Planejamento
urbano deve levar em conta necessidades de gênero, afirmam especialistas.
BID destaca que falta de segurança pública impacta
diretamente na mobilidade da mulher nas cidades
Uma maior
participação das mulheres nas tomadas de decisão, seja em cargos públicos ou
por meio da sociedade civil organizada, é fundamental para que o planejamento
das cidades leve em conta as necessidades específicas de gênero.Essa foi uma
das conclusões do debate promovido na sexta-feira (19) pela Secretaria
da Mulher da Câmara dos Deputados e pelo Conselho de Arquitetura e
Urbanismo do Brasil sobre a relação entre as mulheres e os espaços urbanos,
principalmente em tempos de pandemia. Um diagnóstico feito pelo Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID) mostra que falta conhecimento técnico a
prefeituras e governos estaduais para a inclusão de questões de gênero na
gestão das cidades. Os problemas vão desde a sinalização com imagens
estereotipadas até a falta de banheiros públicos. Falta de segurança Para a diretora de Habitação e Desenvolvimento Urbano do BID, Clementine
Tribouillard, a mobilidade da mulher nas cidades sofre um impacto específico
por conta da ausência de segurança. “A sensação de insegurança influencia
bastante nas escolhas das rotas, dos meios de transporte, dos horários, do
vestuário”, disse. A preocupação com o tema também está presente no trabalho
“Parque para Todos e para Todas”, que analisa quais parâmetros devem ser
adotados pelos parques urbanos para atender melhor à população. O levantamento
é do Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos (Unops). A
representante do programa no Brasil, Claudia Valenzuela, destacou providências
que podem amenizar o medo da violência, como a instalação de estacionamentos
próximos e o mais policiamento. “O parque tem de ser iluminado, para que as
pessoas visualizem o que está acontecendo”, acrescentou. “Os espaços precisam
ser monitorados e não devem facilitar o estabelecimento de áreas abandonadas,
que podem propiciar elementos de violência.”A presidente do Conselho de
Arquitetura de Urbanismo do Brasil, Nadia Somekh, apresentou dados sobre
equidade de gênero. Eles revelam que 1/3 das cidades tem infraestrutura
precária e que as mulheres são chefes de família em 60% das moradias.Planos
municipais Segundo a analista técnica de Trânsito e Mobilidade Urbana
da Confederação Nacional de Municípios (CNM), Luma Costa, as questões de gênero
devem estar nos planos municipais de mobilidade. O prazo para a elaboração
desses documentos é até abril de 2022 para municípios com mais de 250 mil
habitantes e até abril de 2023 para as cidades menores. Luma defende a inversão
da pirâmide do transporte, para privilegiar, nesta ordem, o pedestre, a
bicicleta e o transporte coletivo. “Os deslocamentos da mulher são feitos muito
mais a pé e em veículos de uso coletivo.” Mudança cultural Mediadora do debate, a deputada Angela Amin (PP-SC)
destacou a importância de haver uma mudança cultural para que as necessidades
das mulheres sejam priorizadas. “Deve-se pensar a cidade em um processo
humanista, de inclusão, fazendo com que o olhar no planejamento com relação à
mulher venha a ser um hábito, principalmente nas obras públicas”, declarou.Representatividade
Durante a discussão, outro dado apontou a falta de prioridade para as mulheres.
Em 2019, a cidade de São Paulo lançou um dicionário de ruas. Lá está registrado
que só 16% dos logradouros públicos da maior metrópole brasileira têm nomes femininos.(
Fonte: Agência Câmara de Notícias) Reportagem - Cláudio Ferreira Edição - Marcelo Oliveira