uma carícia. Ou um beijo. "Ouvi falar do Palhaços Sem Fronteira quando estava estudando para clown (palhaço), na França. Falei: 'nossa, nem sabia que isso existia'. Na época não havia internet. Então fui lá, bati na porta e disse, 'Oi, sou do Brasil, sou um palhaço brasileiro e quero muito viajar com vocês'. Alguns meses depois eles me convidaram para minha primeira viagem, para os campos dos refugiados kosovares e fizermos uma jornada de duas semanas lá." Foi uma situação completamente inusitada. No meio da vastidão cercada de montanhas, eles foram surgindo lá de longe, cortando o silêncio da estrada e a monotonia da vida em um campo de refugiados. "Um campo de refugiados é um grande acampamento, com várias barracas. As pessoas ficam esperando pela sorte, pelo destino. Não acontecem muitas coisas lá, às vezes chegam médicos, mantimentos. Imagine o que é, de repente, chegarem duas vans com caras estranhos, com trancinhas, desembarcando bolas de malabares, trapézio! Isso muda toda a rotina. Já a chegada é uma novidade. As pessoas falam 'opa, o que é isso?' Vão estranhando e vão olhar ver o que está acontecendo." E o que se passa na cabeça de alguém que tem a obrigação de ser engraçado em um ambiente complicado deste tipo? Ballas mostra que o palhaço nada mais é do que um espelho do ser humano, em sua luta diária para superar seus próprios fantasmas: o medo, a sensação de fragilidade. E, como bom palhaço, ou humano, ele soube transformar tudo isso em gargalhadas sinceras. "Fazíamos dois campos de refugiados por dia, era muito impressonante. Fiquei muito impressionado, nunca tinha ido e digo que estava com muito medo: eu era o mais novo da turma; os refugiados só falavam albanês, bem diferente de francês, inglês, espanhol e, por fim, estávamos no meio da guerra." Aos poucos eles foram fazendo a montagem do espetáculo. Ballas conta que o fato de a preparação ser aberta já é uma atração, com os artistas se maquiando em público."O espetáculo na verdade começa desde a nossa chegada. O momento em que a gente chega já é um evento e alguma coisa incrível já começa a acontecer." A apresentação Então, como dizem os americanos, "It´s show time!" ( É a hora do show!). "Eu estava com muito receio. Seria possível criar em um lugar assim? Será que vão rir, gostar, entender? E a gente fez um show que tinha poucas palavras, muitos sons e as pessoas gostaram muito, ficaram muito encantadas, batiam muita palma no final. Ficaram lá e me deixaram muito emocionado. Foi algo muito especial, a primeira vez em que me apresentei em um local tão dificil, sem estrutura. Não tinha luz, não tinha nada. Só o humano conversando com o humano." No fim, os palhaços deram o protagonismo para as pessoas dos campos. "No final a gente falava para eles fazerem algo em troca. Era o momento deles serem protagonistas. Em alguns dos campos eles dançaram danças típicas, em outros ensinaram músicas para a gente, em outros convidaram para irmos às barracas e fizeram um chá e pequenas comidinhas. Era uma hora muito bonita porque era a hora da troca, fomos lá mostrar o que sabíamos fazer, mas eles também tiveram essa oportunidade." Outra viagem de Ballas foi para Madagascar, na África. Lá o grupo fez espetáculos em favelas, em lugares "muito muito muito pobres", em prisões para crianças, de 12,13,14 anos, que "foi algo muito forte". Mas eles conseguiram colorir, pelo menos por um tempo, um lugar tão cinza, como ele conta. Um hábito do Palhaços Sem Fronteiras, que ainda atua e ampliou há dois anos suas atividades para o Brasil, é deixar um nariz de palhaço, como presente, para cada uma das pessoas nestes campos. Ballas, que continua a atuar no ramo brasileiro do grupo, conta a razão desta atitude. "Fazíamos uma grande roda e distribuíamos os narizes. Era um momento muito bacana e emocionante, porque todos colocavam o nariz e ficava todo mundo igual. Um monte de palhaços de diversas partes do mundo, olho no olho. Era uma maneira de deixar alguma coisa com eles lá. Assim, depois, eles poderiam se lembrar desse momento, brincar com esse momento, fazer algo com o nariz, brincar com o nariz. Era uma maneira de deixar alguma esperança, alguma fagulha lá para eles, depois que a gente fosse embora."( Fonte R 7 Noticias Internacional)
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