Brasiliense constrói sua própria moto e participa de
competição de customização inédita no país.
Máquinas coloridas, rodas
estilosas, o ronco do motor. Das oficinas do Distrito Federal saem motos
personalizadas, cada uma com um estilo singular. A brasiliense Geane Pereira de
Santana, 34 anos, deixou o trabalho terceirizado no Detran (Departamento de Trânsito
do Distrito Federal) para se dedicar somente à customização de motos e
acessórios. Hoje, existem mais de 63.800 condutoras registradas no Detran
com habilitação para pilotar motocicletas.Além de ser idealizadora da empresa
Morto de Fome, que faz pinturas em capacetes e outros equipamentos para
motociclistas, Geane é uma das quatro mulheres brasileiras escolhidas para
participar da "Build. Train. Race." (Construir. Treinar. Correr.),
prova com motos customizadas. A competição, destinada unicamente às mulheres, é
inédita no país e ocorre neste sábado (2), em Sorocaba (SP). A loja iniciou os
trabalhos com o foco em materiais de cozinha, mas, desde 2016, investe no ramo
das motocicletas. “A gente pinta, entre outras coisas, xícaras, tábuas de carne
e serrote. Depois que peguei o gosto pelas motos, expandimos o ramo para
capacetes”, explica a empreendedora. A artista conta que já desenhava
antes, mas fazia artes para banners, cartazes e outros materiais gráficos. O
objetivo é deixar cada objeto, até mesmo os de uso rotineiro, com “a cara do
cliente”. “Estou começando a trabalhar em tanques de motos também. Fiz
toda a personalização para a moto que eu vou competir. Inclusive, precisei
criar peças do zero”, explica. Para participar da "Build. Train.
Race.", Geane começou a construção da motocicleta a partir de um kit
entregue pela organização do evento. Além de uma ajuda de custo para auxiliar
na customização, o kit consistia em uma moto com escapamento esportivo. A ela
coube a missão de completar toda a parte estrutural, elétrica, mecânica e de
pintura.“Uma moto de corrida exige um preparo. Tivemos que trocar as rodas,
montar novos aros, tirar os pneus e cortar o chassi, e fizemos alterações no
câmbio, no guidão. Fabricamos uma ligação direta e tiramos todos os itens que
não são necessários para a competição”, explicou.A construção das peças ocorreu
na oficina colaborativa Kluster Moto Hub, que fica na Asa Norte, no coração da
capital federal. Lá, os usuários têm acesso às ferramentas corretas,
conhecimentos básicos ou avançados para qualquer pessoa que queira desenvolver
os próprios projetos.Após a fabricação das motos, a competição avalia a
performance das pilotos em uma corrida estilo flat track — circuito oval de
terra batida. Além de Geane, outras três mulheres participam do evento: a
paulista Edna Prado, a mineira Gisele Favaro e a paranaense Bruna Wladyka. Criando a sua própria moto As motos
customs vão além das cores e formas. A origem desse tipo de motocicleta está na
Segunda Guerra Mundial, quando os soldados estadunidenses precisavam ter a
habilidade de consertar seus veículos com os utensílios que estavam disponíveis
no momento. Há também quem construa a própria moto, fabricando peças de forma
independente, sem contar com uma marca por trás. Tião Borges, entusiasta da
modalidade, criou uma motocicleta a partir de pouco, comprando o ferro e
utilizando de usinagem e serralheria. Porém, ele afirma que não é possível
“começar do zero”. “Sempre é necessário ter um motor, um quadro ou uma peça,
que seja de uma marca específica”, diz. Existem dezenas de modelos de
motocicletas consideradas custom. As principais são scrambler, cafe racer,
tracker, brat-bob, brat, chopper, American e European Bobber. Cada uma delas é
destinada a um tipo de terreno, um peso, se é para viagens ou não, entre outras
funções.Segundo os amantes da customização, qualquer motocicleta pode passar
por uma personalização. Desde amarrar uma bandana no guidão, até transformar a
moto por completo, motociclistas apontam que o veículo precisa atender às
necessidades de quem o pilota. “Se você compra uma moto na concessionária e ela
é mais longa do que o seu braço, por exemplo, você pode mudar o guidão; pode
trocar um banco; a pedaleira, etc”, explica a motociclista Raphaella Maciel.
“Dá para transformar uma CG em uma cross para trilhas, depende do que se quer”,
ressalta ela.Raphaella é modelo fotográfica brasiliense e amante das
customizadas. Ela é uma das finalistas de um desafio de uma reconhecida marca
de motos. Em 10 meses, a motoqueira nascida em Ceilândia e criada em Samambaia,
regiões administrativas de Brasília, passou por lugares como Pirenópolis (GO),
Alto paraíso (GO), Paracatu (MG), Caldas Novas (GO), Amargosa (BA), Alagoinhas
(BA), Capitólio (MG) e Palmas (TO). “É uma sensação indescritível. Quando estou
em cima da moto é a minha conexão com Deus”, diz. Além dela, nomes como Fabi
Avila Santos, Mony Justino e Janise Marina Piazzon são expoentes do movimento
de customização. Elas possuem empresas ou realizam a construção de materiais
artesanais próprios para motocicletas, como bagageiros, munhequeiras, punhos,
capacetes etc.“Por causa dessa nossa cultura que está mudando — e muito —,
vejo que as mulheres estão tendo a necessidade de se impor. É uma questão de
sobrevivência, de empoderamento e de lutar pelos seus ideais e direitos”,
relata Janise.“Antes, as mulheres iam na garupa. Hoje, elas estão, cada vez
mais, adquirindo as próprias motos, montando clubes independentes, viajando e
se apropriando desse ambiente. Isso é muito bom, pois democratiza e diversifica
esse cenário”, diz Nilton Lima, dono de uma oficina em Taguatinga.De acordo com
ele, as mulheres são quase metade do público da oficina. “A gente customiza,
pinta, cria novos acessórios, monta e reestrutura as motos de muitas mulheres.
Cada uma traz a criatividade e a gente tenta realizar esses sonhos”, afirma.Legalizando a motoAs motos
modificadas não podem transitar sem autorização. Segundo o Detran-DF, para
regularizar uma alteração em motocicletas, primeiro o proprietário deve
procurar uma unidade de vistoria, de posse do Certificado de Registro do
Veículo e o Certificado de Registro de Licenciamento. A autorização será
emitida nos termos do artigo 98, do Código de Trânsito Brasileiro. Com a
autorização, o próximo passo é fazer a modificação pleiteada e pegar as notas
fiscais das peças e serviços. Depois disso, deve-se agendar a vistoria para
alteração de característica no Portal de Serviços ou aplicativo do Detran. No
dia da vistoria, as notas fiscais e o certificado deverão ser apresentados com
a motocicleta modificada. Para mudança da cor, a vistoria pode ser realizada em
qualquer unidade de vistoria. Transformações no sistema de suspensão,
atualmente, não são permitidas pela legislação. Os motoristas que fizeram essas
alterações, como rebaixamento, estão cometendo infração de trânsito grave, cuja
penalidade é multa no valor de R$ 195,23 e retenção do veículo para
regularização.( Fonte R 7 Noticias Brasil)