ARTIGO: O crescente poder do
mercado é uma ameaça à recuperação?.
Economistas do FMI debatem como garantir crescimento no pós-crise com
uma regulação eficiente do mercado.
A crise
atingiu mais duramente as pequenas e médias empresas, causando enormes perdas
de emprego e outras consequências
econômicas. Entre estas — não tão perceptível, mas também grave —
está o crescente poder de mercado das empresas dominantes à medida que emergem
ainda mais fortes da crise e os concorrentes de menor porte ficam para trás. Com
base na experiência e em estudos do
FMI, sabemos que a concentração excessiva de poder de mercado nas mãos de umas
poucas empresas pode prejudicar o crescimento a médio prazo, asfixiando a
inovação e retardando o investimento. Esse desfecho poderia enfraquecer a
recuperação após a crise causada pela Covid-19 e bloquearia a ascensão de
muitas empresas emergentes num momento em que seu dinamismo é extremamente
necessário. Criar condições mais equitativas é hoje mais importante do que
nunca. E os governos precisarão
assegurar essas condições numa ampla gama de setores — de destilarias e
hospitais até o mundo digital. Um novo estudo do FMI mostra um movimento
ascendente entre os principais indicadores do poder de mercado: as margens de
preço (ou markups) em relação ao custo marginal ou a
concentração de receitas entre os quatro maiores participantes de um setor.
Estimamos que, devido à pandemia, essa concentração poderia aumentar nas economias avançadas pelo menos tanto
quanto nos primeiro quinze anos deste século. Mesmo nos setores que se
beneficiaram da crise, como o setor digital, os participantes dominantes estão
entre os maiores ganhadores. Uma tendência de décadas
prestes a se agravar? O aumento do poder de mercado em múltiplos
setores decorrente da pandemia agravaria uma
tendência que remonta a mais de quatro décadas. Por exemplo, as margens de
preços mundiais aumentaram mais de 30%, em média, entre as empresas listadas em
bolsa nas economias avançadas desde 1980. E, nos últimos 20 anos, o aumento das
margens no setor digital tem sido duas vezes maior do
que no conjunto da economia. É claro que, historicamente, lucros altos têm sido
a recompensa natural das empresas bem-sucedidas que, graças à inovação,
eficiência e melhor serviço, desbancaram concorrentes já estabelecidos. Pense
em como a Ikea transformou a forma como compramos móveis, ou como a Apple mudou
o mercado de telefones celulares. Recentemente, porém, vemos sinais crescentes
em muitos setores de que o poder de mercado está se
consolidando devido à ausência de concorrentes fortes para
as empresas dominantes. Em diversos setores,
estimamos que as empresas com as maiores margens de preço num determinado ano
(decil superior) têm uma probabilidade de quase 85% de manter essas margens
elevadas no ano seguinte — cerca de 10 pontos percentuais a mais do que durante
o período da “Nova Economia” dos anos 1990. As grandes empresas de tecnologia
são um exemplo claro: as que causaram uma ruptura nos mercados há duas décadas
e desbancaram concorrentes já estabelecidos se tornaram cada vez mais
dominantes e hoje não enfrentam a mesma pressão de novos concorrentes
disruptivos. Os efeitos relacionados à pandemia estão
amplificando forças subjacentes poderosas, como os efeitos de rede e economias
de escala e de escopo. O papel das fusões e aquisições Em
múltiplos setores, observamos uma tendência de queda do dinamismo empresarial.
Pense num jovem fabricante que não consegue ir além de seu mercado local ou
numa startup de
varejo que não pode competir com os preços de um grande rival que vende
temporariamente abaixo do custo para barrar novos concorrentes. Perdem-se oportunidades
em termos de crescimento, geração de empregos e aumento da renda.
Nosso estudo mostra como algumas empresas detêm o poder sobre os salários nos
mercados de trabalho, pagando aos trabalhadores menos do que justifica a sua
produtividade marginal. Um fator que contribui para essas tendências é o
aumento do número de fusões e aquisições, sobretudo por empresas dominantes.
Embora possam resultar na redução de custos e melhoria dos produtos, as fusões
e aquisições também podem enfraquecer os incentivos à inovação e fortalecer a
capacidade de uma empresa de cobrar preços mais altos.( Fonte A Referencia
Noticias Internacional)