Instabilidade política e desemprego estão entre os motivos das 40
solicitações diárias abertas por dona de escritório especializado, em Santos
(SP)
A vida na Europa parece ter se tornado um sonho ainda mais cobiçado
desde que a pandemia do novo coronavírus chegou ao país, tirando vidas,
provocando crises na economia, na política e até mesmo nas relações familiares.
O aumento de 100% nas solicitações de aberturas de processos por cidadania
europeia em um escritório de advocacia em Santos, no litoral de São Paulo, é um
indicativo desse anseio por um novo caminho. Antes do agravamento dos casos de
covid-19 no Brasil, Aline Fortuna, proprietária do negócio, atendia, em média,
a 20 chamados diários nas redes sociais ou em aplicativos de mensagem por
celular com perguntas sobre requisitos para o início dos trâmites. Porém, de
abril em diante, os chamados triplicaram. "Hoje, tenho 60 mensagens",
contou a advogada. Nem todas as consultas se transformam em processos, mas as
pastas abertas com os pedidos oficializados de cidadania portuguesa, italiana,
espanhola e alemã (especialidades do escritório) mais que dobraram. "Se
tinha a entrada de pedidos era de 18 por mês, hoje tenho 38", completou a
advogada. Aline
Fortuna acredita que o temor pela instabilidade política vivida no país em
razão da doença, somado ao medo do desemprego, da queda na renda familiar e o
sentimento de incerteza sobre o futuro ampliam essa vontade deixar o Brasil.
Algumas pessoas almejam mais qualidade de vida, conforto e tranquilidade.
"As pessoas que têm condições de obter a cidadania o fazem. Já existia
antes. Mas, se intensificou na quarentena. Tem pessoas que querem ir embora
para tentar uma nova vida. Na Europa, o poder de compra é maior. Há segurança,
qualidade de vida. Lá, a pessoa não precisa pagar escola para os filhos",
explicou Aline.Porém, outras aspirações motivam a busca pelo passaporte
europeu, especialmente em pessoas mais velhas, como resgatar a história da
própria família ou deixar uma herança para as novas gerações. Foi o que motivou
o servidor público aposentado Cláudio Augusto, de 62 anos. "Foi uma
herança e consegui deixar parte dela para os filhos e netos."Filho de um
português de Terrenho, um vilarejo em uma freguesia (menor divisão
administrativa de Portugal) pertencente ao concelho (distrito) de Trancoso, na
Região do Centro, Cláudio espera que os benefícios da cidadania europeia possam
impulsionar a evolução dos seus descendentes em suas carreiras profissionais e
projetos pessoais. "Há nove anos, meu filho fez intercâmbio na Austrália e
voltou animado em obter a cidadania. Com passaporte europeu, ele fica
dispensado também do visto para entrada nos Estados Unidos. Além de gozar dos
mesmos direitos na comunidade europeia, você tem segurança, bons estudos e
aprende idiomas", complementou Cláudio Augusto. Além da possibilidade uma
vida mais confortável e tranquila no exterior, a cidadania também abre portas
da Europa e de outros países através de tratados internacionais em viagens,
porque os integrantes da UE (União Europeia) têm direito a passar por filas
específicas em aeroportos de todo o mundo."Tendo a cidadania europeia,
você pode morar em qualquer país da UE. Muitos querem a cidadania para poder
ficar no país sem qualquer outro requisito. E não só na Europa. Abre um mundo
de possibilidades", finalizou Aline.( Fonte R 7 São Paulo)