Reabertura
das escolas é consenso em debate, mas médicos pedem cautela com momento atual.
Parlamentares relataram aumento da evasão escolar
e dos casos de violência contra crianças enquanto os colégios ficaram fechados Deputados e especialistas em saúde e educação
foram unânimes ao afirmar, nesta segunda-feira (8), que os estabelecimentos de
ensino devem sempre, em qualquer situação, ser os últimos a fechar e os
primeiros a reabrir. Na avaliação deles, isso vale mesmo para cenários de
pandemia, como o atual. “Os números mostram que as crianças são menos afetadas
pelo coronavírus e transmitem menos [a Covid-19]. As escolas, desde que
respeitem os protocolos sanitários, são vistas em muitos países como os lugares
mais seguros”, afirmou a representante da Unicef–Brasil, Florence Bauer, que
participou, por videoconferência, de debate na Câmara dos Deputados sobre o
retorno das aulas presenciais no País. Segundo Bauer, enquanto na média mundial
as crianças ficaram, desde o início da pandemia, 22 semanas fora da escola, no
Brasil, estima-se um período superior a um ano (52 semanas). “Temos evidências
que mostram que não houve aumento da transmissão do vírus de aluno para aluno,
de aluno para adultos e que não tem correlação entre a reabertura das escolas e
o aumento de casos de Covid-19 na comunidade”, disse. Além do impacto na
aprendizagem, considerando o aumento da evasão escolar no período – de 1,2
milhão de estudantes para cerca de 5,5 milhões hoje – o fechamento das escolas,
de acordo com ela, tem impacto na nutrição, na saúde e na segurança de crianças
e adolescentes, sobretudo as mais vulneráveis.Atividade essencial
O ponto central do debate, promovido pela Comissão Externa de Políticas
para a Primeira Infância e a Frente Parlamentar da
Educação, foi o Projeto de Lei 5594/20, das deputadas Adriana Ventura (Novo-SP),
Paula Belmonte
(Cidadania-DF) e Aline
Sleutjes (PSL-PR). O texto inclui a educação no rol de atividades
essenciais durante a pandemia de Covid-19. Paula Belmonte, que presidiu a
reunião, informou que a proposta já conta com assinaturas suficientes para que
um pedido de urgência seja apresentado ao
Plenário. Para Adriana Ventura, a situação dos alunos pobres é a mais crítica,
uma vez que o isolamento forçado pode representar uma maior exposição a
situações de risco, como a violência doméstica. “Crianças extremamente pobres
ou vão para rua ou ficam em um quarto com mais 12”, disse. “Não é só por tudo
que representa uma escola ou uma creche aberta, mas pela questão da
alimentação, do estímulo ao aprendizado e de um ambiente seguro.” Secretário de
Educação do Estado de São Paulo, Rossieli Soares da Silva informou que, desde
dezembro do ano passado, o governo paulista já considera a educação como
atividade essencial, não podendo ser interrompida mesmo durante os períodos
mais críticos da pandemia. Atualmente, com o número de casos em alta no estado,
as instituições de ensino estão autorizadas a funcionar com até 35% das
matrículas no modelo presencial. “A escola tem de ficar aberta, há alunos que
não têm o que comer em casa. Sou um defensor do uso de tecnologias, mas tem
gente que não consegue apreender no método online. Escola não é local de
transmissão, é um ambiente controlado. Sabemos quem entra e quem sai”,
argumentou Silva.Aline Sleutjes relatou o aumento de 64% nos caos de violência
contra crianças durante o período de fechamento das escolas. “Os conselhos
tutelares estão de cabelo em pé. Muitas crianças sendo abusadas, violentadas”,
declarou a deputada. “Temos dados e informações que nos permitem saber que a
escola não é lugar de risco, é um lugar seguro”, acrescentou. Colapso
na saúde Apesar de também considerar a volta às aulas uma prioridade,
o presidente da sociedade pediátrica do Distrito Federal, Denis Alexander,
ponderou que a reabertura das escolas deve levar em consideração o cenário
epidemiológico de cada localidade. “Provavelmente, o ambiente da escola vai ser
muito mais seguro para muitas crianças. A abertura é imperativa”, comentou.
Alexander, no entanto, ressaltou que a reabertura dos colégios não pode
desconsiderar o colapso dos sistemas de saúde de algumas cidades. “Os hospitais
estão cheios aqui no DF, com quase 100% de ocupação, se tivermos necessidade de
internação, vamos ter problemas sérios”, alertou. Diretora da sociedade
pediátrica do DF, a médica Andreia Jacomo confirmou que o fechamento de escolas
cria uma série de complicações para muitas crianças, porém reforçou o pedido de
atenção dos parlamentares quanto ao momento exato de decidir pela reabertura.
“Estamos em pleno colapso do sistema da saúde. Não há mais leitos para o
tratamento da Covid-19 em hospitais de diversas cidades”, ressaltou. Ela também
reforçou o entendimento de que crianças e adolescentes, embora quase sempre
apresentem sintomas levas da doença, podem igualmente transmiti-la. “A grande
encrenca da Covid-19 é que os assintomáticos a transmitem. Por isso, devemos
garantir que todos usem máscaras, exatamente para evitar transmissões entre os
assintomáticos.”(Fonte: Agência Câmara de Notícias).Reportagem – Murilo
Souza Edição – Marcelo Oliveira