Fórum
de Águas Lindas ganha sala lúdica para depoimentos de crianças vítimas de
violência
Crianças vítimas de violência e abusos sexuais poderão
ser ouvidas em um ambiente lúdico, para propiciar maior acolhimento e minimizar
traumas em novo espaço inaugurado na última semana, no Fórum de Águas Lindas.
Chamada de ludoteca, a sala tem brinquedos pedagógicos e, inclusive, peças
estratégicas que podem ajudar a retratar os crimes sofridos.
Na inauguração, o juiz titular da 1ª Vara, Felipe Levi
Jales Soares, destacou que magistrados não têm treinamento necessário, ao
contrário de psicólogos, para coletar depoimentos de menores que vivenciaram
estupros ou abusos. “Dessa forma, ao fazer a criança rememorar fatos sofridos
sem o cuidado necessário, a colocamos em situação vexatória e provoca-se a
revitimização – é justamente isso que queremos evitar”, explica.
A Ludoteca foi instalada com apoio do Instituto Sabin,
organização sem fins lucrativos que atua para melhoria da sociedade onde o
Laboratório Sabin tem sedes. “Diferente de uma brinquedoteca, que abriga
crianças durante uma audiência dos pais, a ludoteca tem um papel fundamental
para a justiça: é o local onde se colhe depoimentos das crianças, numa
abordagem tranquila, feita por pessoas capacitadas para isso”, explicou o
gerente-executivo da organização, Fábio Deboni.
Brinquedos, livros e móveis foram doados pelo
instituto, que inaugurou mais de 83 salas do tipo no País. Em Águas Lindas, a
iniciativa foi proposta por Felipe Levi e pela assistente jurídica e
coordenadora local do programa Pai Presente, Andréa Leilane de Sousa, que
procuraram a organização e cederam o espaço.
O próximo passo é a instalação de equipamentos de
escuta, gravação e transmissão de áudio, para comunicação entre juiz e
psicólogo durante audiência das vítimas. “Temos notícias de que, em breve, o
Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO) vai fazer as aquisições e
instalações dessa tecnologia”, acredita o magistrado.
Depoimento sem dano
Psicóloga atuante na comarca há cerca de dois anos,
Fernanda Rodrigues, conta que é fundamental fazer com que a criança fique à
vontade. “É preciso estabelecer um vínculo e passar confiança à vítima e
utilizar técnicas específicas. Mesmo assim, muitas vezes, a criança resiste e
não fala”, explica à servidora.
Para ajudar nas oitivas, na ludoteca, há uma família
de bonecos sexuados – são vários integrantes de um mesmo núcleo familiar,
feitos de pano, com pequenos botões de metal costurados nos locais destinados a
genitálias. Espaços para desenhos também são importantes para ajudar os
pequenos nas expressões de seus sentimentos. Com demonstrações nos brinquedos,
a criança pode contar o que passou, conforme elucidou Fernanda.
A escrevente Valquíria Rosa Dantas tem curso de
depoimento sem dano, chancelado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Segundo a servidora, a criança vítima, “ao rememorar o crime na delegacia e no
Judiciário sofre abuso novamente”. Na ludoteca, com um ambiente preparado e
profissionais capacitados, o contato é facilitado, acredita. “Crianças vítimas
de violência costumam ficar retraídas ou agressivas, por isso que mudanças de
comportamento repentinas devem ser avaliadas por familiares. É preciso ter um
olhar atento, não induzir perguntas e não levar a criança a criar verdades ou
histórias que não aconteceram, por isso a cautela”, destaca. (Texto: Lilian
Cury / Fotos: Wagner Soares - Centro de Comunicação Social do TJGO)