Questões que envolvem independência, troca de regime e até receio de
chacota mundial interferem na decisão de governos.
O primeiro presente que um
ser humano ganha na vida é o próprio nome. Na maior parte dos casos, a palavra
escolhida geralmente pelos pais meses antes do nascimento do filho é levada por
ele por toda a sua existência, é a forma como se apresenta daí em diante para o
mundo.No caso de um país, não é muito diferente. A decisão sobre o nome pode
envolver uma série de fatores, como a vegetação local, a cultura do povo ou até
mesmo o regime político. Por esses motivos, a mudança de nome acaba sendo
também uma consequência de como a nação quer ser vista pela própria população e
pelo mundo. O cientista político e professor do Insper (Instituto de Ensino e
Pesquisa) Leandro Consentino explica que até o Brasil — que recebeu esse nome pela
exploração do pau-brasil — já foi renomeado para enfatizar questões políticas,
como a proximidade diplomática com os Estados Unidos.“O Brasil, por exemplo,
quando nasceu para república, se chamava Estados Unidos do Brasil, com uma forte
influência norte-americana. Depois isso foi deixado de lado, virando a
República Federativa para enfatizar o caráter tanto republicano quanto
federativo do regime”, diz Consentino ao R7. O professor de relações internacionais da
UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro) Luiz Felipe Osório afirma
que na maioria das vezes as mudanças ocorrem como uma forma de rompimento com o
colonizador. “A mudança de nome significa sempre um renascimento, uma
nova identidade que aquele território quer assumir perante os pares no sistema
internacional. Talvez o motivo mais frequente seja a descolonização, ou seja, a
iniciativa de romper por completo os laços com o colonizador ou com o período
de submissão que, às vezes, impõe à localidade os nomes mais desconexos com
suas realidades”, explica Osório ao R7.Muitos nunca ouviram falar de Alto Volta,
Costa do Ouro ou Rodésia, mas certamente conhecem Burkina Faso, Gana e
Zimbábue. Estes foram os nomes escolhidos pelos países quando conseguiram a
independência e o rompimento dos laços com França e Reino Unido.“Rodésia tinha
esse nome em razão do colonizador britânico Cecil Rhodes, que queria colonizar
até as estrelas, se possível”, brinca Osório.Exemplos na África não faltam,
como o Zaire, que virou República Democrática do Congo — que nada tem a ver com
a República do Congo —, Sudoeste Africano, que se tornou Namíbia, entre outros.Essas
mudanças não são exclusividade africanas. Na Ásia, o Ceilão é o atual Sri Lanka
— onde nos dias de hoje a população participa de manifestações que
derrubaram o presidente Gotabaya Rajapaksa —, a Birmânia
virou Mianmar, e o Paquistão Oriental, chamado agora de Bangladesh. Se a África
e a Ásia passaram por revoluções populares que alteraram o nome de países, o
Velho Continente também tem histórias parecidas. Após a dissolução da União
Soviética, diversos países do Leste Europeu decidiram se separar ou mudar de
nome.Um dos casos mais conhecidos é o da Iugoslávia. Uma das grandes potências
dentro da União Soviética, viu a queda da grande república unificada iniciar um
desmanche do seu território, até o fim definitivo. Bósnia e Herzegovina,
Croácia, Eslovênia, Kosovo, Macedônia, Montenegro e Sérvia surgiram a partir da
dissolução iugoslava.Toda essa separação fez o talentoso meia Dejan Stankovic
disputar três Copas do Mundo por
três países: Iugoslávia (1998), Sérvia e Montenegro (2002) e Sérvia (2010).Mais
recentemente, outros países europeus decidiram mudar seu nome. A popular
Holanda fez um “reposicionamento de marca” em 2020 e pediu para ser chamada de
Países Baixos.“Holanda era a designação abreviada de apenas uma província do
total dos Países Baixos que constituem o território. Além de Amsterdã (também
conhecida como Holanda do Norte), há a Holanda do Sul e outras dez províncias
(Barbante do Norte, Drente, Flevolândia, Frísia, Guéldria, Groningen, Limburg,
Overijssel, Utrecht e Zelândia)”, detalha Osório. Apesar da decisão do governo
dos Países Baixos de mudar o nome, é preciso que o restante do mundo abrace a
ideia. O que, de fato, ainda não ocorreu, segundo Consentino.“A questão da
Holanda e dos Países Baixos deixa bem claro o fato de que não adianta você
mudar o nome se você, de alguma forma, não consegue ‘vender esse nome do ponto
de vista internacional’. Alguns nomes pegam e outros não pegam.”Ainda segundo o
professor do Insper, com o tempo, o nome Países Baixos deve ganhar espaço e
começar a ser usado de maneira mais recorrente no cenário internacional.O caso
turco, porém, é o mais diferente de todos os citados acima. Preocupado com a
grafia em inglês do nome do país — Turkey —, que significa peru, o governo de
Recep Tayyip Erdogan pediu à ONU que a nação fosse conhecida internacionalmente
como Türkiye.Além
de nomear uma ave, a palavra turkey pode ser usada na língua inglesa com
referência a uma pessoa tola, estúpida.“Os países querem se inserir mais no
cenário global, no cenário internacional, e, portanto, um temor que se soma às
preocupações histórico-culturais é como o seu país vai ser visto, vai ser
encarado, no cenário internacional. [...] [A Turquia] quer soar de uma forma
mais simpática ou menos jocosa ao Ocidente”, conclui Consentino. Além da guerra na Ucrânia, outros conflitos brutais ocorrem atualmente,
apesar de não receberem tanta atenção quanto as várias ofensivas russas no
território ucraniano. Assim como no Leste Europeu, essas guerras seguem
deixando um grande rastro de mortes e destruição.( Fonte R 7 Noticias
Internacional)