Chacina tirou a vida de até 500 integrantes de povos originários que eram obrigados a trabalhar nas plantações de algodão.
A Justiça da Argentina iniciou nesta terça-feira (19) um
julgamento que pretende lançar luz sobre o episódio que ficou conhecido como
Massacre de Napalpí, ocorrido em 19 de julho de 1924, quando entre 300 e 500
integrantes dos povos originários foram assassinados por forças policiais."Vamos
mostrar, de maneira concreta e contundente, quem participou e quem foram os
responsáveis por este genocídio", afirmou o procurador federal Federico
Garniel, encarregado da acusação, durante a audiência que aconteceu em Resistencia,
uma capital no nordeste da Argentina. Trata-se do primeiro julgamento que
investiga a perseguição sistemática dos povos originários no país. Em 2018, o
caso Napalpí foi declarado crime contra a humanidade e, por isso, não pode
prescrever.Contudo, por não haver acusados vivos, trata-se de uma espécie de
"comissão da verdade" para investigar, esclarecer e dar publicidade
ao episódio como forma de reparação às vítimas, suas famílias e comunidades. O
julgamento deve ser concluído em 19 de maio. Napalpí é uma "redução"
— como se chamava na Argentina os lugares de confinamento de indígenas —
situada onde hoje é a província do Chaco. Lá viviam comunidades das etnias qom
e moqoit em condições de semiescravidão, obrigadas a trabalhar nas plantações
de algodão.Naquela época, após ignorar os protestos dos indígenas para mudar
suas condições de vida, o então governador Fernando Centeno ordenou uma
operação repressiva da qual participaram cerca de 130 policiais e civis
armados, que dispararam à queima-roupa contra crianças, idosos e adultos
desarmados. Os corpos dos assassinados foram mutilados e enterrados em valas
comuns.Após as primeiras alegações na sala de audiências, foram exibidos
registros audiovisuais de entrevistas com dois sobreviventes, Pedro Valquinta,
nascido há 110 anos, e Rosa Grilo, uma senhora de 114 anos. "Para
mim, é triste, mataram meu pai. Quase não quero mais me lembrar. Coisas
tristes. Mataram muita gente", diz Rosa Grilo no testemunho filmado pelo
Ministério Público em 2018.Em 2008, durante o seu primeiro mandato, o atual
governador de Chaco, Jorge Capitanich, havia pedido perdão pelo massacre em
nome do estado provincial.Os historiadores destacam que, durante o processo de
formação da Argentina como nação independente, os povos originários foram
subjugados e ficaram à beira do extermínio.Um dos episódios mais trágicos é
conhecido como "A Campanha do Deserto", para a incorporação da
Patagônia ao território nacional, que deixou um saldo de pelo menos 14 mil
indígenas mortos entre 1878 e 1885.De acordo com o censo de 2010, dos 45
milhões de habitantes da Argentina, apenas 1 milhão se definem como integrantes
ou descendentes de alguma das 39 etnias originárias. Desde
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