ARTIGO: As novas relações
EUA-Colômbia na área de segurança.
Foco da estratégia norte-americana na
área de segurança tornou-se menos militarizada com planos de paz, diz
especialista.
Entre
2000 e 2016, os governos da Colômbia e dos Estados Unidos (EUA) mantiveram
relações próximas na área de segurança,
baseadas principalmente na execução do Plano Colômbia. Este foi um pacote de
assistência norte-americana para a Colômbia proposto pela administração de
Andrés Pastrana (1998-2002), inicialmente voltado para o desenvolvimento do
país andino. Após as negociações entre os dois países em 1999, o programa
entrou em vigor formalmente em 2000, mas passou a executado de fato a partir de
2001 (ROJAS, 2015).Apesar de a proposta colombiana ter se focado na assistência
ao desenvolvimento econômico e social do país, prevaleceu a norte-americana,
cuja ênfase recaía sobre o combate às drogas no país. Segundo os argumentos do
governo dos EUA, o enfraquecimento do narcotráfico na Colômbia levaria a um
declínio dos grupos armados atuantes no país (PIZARRO; GAITÁN, 2006). Isso porque
desde meados da década de 1990, as duas principais guerrilhas colombianas
– as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e o Exército de
Libertação Nacional (ELN) – começaram a fortalecer-se por meio de recursos
vindos do narcotráfico (PÉCAUT, 2010).Tendo contribuído para a modernização das
Forças Armadas da Colômbia e para o enfraquecimento das guerrilhas – apesar de
não ter sido eficaz no combate ao narcotráfico –, o Plano Colômbia foi
encerrado em 2016, sendo
substituído pelo plano Paz Colômbia, uma iniciativa norte-americana voltada
para o apoio à implementação do acordo de paz assinado entre o governo de Juan
Manuel Santos (2010-2018) e as FARC, em Havana. Apesar do fim desse que foi o
principal programa de assistência de segurança na história das relações entre
os dois países, isso não significou um distanciamento. Nesta nova etapa, o que
se vê, por um lado, é um foco nos aspectos qualitativos da assistência de
segurança: treinamento e influência doutrinária das instituições
norte-americanas sobre as Forças Armadas colombianas. Por outro lado, há uma
tendência à desmilitarização da ajuda estadunidense. Apesar de o número de
militares colombianos treinados por técnicos dos EUA não ter sido tão
grande quanto no período que vai de 2001 a 2007, continuou em um
patamar relativamente alto para a região, variando entre aproximadamente 4.000
e 2.000 militares.Além disso, as Forças Armadas norte-americanas treinaram
unidades colombianas importantes para o período pós-acordo, como a Escola de
Missões Internacionais e Ação Integral, responsável pelo ensino de efetivos
empregados em ações de auxílio a projetos de desenvolvimento socioeconômico
(MOYAR; PAGAN; GRIEGO, 2014). Outro ponto importante é o apoio do Comando Sul
dos EUA para que militares colombianos treinem forças de segurança de outros
países a partir do modelo adotado durante a vigência do Plano Colômbia. O
programa encarregado disso é o Plano de Ação EUA-Colômbia sobre Cooperação em Segurança
Regional, assinado em 2012, tendo sido treinados 16.997
integrantes das forças de segurança de países da América Central e do Caribe
entre 2013 e 2017 (TICKNER; MORALES, 2015).Em relação à influência
doutrinária dos EUA, esta pode ser vista a partir da presença de militares
norte-americanos nos comitês das Forças Armadas colombianas encarregados da
formulação da nova doutrina colombiana no período pós-acordo,
chamada de Doutrina Damasco. Nesse sentido, técnicos do Exército dos EUA
participaram do Comitê Estratégico de Desenho do Exército do Futuro, enquanto o
Comando Sul auxiliou o Centro de Doutrina do Exército da Colômbia na elaboração
do novo modelo doutrinário. Além disso, o principal conceito operacional dessa
doutrina foi baseada em um dos manuais de campo do Exército norte-americano
(ROJAS, 2017).Por outro lado, as novas relações bilaterais passaram a ser menos
baseada na assistência militar, voltando-se para a promoção de projetos de
desenvolvimento socioeconômico em áreas antes dominadas pelas guerrilhas.
Apesar de ter se iniciado no final do governo Bush (2001-2009), esse fato se
consolidou com o governo Obama, através de iniciativas ligadas ao Departamento
de Estado. Esse foi o caso do próprio plano Paz Colômbia, da Iniciativa de Desenvolvimento
Estratégico da Colômbia (CSDI), com forte presença da Embaixada dos EUA na
Colômbia e da Estratégia de Cooperação para o Desenvolvimento do País,
executado pela USAID. Todos esses programas, embora com valores mais
baixos que o Plano Colômbia, demonstram uma grande diferença com relação ao
período de 1998 a 2010.Portanto, apesar de as relações entre EUA e Colômbia
terem passado por uma transformação que incluiu o fim do Plano Colômbia e a
diminuição da assistência militarizada, o que se viu foi a continuação de uma
relação próxima entre os dois países na área de segurança, sendo possível
afirmar que a dependência do país
sul-americano para com os EUA continua, por outras formas,
adaptada ao contexto doméstico de ambos os países e à nova conjuntura
internacional.* Esse texto é baseado no artigo intitulado “Relações
militares entre Estados Unidos e Colômbia: do Plano Colômbia ao Acordo de Paz
(2000-2018)”, publicado pela Meridiano 47.(Fonte A Referencia
Noticias Internacional)
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