Os relatos estão no inquérito instaurado pela direção da faculdade, e parte deles foi reiterada por cinco denunciantes ouvidos pela reportagem. Todos pediram para não terem seus nomes divulgados.
FOLHAPRESS) - Os alunos e
ex-alunos da Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo) que acusam
Alysson Mascaro de abuso sexual dizem que o professor atraía vítimas a seu
apartamento oferecendo conselhos acadêmicos. Ele também é acusado de assédio
moral. Os relatos estão no inquérito instaurado pela direção da
faculdade, e parte deles foi reiterada por cinco denunciantes ouvidos pela
reportagem. Todos pediram para não terem seus nomes divulgados. O processo está
em sigilo. A advogada do professor, Fabiana Marques, que também teve acesso aos
depoimentos, foi questionada sobre eles e respondeu manter a confiança na
inocência de seu cliente e acreditar que os relatos são fracos e não se
sustentam. Nenhum boletim de ocorrência foi registrado contra Mascaro. Os casos
foram relatados apenas à USP. Os estudantes dizem ter sentido medo de prejudicar
sua jornada acadêmica e a carreira ao denunciar o professor. Felipe (nome
fictício) relata ter conhecido Alysson Mascaro em 2022, na USP. Era seu aluno
na disciplina de filosofia do direito. Na saída da primeira aula do ano,
elogiou o discurso do professor que, em seguida, teria perguntado sobre a vida
do aluno. Eles, então, descobriram ser vizinhos. O estudante diz que começou a
se abrir com o professor e sentiu ter encontrado nele uma figura de apoio. Dias
depois do primeiro encontro, Felipe foi convidado para uma conversa de
orientação acadêmica no apartamento do professor, na República, região central
de São Paulo. Segundo o estudante, Mascaro iniciou uma discussão sobre a
necessidade de o ser humano ter tesão na vida, citando a filosofia hedonista de
Epicuro, sobre o prazer como finalidade da existência. Falou também que gostava
de pornografia e que se masturbava quando lia, afirma o estudante. Por fim,
Mascaro teria dado um abraço no aluno, passado a boca em seu pescoço e
esfregado seu pênis nele. Outros alunos e ex-alunos da USP relatam dinâmica
parecida. Um deles, convidado por Mascaro para uma conversa sobre assuntos
acadêmicos em seu apartamento, em 2022, disse ter sido coagido a ficar de cueca
e abraçar o professor. Mascaro teria dito estar imitando a maneira como
filósofos e seus discípulos se relacionavam na Grécia Antiga. Todas as vítimas
levadas ao apartamento afirmam ter buscado distância do professor e
praticamente abandonado suas carreiras acadêmicas após os episódios. GRUPO DE
ESTUDOS As acusações de abuso estão concentradas no grupo de pesquisa chefiado
por Mascaro na USP, chamado Crítica do Direito e Subjetividade Jurídica. Em
2017, quando entrou no grupo, Pedro (nome fictício) diz ter ficado surpreso com
as exigências do docente. Todos os recém-chegados, afirma, deveriam escrever um
artigo ou resenha em homenagem ao trabalho do orientador e chamá-lo de mestre. Mascaro,
segundo o ex-orientando, também pedia favores aos membros do grupo. Algumas
demandas eram direcionadas especialmente a uma mulher, uma das poucas desde a
fundação do grupo, em 2016. Ela, dizem ex-pesquisadores, era tratada como
secretária do professor e até já foi convidada a limpar um apartamento dele. Até
2020, esse grupo de pesquisa era composto por cerca de 20 pessoas. Quando se
tornou virtual, em razão da pandemia de Covid, a quantidade de membros aumentou
a mais de 100, apesar de o edital público permitir apenas 15 novos
participantes por chamamento. Segundo depoimentos, Mascaro teria ordenado o
aceite de quase todos os interessados em sua orientação. Alguns dos aprovados
foram submetidos a uma entrevista com o orientador. Muitos dos que passaram por
essa etapa relataram ter sido posteriormente vítimas de investidas sexuais de
Mascaro e abandonado o grupo. Neste mês, 97 ex-orientandos do acusado
publicaram uma nota em apoio aos denunciantes. RELEMBRE O CASO Alysson Mascaro
é advogado, filósofo marxista e professor associado da Faculdade de Direito
desde 2006. Dez alunos ou ex-alunos o acusaram de assédio e abuso sexual ao
site Intercept Brasil, que publicou reportagem em 3 de dezembro. Dias depois, a
USP abriu sua investigação sobre o caso. A sindicância, concluída no último dia
10, agora aguarda parecer da Procuradoria-Geral da universidade, que pode
iniciar um processo administrativo pela demissão do acusado. A defesa do professor
reclama de ainda não ter sido informada sobre o fim do inquérito contra ele. Antes
mesmo de os casos surgirem, em 30 de novembro, Mascaro publicou uma nota
pública nas redes sociais em que dizia estar sendo "vítima de crime
cibernético, sofrendo um processo de perseguição por pessoas que, se escudando
no aparente anonimato no ambiente virtual desde meados de 2023, vêm buscando
atacá-lo em sua honra". "Tal grupo de pessoas vem perpetrando
acusações inverídicas para ferir sua imagem pública, buscando descredibilizar
suas posições em detrimento do debate aberto acerca de sua luta concreta e de
suas ideias amplamente difundidas por meio de sua vasta obra teórica e luta
política", diz o texto. A defesa do professor informa que foi registrado
um boletim de ocorrência e uma representação criminal para apuração do crime de
perseguição em 20 de novembro e que esse fato será usado como argumento em caso
de confirmação de um processo administrativo. Leia Também: Professor denuncia alunos imigrantes nos EUA.(Fonte
Brasil ao Minuto Notícias)
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